No dia em que te fartares deste silêncio
Barulhento, a que todos agora
Chamam de ensurdecedor,
(Barulhento talvez
Seja o modo de dizer certo
Com o que julgo ouvir
E mesmo ver, que este meu sentido
Decifra e descripta as cores
Da mais pequena pétala
De flor);
No dia em que te fartares
De me ter à tua porta
Espiolhando envergonhado
Por esse buraco,
Mural portal a que o homem das chaves
Chama com candura
De fechadura do céu,
A forma do teu corpo
E a cor dos teus cabelos
Experimentando-lhes a textura
E a originalidade…
Evitando o risco da cópia…
Nesse dia,
Com uma mão indecisa
Em cima do corrimão
E a outra pousada
Nessa maçaneta cor rosa
A que chamas pele,
Temente de entrar
Por temor a não ser
O eleito
Ou à espera de um sinal claro
De um reconhecimento formal
De uma vida anterior,
Esgotada,
Nesse dia,
Talvez chegue a dizer:
«Abre-me.
Abre-me a porta
Para eu em ti poder entrar
E te contar uma doce estória
Que nos faça aos dois embalar
Tomados pelo prazer
De um qualquer
(Qualquer é uma fórmula
Demasiado fraca e frouxa!)
Esfregaço insensato;
Uma espécie de loucura
De nos tomarmos aos dois,
Um corpo uno
De escrita,
Uma obra duo pessoal.
©PAS
©PAS
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