Citações:

Sem o direito natural não há Estado de direito. Pois a submissão do Estado à ordem jurídica, com a garantia dos direitos humanos, só é verdadeiramente eficaz reconhecendo-se um critério objetivo de justiça, que transcende o direito positivo e do qual este depende. Ou a razão do direito e da justiça reside num princípio superior à votante dos legisladores e decorrente da própria natureza, ou a ordem jurídica é simplesmente expressão da força social dominante
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)

sábado, 30 de junho de 2012

Neste Mundo Damos Aos Rostos a Dimensão E Forma Que Queremos

Todos nós vivemos em dimensões que nos são próprias.
Descobri hoje uma poetisa que tem a dimensão
de Melo Breyner.
Nela encontrei a dimensão perfeita que alcançam os meus olhos.
A dimensão da poetisa e do poeta,
dessas pobres criaturas que vivem em dois mundos:
um, simples, mas rude, tão vazio de impressões;
outro, complicado, mas afável, tão cheio de ilusões.

Descobri-a através do olho dos poemas,
desses fala baratos que apresentam
a meteorologia da alma,
e desvendam mistérios e tempestades perfeitas.
E como é revelador este um,
dentro muito outros de outro mundo,
este poema incógnito de nome interdito:

«Quantas pessoas caminham na
minha direcção? Quantas me
descobrem por entre a multidão
e pousam os seus olhos inteiros
nos meus olhos? Podia acreditar

que entre eles está o homem que 
trocaria comigo os dedos sobre a 
mesa, uma palavra que fosse gomo
de laranja e poema, o corpo acesso

sob o lençol cansado de mais um
dia. Mas quantos destes rostos de
pedra que me cercam escondem o
seu pelas ruas desta tarde? Quantos
nomes de acaso e de silêncio terei
eu de escutar para descobrir o seu

no meu ouvido? Quantas pessoas
caminham contra mim?»
(MRP; Nenhum Nome Depois; 2004)  



sexta-feira, 29 de junho de 2012

O Hóspede de Job

José Cardoso Pires, um dos meus autores preferidos de língua Portuguesa, actualmente de braço dado com Saramago e Mia Couto.
Alexandre Pinheiro Torres e Cruz Liberto analisam a fluída escrita de O Hóspede de Job.

E analisam-na bem, segundo o que me foi dado ler.

 "Em O Hóspede de Job - cujo título certeiro nos põe de sobreaviso - um estrangeiro, Gallagher, representante de uma grande potência, instala-se como visita, na terra de Job. Especialista de armamento e de guerras, traz consigo a arrogância e a luta. E, ao abandonar a terra de Job, levará como presente a dor dos camponeses. Não lhes podendo roubar a comida, por não a haver, tenta comer-lhes os próprios corpos. João Portela será um símbolo dessa destruição estrangeira. Entretanto, mercê de vários pequenos filmes, o clima da terra visitada por Gallagher vai-nos sendo revelado. O desajuste entre o poderio de Gallagher e a fraqueza do bando de garotos é menos notório se verificarmos que existe desproporção semelhante entre as mulheres de Cimadas e os representantes da ordem. Opondo a força à razão, a petulância à miséria, a malvadez à ingenuidade, o romancista não só cria uma ambiência como separa e distingue os seus comparsas.
O meio dos militares, de Leandro e dos camponeses, são também aflorados pelo que podemos constatar nada estar ausente da terra onde o capitão estrangeiro ensaia as suas máquinas de guerra.
Contando diversas histórias, alongando-se em várias considerações e inventando frases de personagens principais, José Cardoso Pires parece querer dizer-nos que os hóspedes deste tipo só podem ter acolhimento em ambivalências deste género."
CRUZ, Liberto, Análise crítica e selecção de textos, 1.ª edição, Lisboa, Arcádia, 1972, pp. 35-36

