De
Álvaro Cunhal só li o Rumo à Vitória, livro de que me recordo apenas conter uma
enorme energia, «sobra» de biblioteca familiar e que me abriu o apetite para
uma fase de educação ideológica global. Livro que, conjuntamente com o Capital
de Marx, Engels, Feuerbach, Rosa Luxemburgo, Mao, e mais uma meia dúzia de
ideólogos e práticos do socialismo e do marxismo me serviram de educação, rastreio
e contraponto ideológico a um mundo multicolor plural que os anos abriram ao
nosso país e a muitos dos nossos pais.
Nesses
loucos anos setenta, ainda criança, a caminhar para a pré-adolescência, senti várias
vezes o inimigo dentro de portas, mais a mais para um filho de um militar,
filho e neto de militares, anteriormente despolitizado, com um aparente e único
sentido de dever à pátria, posto perante opções dolorosas, lealdades emergidas
e secessões, até aí “possivelmente” pouco imagináveis.
Mas esses
verdes anos foram prenhes de valores (mesmo que diametralmente opostos e
condizentes ou não com as nossas opções), de «cultura», de opinião, de paixões
interessantes e o poder parecia apenas o poder da ideologia, da ideia (mesmo
que já lá estivesse o gérmen do interesse, da ambição, do despudor, do vazio).
A
roda do tempo leva-nos sempre a um velho tempo e a um novo recomeço. Mortas as
ideologias, eis que elas renascem pela imposição da dor do vácuo, do acrítico,
uma ideologia de sinal contrário, esvaziada de conteúdo, ignizando a ação
reação de um regresso ao futuro. O fel do poder, do valor do sucesso como o dinheiro,
a inveja, as frustrações pessoais, tem sempre «direito» de retorno.
Curioso,
como até nas relações internacionais podemos sempre esperar provar o nosso
próprio amargo, como é o caso de mais um «homem doente da europa», a holanda: fiel
aliado da austeridade e de um remédio mezinha congeminado na ignorância do
outro e na «triste arrogância dos ignorantes (…) que acham que quem lê, escreve,
pinta, compõe – pensa e cria, em suma – não é gente a quem se deva dar atenção»
de que muito bem denuncia a Rosário.
Este seu comentário, no Horas Extraordinárias, fez-me hoje vir aqui. Também eu era uma "criança, a caminhar para a pré-adolescência, nesses loucos anos setenta" e senti igualmente "várias vezes o inimigo dentro de portas".
ResponderEliminarLoucos, mas ricos, ao nível dos atores decisórios, Cristina Torrão. Hoje, infelizmente a cidadania sofre por ter estado demasiado tempo em omissão, naquela zona de conforto que se transformou numa zona de tormento.
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