Citações:

Sem o direito natural não há Estado de direito. Pois a submissão do Estado à ordem jurídica, com a garantia dos direitos humanos, só é verdadeiramente eficaz reconhecendo-se um critério objetivo de justiça, que transcende o direito positivo e do qual este depende. Ou a razão do direito e da justiça reside num princípio superior à votante dos legisladores e decorrente da própria natureza, ou a ordem jurídica é simplesmente expressão da força social dominante
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

A Economia das Palavras

Como gestor sempre fui adepto do «mais é menos». Mas como autor a viver há longos anos debaixo de água tentando adaptar as guelras para vir à tona para respirar um outro ar, tenho sempre dentro de mim a mensagem do inspirar, expirar, numa espécie de sinónimo de depurar, depurar... e as moléculas de água sempre me parecem infinitas.
A «economia da história» está assim em mim presente mais como um resultado de uma actividade profissional onde a economia é mais um conceito orçamental de denominadas boas práticas, que hoje se resumem quase e tão só a downsizings que se parecem restringir mais a núcleos desprovidos de outro tipo de corpos cavernosos.
Mas à economia das estórias sempre disse não, ou não tivesse na minha juventude sido leitor desse Livro Grande de Tebas, Navio e Mariana, do MC, que ampliava a minha imaginação e me fazia só pelo título fazer subir o Nilo numa faluca à procura da minha Cleópatra. Já naquele tempo era uma sorte de Osíris a julgar os mortos na «sala das duas verdades». Hoje sei que nunca são apenas duas, as verdades distenderam-se para além do inacreditável, como a água que se distende quando apertada entre dois dedos. E não me basta conhecer Tebas, olhar o cavername do navio ou desposar Mariana. Preciso de viver em constante psicostasia, colocado num prato remoendo as minhas quarenta e duas declarações de inocência. E é assim que menos será sempre mais. Porque mais é tudo o que a vista ou a mente não alcança, mas nos dá uma enorme sensação, inexplicável, de prazer, paz e felicidade.
Será que «Obsessão» vive dessa economia da escrita?

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«Quando o relógio tocou uma hora mais, eu, Valente, tirei novamente umas folhas brancas: agora de dentro de uma mica, nome estranho para aqueles classificadores de plástico que tanto protegem o fruto das árvores como as asfixiam.
Agora era uma carta com várias folhas. Esta escrita à mão, como se a raiva nela contida necessitasse de menos tempo para ser aposta numa folha de papel. A impressão forçada de teclas diminuiria a raiva e falsearia a carta. Lembrei-me daquele escrito, «como se chamava?», o Ferreira, Vergílio de nome próprio, que forrara muitos troncos de árvore com as suas “Cartas a Nora”… Não! Esse era do Joyce! As de que me lembrava eram as “Cartas a Sandra”, uma morta que em vida não lhe largava por nada o alpendre. Mas a culpa, sabia-o, era sua, porque não a deixava partir definitivamente lá onde o sol se põe e a vida se renova.
Dizia a primeira destas novas cartas:
«Sónia, não sei se te recordas daquele dia em que te chamaram Reiki? Reiki, nome de deusa nórdica; Reiki, nome de guerreira; Reiki, nome de feiticeira, daquelas que nos fazem sonhar, armadas de uns calções que lhes marcam os lábios e as profundezas, daquelas que vomitam fora dos sutiãs dourados volúpia e prazer, daquelas que trazem um chicote pendurado e uma coleira e correntes para amordaçar, sonhos molhados, que nos enfeitiçam com dois dedos húmidos abertos passados lentamente pelos lábios. Eu estava atento, como estou todos os dias e procurava decifrar o mistério contido em ti.»
© OBSESSÃO de Pedro A. Sande

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Obsessão

E está lançado o Obsessão.
Trailer 2
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segunda-feira, 18 de novembro de 2013