"Hóspede de Job... Para principiar o título implica, em si mesmo, uma contradição irónica nos termos por que se define: Job, figura extrema da pobreza, recebendo e sustentando um hóspede rico (o capitão Gallagher). Nos dois elementos em equação encerra-se, com evidência imediata, um sentido simbólico bem preciso.
Mas quais as relações que se estabelecem entre as duas personagens? Pertencem eles aos mesmos mundos? Que interesses representam e que forças os mantêm em contacto? Outras perguntas se podem fazer e é de supor que as respostas que se lhes dêem ultrapassem uma determinada situação concreta, localizada e datada. As perguntas como as respostas talvez encerrem uma mensagem mais vasta, mais «extemporal» e, assim, poder-se-á justificar a preocupação de Cardoso Pires de, muito especialmente com este romance, transcender o significado real dos factos. O recorte por vezes sentencioso da expressão literária, o tom de saga popular que imprimiu à narrativa e, por fim, a medida, propositadamente ambígua, de tempo e espaço em que se vai «deslocando» não têm outro objectivo do que conferir às figuras e aos acontecimentos uma ampla dimensão de exemplaridade, projectando-os para lá do imediatismo e das circunstâncias em que se nos apresentam. Como assinalou um crítico italiano (Giuseppe Bartini, Avanti, 14-1-64) ao comentar este romance, o objectivo de Cardoso Pires parece ser o de «elevar às regiões do mito a casual crónica do quotidiano».(...)
Quem é o Hóspede? Gallagher, representante de uma grande potência militar, um guerreiro aureolado pelo prestígio da experiência das verdadeiras atalhas e que passeia a sua opulência no terreno dos hospedeiros. A festa é, em última análise, suportada por toda a massa anónima que se agita e em pano de fundo, gente mísera e esfarrapada que o olha com estranheza, admiração e hostilidade e cuja síntese se corporiza na imagem bíblica de Job."
PIRES, José Cardoso, O Anjo Ancorado, 3.ª edição, com um estudo sobre o autor de Alexandre Pinheiro Torres, Lisboa, Moraes Editores, 1964, 218 p., pp. 167-169

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Memórias de Um Defunto


...
Odeia quem trás a bandeira bem desfraldada da iniquidade, da desigualdade, do desemprego.
Odeia tanto que se torna ele próprio fonte de ódio. Um semeador. O homem estava caído no chão e agarrava com as duas mãos a terra. E chorava a dois olhos também, abrindo um sulco na terra, como se estivesse a abrir um caminho para um rio.
«Chegou há pouco, vê-se! E ainda chora por ter deixado tudo o que pensava importante na terra!»
«É. Pobre coitado!»
«Enganam-se, minhas senhoras. Está mas é o pobre coitado bêbado que nem um cacho!»
«E quem é o senhor?»
«Ninguém, minha senhora, ninguém!»
«Ah, bem me parecia», responderam as duas enquanto se afastavam, escandalizadas por terem sido interrompidas, enquanto o homem escondido pelo hábito, olho claro e barba abundante ruiva se quedava entreolhado com tanta falta de respeito.
«Cuidado», gritou de repente, uma voz.
Todos se baixaram tentando proteger-se dos dejectos e imundices que parecia chuva e alimentava os perros.
...

De Mais, O Mais!

Se sentires os livros
Como um pedaço amorfo de papel,
Os livros serão apenas árvores a quem se tira vida.
Mas se os sentires como gavetas do teu cérebro,
Os livros serão bonitos enxertos de pele.
Logo, porque à pele se pedem cuidados,
Os livros nunca serão demais!

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Des Ilusão

Soube hoje que dificilmente me apalparei 
despejado numa árvore a quem tiraram o caule.
Soube hoje que ficarei para sempre despojado
embora eternamente admirado, por um lugar,
a que não poderei almejar.
Não faz mal!
Afinal que sentido é este de nos querermos entregar
de corpo e alma a quem só nos quer coloridos
quando ornamentados de prata?
A plata do meu amigo suíço, Patrick,
que a todo o momento me perguntava: 
mira, tu tens plata?,
e que cegava, como um despojado da vida,
pelo danado do vil metal.
 

Verão Quente



Ele há Verões quentes, ou melhor, parece que os havia. 
O escritor de Quando Salazar Dormia, Domingos Amaral,  dá-nos, entretanto, um novo Verão Quente para que não nos esqueçamos dos outros e do outro, aquele que para o mal ou para o bem, transformou a nossa vida. 

quarta-feira, 20 de junho de 2012

A CASA SARAMAGO

Olha, Pilar, o som do elefante
Que ribomba a cada nova passada,
Levado por uma forte levada
Que passa por ti a jusante.

