«Quando largou o Decameron de Boccacio sentia-se
fortalecido. Estava capaz de enfrentar o mundo. Sentia-se mudado, capaz de
pelejar como o Ulisses de Dante, de namorar como Boccacio, liderar como Cooper,
flirtar como Balzac, vestir-se como Tolstoi, separar-se em quatro como Pessoa.
Torna-te diferente mudando de cara como quem muda
de cachimbo, de camisola, de cenário. A mudança que se operava em si era
estranha, tanto as unhas cresciam, como a pele esticava, engelhava-se-lhe a
pele, cresciam-lhe os pelos, metamorfeava-se-lhe até o sexo. E às vezes
gostava, outras vezes não.
"Nós somos o que fazemos. O que não se faz não existe. Portanto, só existimos quando fazemos. Nos dias que não fazemos, apenas duramos." (Padre António Vieira), dizia o padre à sua beira.
E não é tão bom, ó padre,
apenas durarmos? Queria que eu fizesse o quê? Um casaco de croché?»
PAS
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