A Escrita e o Leitor

Num mundo em que está tudo dito de uma forma que extravasa muito as palavras (as imagens hoje substituem sem esforço o descritivo), só a criação de charadas (aquilo que alguns chamam de dramatização) será capaz, talvez, de dar oxigénio à forma escrita e literária. O excesso de intimismo, de pessoalismo, como forma mais individualista, são imagens com pouca nitidez, variedade, regularidades que os olhos captam, por excesso, cada vez menos. O leitor quer cada vez mais colocar-se ele próprio como o protagonista da sua leitura ficcionada.

sábado, 16 de novembro de 2013

Escolhas

A primeira vez que li Saramago, era ainda jovem, não tendo conseguido terminar o seu «Levantado do Chão.»
A minha formação de leitura tinha sido feita num grande ecletismo, baseada em historiadores, ensaístas, clássicos… desde a pura ficção até ao romance histórico, que devorava, desde Alexis e León Tolstoi, a Tchekhov, Dostoiévski, Hugo, Voltaire, Stendhal, Shakespeare, Flaubert, Balzac, Dumas, Dickens, Cooper, Hemingway, ...
Se Russos, Franceses, Ingleses e Americanos acompanharam essa minha primeira fase, à mistura com nomes como Jean Lartéguy, Irving Wallace, Huxley, Simonov, Sartre, Beauvoir, H. H. Kirst, Grossman, Jorge Luís Borges, Jorge Amaro, Kafka, Eco, Camus, Kundera e tantos outros, parecia não haver lugar para Saramago, destronado por Eça, Pessoa, Garret, Almada Negreiros, Vergílio Ferreira, Aquilino, Júlio Dinis, Herculano, Cardoso Pires, Manuel da Fonseca, Ferreira de Castro, Lobo Antunes, Bernardo Santareno, Branquinho da Fonseca, Mário de Carvalho e tantos, tantos outros… como António Sérgio, Vitorino Magalhães Godinho…
E isto para não falar nos grandes poetas como Junqueiro, Camões, Torga, Andrade, Sofia de Melo B.
Saramago era a minha pedra no sapato… como Camilo sempre foi, e ainda é, por mim um mal-amado.Um dia terei de o passar a pente fino, dando-lhe tempo de qualidade de leitura.
Logo após a sua consagração como Nobel, "peguei" novamente nas obras de José. E o que "vi" então, a partir do «Memorial do Convento», ultrapassada a sua estranha forma inicial de escrita (mais do quem dilentantismo, quase uma experiência de concentração e embelezamento do texto), as suas primeiras cinco páginas, foi um extraordinário escritor, um esforçado e verdadeiro trabalhador da escrita, culto, perfeccionista, onde cada palavra está isenta de crítica, repetição, escolhida a dedo como as melhores iguarias.
E hoje se tivesse de escolher alguns nomes da literatura mundial e nacional de todos os tempos (e como isso é ingrato, já que ficam sempre esquecidos outros nomes e outras paixões do seu tempo próprio, bem como a impossibilidade humana de tudo e a todos conhecermos), colocava Saramago no “meu Panteão estendido” de Pessoa, Eça, Herculano, Cardoso Pires, Truman Capote, Proust, Sartre, Vítor Hugo… PAS

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Máquina De Sonhos

Sempre vi a literatura como uma máquina de sonhos.
E se viver é bom, sonhar é melhor, porque acrescenta vida à vida.
Com o advento da televisão, os sonhos passaram a ser cada vez mais curtos. O mundo digital, os videojogos, onde sonhamos a comprimento, altura, e a que falta o terceiro plano da nossa infância, deram-lhe até outra duração ainda mais instantânea.
Assim, os sonhos encurtaram.
E à livralhada que se dividia em informativa ou literária, acrescentou-se uma nova grandeza: o meio-sonho … ou sono… que é uma espécie de descritivo de vida, nem meio adormecida nem meio desperta. Assim, uma espécie que alguns identificam como pesadelo, outros, apenas um estado de semi-adormecimento ou semi-vígilia , que nalguns casos nos pode transformar em garotas de programa, noutras em sonâmbulas perigosas, noutros, ainda, em inocuidades que anulam como as bases a acidez do caminho. 
PAS