Sou eu ao colo do Solimão
Apeado o bom do cornaca,
A quem até a sagrada vaca
Faz genuflexório no chão.

Encosta o teu ouvido bem perto
Da oliveira, que julgaste cipreste,
Que as cinzas que semeaste
São um retorno bem lesto.

Olha, Pilar, olha bem!
Se pensam que te abandonei
Nem sonham o amor, que te dei,
Agora que pouco mais valho, que moeda de vintém.

….

E é por isso que há quem ache,
Que eu serralheiro, Saramago,
Não passo de um José aziago
Mal comparado, com um traste.

PAS

PILAR E EU

«... amo-te Pilar eternamente até às lágrimas que me escorrem como caudais deste poeta que te ama e que vive tão só debaixo desta carapaça desta amálgama sim desta árvore agora sim que dá pelo nome de azinheira onde uma pedra guardará as minhas cinzas mesmo que elas se confundam com o sofrimento da terra. O meu nome é Saramago e em meu nome direi que esta é a minha vida e aqui estarei  firme vogando por esta jangada como um elefante debaixo de um memorial que é o meu a alimentar a polémica neste ano e nos demais que hão-de vir depois da minha morte até te juntares a mim Pilar debaixo da pedra desta azinheira...»

sábado, 16 de junho de 2012

O ESCRITOR MARKETEER

Dizem que o Chagas é um escritor.  
Escreve o Chagas com a rapidez própria de um galo corredor. 
Bip - bip, road - runner, papa - léguas, ata, desata, amarrota e  desata a escrever, como se escrever fosse um acto banal, como se recolhesse as palavras guardadas debaixo dos tapetes e as atirasse ao vento.
O Chagas, chaga as letras! Desrespeita-as, faz delas piaçaba, vulgariza-as, expõe-as ao ridículo, esgota-as! Faz da escrita uma fotonovela sem fotos, o dia uma crónica em contínuo, como se a escrita não pudesse ser feita pausadamente, aos pedaços. 
Mas o Chagas tem graça!
E pela graça que tem, acho que o Chagas não é um escritor, é um danado de um Marketter. E dos bons! 
Não se lhe chame é escritor, dirão alguns, porque o escritor não é um  cronista de não senso de segundos e minutos e muito menos um papa-léguas!
Será que não é?


sexta-feira, 15 de junho de 2012

Memórias


«Esta era a hora mais apropriada para coleccionar os seus poemas, fazendo jus à pena da galhofa e à tinta da melancolia de Brás Cubas, filho de Assis. Assis, o Brasileiro, que haveria de nascer à data do seu descanso, que não da sua morte já que esta lhe era posterior. E de quem se lembrava das vezes que lhe dava para acordar com a voz de quem o declamava, embora para ele qualquer hora fosse boa para declamar poemas».  

quinta-feira, 14 de junho de 2012

De A a B!

Todos os que se divorciam um pouco do mundo mensurável têm a grata felicidade de reconhecer essa incompreensão inteligente, que mais que incompreensão pode ser poema. Chamando-me a atenção para os Amigos do Livro, como podia ter-me chamado a atenção o olho do sapo, ou o redondo dos relógios das horas extraordinárias, está lá a Origem Das Espécies, como a Volta do Parafuso, o coração duplo, a Livreira Anarquista, os Livros Ardem Mal, etc, etc...
Ontem tentei unir-me um pouco ao mundo, unindo com corda nos sapatos pontos da minha cidade. No Jardim Botânico encontrei-me com essa incompreensão inteligente de me sonhar a afagar as raízes de um figueira estranguladora, bem como a abrigar-me num dragoeiro que mais que fogo, expelia recato e afago debaixo de um enorme chapéu de largas abas; nas ruínas do Convento do Carmo abandonei-me aos tremores e temores dessa Lisboa temerosa setecentista, entremeando os gritos do povo amedrontado com os gritos e uivos à liberdade desse salgueiro que desceu à cidade; no justo elevador, sentei-me e fechando e entreabrindo os olhos, senti a alvura da minha cidade, a minha cidade branca; na Sé, senti-me dono de uma Lisboa medieval, reverente à Europa Christiana, embora sentisse o peso dessa espada dos justos; na rua, um fugidio encontro feito só de Se Bem Me Lembro, com o não lógico Condessa - o tal que diz que a lógica leva-te de A a B, a imaginação a qualquer lugar; naquela rua, envelhecida, de S. Catarina, olhei e vi-te à janela, sabendo que ali tinhas adormecido para a vida para a recomeçares, fraco putanheiro para tão grande versejador que tu és, ò Manoel. 
Perceberam alguma coisa? Talvez não! Mas soube-me muito bem esta minha incompreendida caminhada de A a B!

