Citações:

Sem o direito natural não há Estado de direito. Pois a submissão do Estado à ordem jurídica, com a garantia dos direitos humanos, só é verdadeiramente eficaz reconhecendo-se um critério objetivo de justiça, que transcende o direito positivo e do qual este depende. Ou a razão do direito e da justiça reside num princípio superior à votante dos legisladores e decorrente da própria natureza, ou a ordem jurídica é simplesmente expressão da força social dominante
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

As Primeiras Cinco Páginas

Por mais que nos julguemos super-homens do intuitivo, adjectivar, "adverbializar", modificar, sonorizar como ave canora, travessando, ponto virgulando - com fidúcia e expressão da contenção -, "similando", "analogando", "metaforando", com esse mesmo rigor que devemos colocar numa panela de onde emanam cheiros inebriadores de vocabulários gordos, aprende-se, apreende-se, como se à capa do super-homem tivéssemos de lhe acrescentar a "intuição" da aprendizagem de voos mais longos e altos.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

A ESCRITA A QUEM A TRABALHA

Bem verdade o que a Cristina assinala: «Tornar aquilo que escrevem compreensível, assimilável, aceitável por parte de quem lê...». O que não é a mesma coisa de se ter de escrever fácil, directo, necessariamente compreensível ou destapando sombras ou nevoeiros... explícitos.
A escrita pode ser simples ou complexa. Pode contar uma história ou contar histórias de histórias. Pode ser descritiva ou reflexiva. E quando é reflexiva tantas vezes é ela terrivelmente complexa, hermética, como florestas espessas, por que extraídas do universo do autor. Que sentido universal tem a afirmação da Isabel Catalão? Poder-se-á generalizar? Não poderá ele ser confundido com a necessidade da escrita ter de ser necessariamente simples? Não poderá a escrita ser apenas compreensível, assimilável, para poucos? «Esse trabalho não acontece com todos os escritores...»
Será que o autor não poderá também dar-se ao luxo de fechando os olhos navegar no seu próprio mundo, construindo mundos e horizontes complexos, estradas poéticas, charadas onde escritores se perdem - por que distantes dos seus?
Mas, sim, tem razão a Cristina ao afirmar que a escrita tem de ser aceitável para quem lê. Mas que nunca se extrapole e diga de escritas, como a de Lobo Antunes, que elas são incompreensíveis para os leitores, elitistas, porque aos leitores também se exige que se embrenhem em florestas de letras para abrirem clareiras, caminhos. À escrita até lhe dou o benefício da musicalidade, sem lhe perceber o conteúdo de mundos que desconheço.
© PAS

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

RAUL BRANDÃO DE UM A CINCO!

Raul Brandão V
«As mesmas acções, as mesmas cores, direis vós... Cá fora é certo, mas dentro o cenário muda: o cenário está em brasa. Queres ser rei? Queres vingar-te?... Sonha!»

Raul Brandão IV
«Quando se morre, o que se debate ainda dentro de nós com fúria — é a quimera. O que me custa a deixar não é o corpo, é a alma inquieta. Com a morte agarrada a mim, porque é que cravo as unhas na vida, raivosamente? Porque quero sonhar, tirar das coisas, das árvores, da luz, das flores, materiais para ilusões. Ao que cada um se prende é às suas aspirações, às suas penas e não à matéria e ao corpo!... »
 
Raul Brandão III
«Vêem um imaginativo que entra na vida? E um jovem inteligente, tendo sobre a existência ideias lidas. A sua sensibilidade exaspera-se ao primeiro contacto com o mundo. Cheio de entusiasmo, talha uma vida de romance. Em breve, porém, encontra tropeços: a cada passo a alma se lhe magoa e todas as brutalidades o ferem. É que ele não viu que, ao lado da vida sonhada, é preciso viver uma outra vida dura, de todos os dias. Repugna? É necessário, porém, a gente afazer-se, esmagar toda a piedade e afeição, para não ser despedaçado. Quantos chegam a velhos a tal ponto vivem na mentira, acreditando que amaram, que souberam dedicar-se e que na vida se pode ser bom? Se procurarem bem no fundo da alma, esmiuçado cada um desses sentimentos, encontra-se apenas o egoísmo descarnado e duro...»

Raul Brandão II
«Aos que se alimentam de sonho chega o momento em que não podem viver. A realidade não perde os seus direitos. Raia o dia em que se impõe por força e então o sonhador é colhido e triturado por a ter esquecido. E o ponto trágico em que reconhece com espanto que não pode viver — que não sabe viver, e procura a morte, não para se aniquilar, mas como quem busca um sonho maior, um sonho sem contrariedades e de que se possa à vontade fartar.»

Raul Brandão I
«O que em nós vai secando pela vida fora está tão sensível que magoa tocar-lhe.
Todos somos poetas, todos vivemos num estonteamento que se parece com o amor. Todos os dias são de primavera. Ainda que o casaco esteja no fio, a gente não sabe que mudaram as estações, e a existência, mesmo numa mansarda, é uma festa perpétua.»

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

SINÓNIMOS

Nem sempre o tempo curto é sinónimo de menos. 
As recordações, as memórias, mesmo as breves, sim, 
essas são universos estendidos do menos, seus antónimos, 
estrelas tão brilhantes que sempre brilharão no céu.