Citações:

Sem o direito natural não há Estado de direito. Pois a submissão do Estado à ordem jurídica, com a garantia dos direitos humanos, só é verdadeiramente eficaz reconhecendo-se um critério objetivo de justiça, que transcende o direito positivo e do qual este depende. Ou a razão do direito e da justiça reside num princípio superior à votante dos legisladores e decorrente da própria natureza, ou a ordem jurídica é simplesmente expressão da força social dominante
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Carta A Uma «Amiga» Escritora

Esta carta infra poderia ser de Sartre a Simone de Beauvoir, ou de Saramago a Pilar ou de outro homem e mulher mais comuns cuja atração esteja para lá da vista, para lá do que o sentido da vista alcança.
É que se para alguns só a vista trás o conhecimento mútuo, para outros onde se inclui esse homem comum, essa forma é redutora, porque há nessa forma uma transparência maior do que a da distância da vista - e isto como os leitores desta nota compreendem, salvaguardadas as respetivas diferenças do hábito que não do monge, que o respeitinho “ainda” é muito bonito).
Mas sim, esta carta é de agradecimento e de admiração, de um mais do que amigo – admirador a uma amiga – escritora.
«Minha querida “amiga”

O que é que te posso dizer, querendo dizer tanto, em tão pouco tempo? Que abracei com força as palavras de “Durriti” (que não reproduzo para recato da tua obra) e que também eu levo um mundo novo no meu coração, um mundo que cresce a cada momento, mesmo temendo poder sofrer de uma profunda ilusão de não o partilhar; que, ao fim de ler duas páginas da tua obra, tive de conter uma lágrima que já se desesperava de mim, eu que não me lembro há quanto tempo vertia uma única lágrima?
Que me alegra o coração pela demonstração de confiança e afeto que colocas em mim, mesmo sabendo que em muito poucos poderias confiar de um modo tão leal, honesto e sincero (essa é talvez a minha maior, espero que não única, virtude). Que só por isso (mas não só por isso, mas por motivos de outro fórum, que exige trabalho de grupo e não um método unívoco e expositivo), ganhaste “pelo menos” (que nesta coisa de afetos sempre mandou mais o coração generoso das mulheres do que o dos homens) um amigo para a vida, com quem te podes abrir e confiar como se fosses tu própria.
Que penso seres uma excelente escritora e narradora; inteligente, esperta, com um discurso simples, fluido, que foca a atenção - nem mais, nem menos - com sumo; desprovido dos floreados e rodriguinhos que tantas vezes matam obras e de cujo mau exemplo, nalgumas, felizmente não todas, como brevemente poderás confirmar acedendo às obras deste teu amigo admirador de “Honoré de Balzacs”, de Tolstois, de Vítor Hugos, até de Camarneiros :) e quejandos, resolve espalhar, brincando – este, confesso, o meu grande defeito: respeitar demais homens, mulheres e todos os seres que habitam este planeta, mas não levar-me nem muito a sério nem a própria vida e muito menos aqueles que se pensam acima de minúsculas formigas: tudo muito Sartriano e relativista como vês; e isto do que pude entrever até agora e, te garanto receberá muito, muito brevemente, observação final (270 é obra, é mesmo comprimento de obra! :).
E que o teu «local de nome de obra», irá (irão, pensando naquele outro que sabemosJ), com certeza, fazer tremendo sucesso.
E que não duvides querida “amiga” (pudesse eu ter um nome ainda mais belo do que amiga para te dar!) que se tal não acontecer na dimensão que mereces e desejas, cá estarei eu para criar uma editora, nem que seja uma de um par de livros só (já agora se não te importares, também poderei fazer editar aquele meu primeiro mais louco, enjeitado, que por estar em primeiro na fila há já tempo e se achar orgulhoso, herdeiro de um outro de sucesso, não permite que nenhum outro dos seus irmãos se descubra ao mundo – um dia denunciá-lo-ei a e verás, com os teus próprios olhos pelo nome que carrega, a ousadia deste bruto que me está a abafar e a fazer encolher o resto dos filhos; é que com filhos não se deve usar de distinção e benefício).
Como já me falta o tempo para as minhas obrigações mais impositivas, ficar-me-ei por aqui, minha querida amiga, mas breve regressarei ao teu convívio.
Um beijinho sentido do tamanho do mundo, do teu mais que amigo…

P.S. Rapidamente! A única coisa que temo, minha amiga, é que com a «fortuna» surjam «os corvos»,
(ele até «girafas» de grande sucesso e visibilidade há nessa editora! e, tens razão, é esperto, já que há muito se apercebeu de que o público não é ele, mas os outros que lhe compram as «estórias dos mistérios de deus e das criaturas» - Ah, e não te contei esse meu outro defeito do raio, o ciúme, esse pelintra pequenino que arrasa a mais nobre das confianças; mas prometo que ando a tratar-me; em último caso, se tiver de ser, com pedido de regresso a eletrochoques:)
e outras aves de preto que corram comigo, pobre debutante, a depenicar as minhas pobres, fracas penas; e que me esqueças rapidamente e me despejes como resto, que eu sou um(a) frágil andorinha (bolas, não me permitas exagerar! Que raio, não me comprometam, não há dois géneros nesta espécie?)
P.S.2 (Não, não é nem consola, nem o retornado parisiense do largo do rato, apenas um escrito atrasado).
Adorava um dia escrever, a duas mãos, uma obra contigo; cada um dono do seu espaço, mas os dois num espaço comum, de uma dimensão muito maior do que os dois sozinhos e do que a nossa vista entrevê e possivelmente alguma vez poderá alcançar! Se não puder ser, por questão de afazeres ou outros que relevem de «não haver misturas», não faz mal, porque o bem que tu me fazes já se sente naquela prosa que se acumula, naquele livrinho de que te falei ontem, aquele «livrinho de Nós!»
(já reparaste naquele mal pessoal de que te falei, autêntica peste para escritor: como a depuração de um texto me poderia obrigar a «deletar» esta “Nossa” missiva e a deixarmos “Durriti” a falar sozinho? Bolas, serei que estarei a ficar louco? Não, não me parece! São apenas momentos; muito felizes e pacíficos: como é próprio da minha própria natureza!)
© PAS  

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