Raiz de Elefante

Ontem visitei a Casa Dos Bicos, onde me senti em casa. Mas essa casa não é tua, dirão alguns. Pronto engano, já que na casa dos Bicos senti-me assíduo companheiro de um irmão de armas.
E que armas são essas que terçaste com um amigo, perguntar-me-ão, com a ilusão de me terem apanhado em falta, ou com a quase certeza de uma fanfarronice que raia a fronteira de um pobre ilusionista de palavras.
Respondi-lhes com uma frase emprestada e tomada de um amigo cornaca, amigo comum de Saramago e de Solimão, o Salomão de quatro patas.
«Em um elefante há dois elefantes, um que aprende o que se lhe ensina e outro que persistirá em ignorar tudo».
Obrigado amigo Saramago, beijo por ti o teu amor, na face, Pilar.

Nascemos Néscios, Mas Cedo Recobramos

Em tudo que nascemos
há um tormento
que nos acompanha.
Porque nascemos néscios
de quase tudo,
indiferentes a que a 
maldade nos possa acompanhar.
Como se cada homem e mulher
com que nos cruzamos
não fosse um ponto de inverdade,
interrogação dos nossos momentos, 
tempos nebulosos
de outros tempos. 
E os nossos corpos nus,
virgens de marcas,
são recordações do passado...
Em tudo que nascemos
há uma árvore,
em cujas raízes queremos descansar,
como se feitas de um abraço
que nos sossega 
e nos faz descansar 
aquele ser misterioso
a quem chamamos de alma.

terça-feira, 12 de junho de 2012

A Viagem Do Elefante

Acabei de ler A Viagem do Elefante de Saramago. Gostei, como gosto em geral de tudo o que Saramago escreve. Escreve, bem entendido, porque Saramago é imorredoiro. 
Podia Saramago não ter escrito um livro que para mim seria na mesma imorredoiro. Bastava a cumplicidade e o carinho de Saramago com Pilar e de Pilar com Saramago para Saramago ser imorredoiro.
Gostei, assim, da Viagem do Salomão, mesmo que a tromba do Salomão a sinta cansada, como se Saramago estivesse a preparar a sua última viagem e desse um último urro de elefante. Antes de fundir a sua pegada, legando-a ao mundo. 

Poesia, Essa Desconhecida

Interessante a expressão de Vasco Graça Moura ao falar da escrita poética como «exercício técnico, uma aplicação de capacidades oficinais».
Como tenho para mim que todo o poeta é um escritor e todo o escritor um poeta mesmo que não o saiba (tudo o resto são ajuntadores e coleccionadores de palavras) essa capacidade oficinal, que VGM refere, só a concebo na oficina do corpo.
Onde os olhos são o fole dos retratos da vida, o coração o martelo pilão, os mecanismos as mãos, o óleo a seiva e o sangue que oleia o mecanismo mais fino operativo, o cérebro, esse responsável pelas tremendas ilusões do espírito sensível.
Exercício técnico, capacidades oficinais?

Sim, como ourives da minha própria oficina!

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Árvore De Livros

Para resgatar 
este meu acto egoísta 
de derrubar 
as minhas irmãs árvores, 
lanço probono a ideia 
de com os nossos livros 
mais velhos,
de pele amarelada, 
plantarmos uma árvore. 
Livro posto 
sobre livro 
construiremos o caule. 
Capa sobre capa 
alongaremos os ramos 
a que ligaremos as folhas amareladas 
que esperemos que recobrem 
e se tornem alimento viçoso 
para os pássaros, insectos 
e para o húmus da natureza. 
Enquanto pelo menos houver 
uma Blonde e um S.a.n.d.e., 
haverá sempre livros impressos. 
E o pelo menos 
será muito mais, 
porque ainda há 
muitos sentidos na natureza.  

