«Sempre que o vejo dou-lhe moedas. É um ritual: pergunta-me se tenho um cafezinho, respondo-lhe que sim. Deixou de me agradecer. Há tempo que não o faz, é coisa mecânica, melhor assim – bebe o seu café, fuma o seu cigarro e eu lavo um cantinho de alma. Em dia de milhões pedintes acantonam-se às portas do jogo, sobretudo se no menu estiver um jackpot. Esmolas dadas por quem pede uma esmola maior. A lei da retribuição, consequência da consequência, dá-se para se receber em dobro, um investimento. Oferece-se uma moeda em troca do prolongamento de um desejo, não é um mau negócio. Fazer o Bem sem nada em troca é um campo para eleitos, apenas para uns poucos… gente de asas invisíveis, já não são daqui. A maioria de nós, mesmo os bons, grita por atenção e por um olhar que comprove o quanto valemos a pena.» Luís Osório
Sempre fomos mais os outros que nós próprios! Quem se esquece disso nunca será a boa moeda que afasta também ela a má moeda. Tudo uma questão de trocos e de dar visibilidade às nossas asas de anjos. É que elas estão lá, mas precisam de um sopro de alma!
Já te esqueci.
Foste como uma primavera árabe
Um vento do deserto
Que assobiou
Bem a meu lado.
Já te esqueci.
E repousas agora
De páginas abertas
E de letras às avessas
No meu caderno diário
Como um dos meus
Mais difíceis
Estudos de Caso.
Já te esqueci.
Como uma aurora esperada
Que não chegou a acontecer.
Já te esqueci.
Repousa lá agora
Intocada,
No interior das minhas letras.
E a minha contemplação,
É apenas um exercício diário
Repleto
Da compreensão
Das tuas faltas.
E, no entanto,
Podia ter sido
De outro modo
Se não te enganasses
Sem pudor
A cada passo.
Se entreviesses
Que recebe
Só quem dá
Com essa dádiva
Do céu
De só sermos nósSendo os outros.
De outro modo,
Somos pássaros
Enganados
Saltando
Entre a ramagem
Tropeçando
Em galhos
Enganados
Saltando
Entre a ramagem
Tropeçando
Em galhos
Frágeis,
Que se partem
A cada chegada
E a cada percurso
De um novo voo.
PAS
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