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Apresentações

Ah, ah, ah! É capaz de andar lá perto, Severino. Muito bom este texto da Rosário que preenche mais um vazio nesta coisa da experiência do convívio com os livros.
Reconheçamos que entre estar a escrever um livro e a sumariar o livro, a primeira opção, leia-se invenção, é a que mais me agrada. O autor que odeia lançamentos lá terá as suas boas razões e possivelmente algumas bem substantivas que por certo partilharia.
No actual momento do país uma tal tribuna seria, para quem me quisesse ler, um verdadeiro tormento. Pois não lhes daria nem com o sumo, nem com um guardanapinho de papel (afinal os leitores se compram livros tem o direito, inalienável, de os poderem ler no recato do lar… sem serem defenestrados por autores que quase sempre são maus actores ou bichos de secretária).
Claro que usar verdadeiros animadores, ou mesmo passar por uma loja de máscaras e aparecer vestido de Zorro, Obélix, Lucky Luke ou de incrível Hulk , isso agradava-me. Ou mesmo, já que hoje em dia a diferença entre humanos e animais é nenhuma, sei lá, à Jolly Jumper , já que podia entrar sempre aos relinchos quando a voz me faltasse. Bem como satisfazia-me um chazinho e umas bolachinhas, daquelas de canela ou de areia tão ao gosto das ceias da avozinha dos meus tempos de infância, que as tinha diariamente em saquinhos, da padaria da esquina ao Salitre, seguido de um chá dançante e daquelas danças Cossacas tipo Kasatchok . E a fingir que ainda tinha os meus treze anos, ganhando coragem para convidar para dançar a mais loura do baile (e se naquele tempo as louras não eram mesmo louras, e os homens não eram mesmo morenos até morrer!), ao arcaico mas estimulante som do je t’aime … moi non plus ».
No meio disto, no entanto, sinto-me um raio de privilegiado. Nunca tive de passar por tal tortura, embora a altura se aproxime e já tenha preparado uma diatribe (ou um agradecimento) para quem fez de mim um exemplo de oportunidade a tempo inteiro… e siga a música: Ras , Dwa , Tri / C'est l'hiver qui frappe à notre porte / Mes amis , allumons un bon feu / C'est l'hiver , que le diable .

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Canção Do Mercado Interno


E o arquitecto não arquitecta?
Não porque não se constroem casas!
E o dentista não broca os dentes?
Não porque há quem já nem mastigue!
E os transportadores não transportam?
Não, porque fica-se em casa... anda-se a pé!
E o estofador, não estofa?
Não, porque agora não se mobila!
E o veterinário não vacina!
Não porque os animais são abatidos!
E o PT não muscula?
Não, porque já não há gorduras!
E as p. já não deputam?
Não, porque a libido definhou!
E o comunicador já não comunica?
Não, porque a mensagem vai via CTT!
E o vendedor não vende?
Não, porque se acabou o papel!
E o professor já não professa?
Não, porque o profe sobre de bullying!
E o fiscal já não fiscaliza?
Não, porque restaram apenas as sanitas!
E o polícia já não policia?
Não, porque lhes faltou gasolina!
E o poeta já não poetisa?
Não, porque lhe mataram os sonhos!
E o pintor já não pinta?
Não, porque lhes cobram os murais!
E o escritor já não escreve!
Não porque se acabou o leitor!
E o banqueiro já não se banqueteia?
Não porque se acabaram os depósitos!
...
E o português ainda vive e respira?
Não, porque o esbulham todos os dias! 
E o político ainda politica?
Sim, esse não só parasita como inferniza!  
PAS