O Livro Digital

É engraçado como tantas verdades estão contidas no post de MRP
A primeira é que na leitura digital, as árvores agradecem. 
A segunda é que o nosso écran grande é, de facto, o livro impresso. 
A terceira é que no futuro nem tudo será como dantes. 
Pelo menos na aparência. Talvez não na essência. Porque o livro tem cor, tem sabor, tem formas, pode ser resgatado e posto de lado como um(a) amante a que se sempre se retorna, pela graciosidade, pelas formas, pela ironia, pela inteligência, pela capacidade de se dar. O livro pode-se amar, pode-se odiar e não nos agride os holofotes da alma. Faz-nos falta ao tacto, é real e sim - é muito mais perene que as plataformas que perderão os seus bites com o passar dos anos.
Como espectador de cinema, o meu pequeno écran, que já uso mais no monitor que no ecrán televisivo, não se compara a uma grande écran de cinema. O próprio formato da sala faz-me pensar que a hora é mágica e que em companhia do outro, brevemente sobrevoaremos como numa nave espacial, os sonhos projectados  no grande écran. Grande écran, que estranhamente, ou talvez não, nos dilata a alma e nos leva para uma outra dimensão.

Não me tirem o grande écran, nem os pequenos objectos de afectos a que chamamos livros. Não me tornem homem máquina.

(Como todos somos seres contraditórios declaro, num statment muito similar à da Olívia patroa e à Olívia cabeleireira, que o meu conservadorismo conflitua com o meu progressivismo,  logo, o meu amor aos livros só me perturba por momentos a autoestrada de desenvolvimento do livro é.
Livro que vejo, à frente do jovem, na escola, manuais ejectados para o seu dispositivo digital; livro que vejo no operário, feito trabalhador do conhecimento, a exigir ao gestor do conhecimento os manuais digitalizados de procedimentos; livro que vejo no utente a exigir do vendedor os manuais e as garantias enviadas para o seu dispositivo digital; ...)
Vejo tanto, às vezes, mas finjo que não vejo quando não me agrada! 

O Sorriso da Lua



O Sorriso da Lua foi um projecto de 2010, despretensioso e humilde, fruto da iniciativa de vários colegas, com uma única finalidade: a de ajudar a "Acreditar".
Nesta espécie de voluntariado com poemas e fotos, foi-me pedido dois minutos do meu tempo. E foi isso que dei com pena de não puder mais.




 LÁ VAI UMA, LÁ VAI LUA

                                        Que lua tão bonita
                                        Disse a menina para a Zita
                                        Mas porque é que a menina
                                        Vai nua, se a lua está tão catita?


                                               De longe a longe a menina
                                               Media com uma longa fita
                                               O sorriso da boa lua
                                               Que lhe lembrava, irmã Tita


                                                       Ó lua, dá-me um sorriso
                                                       Rebola por esta montanha,
                                                       Que eu estou à espera que o siso
                                                       Me dê uma prenda tamanha


                                                                É agora a hora da janta
                                                                Quero ver um grande sorriso,
                                                                Um douradinho para a santa
                                                                E não engulas o siso.

Literatura de Tempo de Guerra: Lisboa 1939-1945


Um dos períodos da história que mais me atrai é o que tem paralelo com a segunda guerra mundial.
Não pelo enorme sofrimento que causou a milhões de seres, mas pelos exemplos humanos que fez despontar.
Um período de guerra é um período que trás ao de cima o pior, mas também o melhor que há em cada ser humano.
E é por isso que toda a literatura que envolva o período me seduz.
Lisboa 1939-1945, a guerra nas sombras da Cidade da Luz, é um desses livros.
«Sinopse: Lisboa foi, durante a Segunda Guerra Mundial, o centro da espionagem e da intriga internacionais, e a única cidade europeia onde Aliados e potências do Eixo operavam à luz do dia e se vigiavam mutuamente. Era a Casablanca real, com todos os ingredientes de uma glamorosa intriga ficcional – manobras de bastidores, traições, um próspero mercado negro, romances tumultuados, espiões de ambos os lados da guerra, refugiados, banqueiros, diplomatas, elementos da realeza europeia exilada e da alta sociedade, escritores e artistas que se cruzavam nos hotéis e cafés do centro da cidade ou da idílica costa do Estoril. Sobre este cenário de filme noir dominam dois protagonistas – Salazar e a destreza política com que joga, no finíssimo fio da navalha, a neutralidade e a soberania portuguesas. Numa obra brilhante e extremamente bem documentada, Neill Lochery oferece-nos a oportunidade única de visitar Lisboa na época em que foi chamada de Cidade da Luz.»

terça-feira, 5 de junho de 2012

Ler É Tolerar


O meu último livro foi o mais difícil de ler. Estou a falar do Portugal Agrilhoado, A Economia Cruel Na Era do FMI, de Francisco Louçã, a quem um caricaturista chamou de demagogo. Não porque tenha arrastado o dedo, palavra a palavra, pelas suas lombas, planícies e rios de páginas. Não! Porque li-o de um trago. 
Não porque estejam nele cravadas, a branco e preto, palavras que são escusadas, termos que me sejam escondidos ou teorias mais ou menos desconhecidas.
Mas porque todos os livros, mesmo os que de criativos só são credores da realidade que supera a ficção, revelam homens que, adoptando a teoria dos rótulos, recusam mesmo na sombra do desconhecido os argumentos do outro. 
Posso não ter gostado, mas fiquei a conhecer um novo Portugal: um muito difícil de ler e mais difícil ainda de engolir!

sexta-feira, 1 de junho de 2012

O Pensageiro Frequente de Mia Couto

Há pouco tempo perguntaram-me se a minha paixão pelas humanidades tinha sido encoberta pelo caminho das ciência sociais como a gestão, economia e Estudos Europeus.
Respondi-lhe que não. É que do mesmo modo que não se deve deixar exclusivamente a guerra na mão dos militares, também as humanidades não devem ser exclusivo das gentes de letras ou dos meros coleccionadores e agregadores de palavras. É preciso ir mais fundo na pesca à linha.

«Naquele momento creio ter entendido: a cidade não é um lugar. É a moldura de uma vida, um chão para a memória. Enrolei a linha, e regressei a casa...» (Mia Couto; Pensageiro Frequente).

Que me desculpem os autores mais novos. Mas é preciso muito mais linha como bem explica Mia Couto no Pensageiro Frequente, porque a cidade não é um lugar mas a moldura de uma vida e um chão para a memória onde nos possamos enrodilhar.

Publicado

Muitas vezes, Eu,
Que me transporto
Do Romance à Poesia,
Da Poesia ao ensaio,
Do ensaio ao fantástico,
Do tempo Jovem ao Infantil
E que me demoro no Adulto,
Me perguntei
Se a escrita é ainda hoje escrita.
Ou se a escrita, a Literária,
Que a outra, A Técnica,
A Investigada
Me convida Todos os Dias,
É hoje apenas um mito,
Um negócio,
Onde se desfazem e entretecem raízes
De inchaço, gabarolice, insolência, tolice,
Ou de puro desdém.
Romance histórico,
Pouco histórico,
Ensaística,
Conto ou poesia,
Não é tudo, afinal,
A Presunçosa,
A Simplesmente,
Escrita?

Tu !
Tu que gostas de escrever para ti
Num acto
Tão simples, reflexo,
Como respirar.
E não lhe perdes o gosto
Apesar de sentires dia após noite
Esbranquiçar o teu rosto,
E apesar de juntares,
Incógnito,
No teu covil
De Lobo solitário
Que também pode ser de Carneiro,
Ou de Caranguejo ou Escorpião,
E que não me esqueça
Da Virgem ou do Touro,
Todos os dias, as palavras,
E que não as vendes,
Não estão à venda,
Como se te
Semeasses
Todos os dias um pouco,
Acordado – adormecido
Ao pé de um aglomerado de madeira,
Que afagas apaixonado
Com a palma toda,
Da mão aberta,
Então tu és,
Mesmo que só de ti,
Escritor,
Um eterno apaixonado
Pela voz que tu és
A voz que vive
E escreve dentro de ti.

Ponto De Partida

Que melhor altura para começar um novo blogue que um primeiro dia de Junho. 
Um blogue que separe o meu ortónimo dos inúmeros heterónimos de gostos distintos de uma pobre criatura de Deus.
Amofinemos-nos assim pois na Terra de forma partida, pedaço de nós, o seu a seu gosto, numa luta de anarquistas de papel pela dignidade de seres pensantes e livres que somos.