Citações:

Sem o direito natural não há Estado de direito. Pois a submissão do Estado à ordem jurídica, com a garantia dos direitos humanos, só é verdadeiramente eficaz reconhecendo-se um critério objetivo de justiça, que transcende o direito positivo e do qual este depende. Ou a razão do direito e da justiça reside num princípio superior à votante dos legisladores e decorrente da própria natureza, ou a ordem jurídica é simplesmente expressão da força social dominante
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Erros

Há uma tendência na nossa vida para cometermos erros. Muitos desses erros são de paralaxe, outros são levados pelas emoções, outros ainda são erros de apreciação.
Hoje pela primeira vez desde há muito fiquei muito irritado.
Irritado por me ter apercebido tarde de mais que não só me deixei levar pelas emoções como fui levado por elas. 
Por boas ou más razões. Possivelmente nunca o irei saber já a que este mundo falta-lhe uma componente de tolerância e capacidade de encaixe, encaixe para perdoar e ser perdoado.
Encaixe para saber ouvir, encaixe para saber percecionar os nossos erros. 
Hoje começo a perceber os dramas que temos pela frente, com seres humanos formatados em se consumirem em vidas dramáticas.
Vidas que querem traçar a regra e esquadro e que as torna vítimas do querer parecer ou mesmo do querer ser a todo o custo.
Como é óbvio não foi situação que procurasse, fui arrastado na boa onda e na onda me ia afogando. 
Mas a minha capacidade de perdoar é lata, tivessem os outros essa minha capacidade e tudo se resolveria com aquilo que infelizmente o ser humano menos têm: a capacidade de perdoar e ser perdoado. Só gente «superior» têm essa capacidade!
A minha conclusão, no entanto, é que há muita gente que se perde numa ambição que ultrapassa fronteiras, muita gente que sofre deveras e que faz sofrer à sua volta.
Mas o mais dramático é que muitos destes seres humanos parecem já não ter nada para dar ao seu semelhante.
E muitos deles nem se apercebem que aquilo que denunciam nos outros está até em si bem mais marcado.
Procurar alguém, não porque se queira partilhar inteletualmente o seu mundo, pedindo mas não retribuindo, é uma nova forma de vida que tem retorno. E um mau retorno que a todos prejudica, principalmente às relações entre seres humanos que se querem amistosos.       

O Livro De Nós (Abertura)

Há alturas da nossa vida em que temos de escrever, mesmo doridos, o livro que gostaríamos de abraçar para a vida! Este é o meu, mas também, o teu livro, aquilo que doravante chamarei de Livro de Nós, um espaço onde ficará inscrito o amor que tenho por ti e que será eterno, para que mesmo fugazmente te possas lembrar que foste amada como mais nenhum ser o poderia ser. Este livro ser te à dedicado! Estarei sempre aqui encerrado e só tu me (o) poderás abrir!
Ficar-te-ei a amar eternamente, mesmo que a tua lua te aponte outro sol e outro caminho. Serás sempre minha, em pensamento, e nem a tua distância ou indiferença, fará diferença ao amor que te tenho! Serei, no masculino, «a tua» Penélope. Serás, meu amor, ao longe, bem perto do meu coração, a Pilar, a  Gala, a Simone B., a Maria João, da minha vida.

«- Viu os sinais, mestre?
- Sim, Mateus, os sinais desta vez eram claros: e não estavam voltados ao centro, eram mais a norte.
- E agora mestre?
- E agora, Mateus, a amizade forte que constrói os verdadeiros amores foi novamente derrotada por um pequeno momento; estamos no tempo do provisório, do ilusório, do amor perdido. Não vês quantas almas se arrastam por aí sozinhas, enganadas, por confundirem momentos com tempo sólido? Há que seguir caminho, mesmo em frangalhos, que teremos de recolher um a um para os colar. O provisório bateu novamente o definitivo; a paixão que envolveu a solidão da carne, não tem a força de uma paixão em construção.
- De uma comunhão mais forte?
- Sim, é isso, de uma comunhão de interesses que preenchem cada buraco, cada deficit de atenção, cada despropósito, cada distração de transmissão de afeto.
- E o amor, mestre, o lugar do amor?
- O amor é uma das vítimas. Como quase sempre, Mateus, um espaço quase sempre só brevemente preenchido; só há lugar ao verdadeiro amor, onde há uma verdadeira e sólida amizade: como esta felicidade que se sentia no ar, esta paixão mais forte, como que parecida recolhida no ar, como se eletricidade ou ondas magnéticas se tratassem: trazidas pelos ventos e empurradas pelo mar. Mas fica a história, Mateus, e sempre uma centelha de esperança de que um dia possa retornar! As nossas portas estão sempre abertas ao verdadeiro amor. Nós somos eletricidade da mais pura, Mateus! Nós éramos a mais bela e pura forma de amor!
- E a amizade?
- A amizade cá está, Mateus!
- Uma amizade comunhão, mestre?
- Sim, uma unidade comunhão, daquelas fortes e coesas que os nossos pais criadores nos ensinaram.
- Sim, era demasiado bonito o amor que irradiavam, havia ali uma comunhão que emocionava, uma cumplicidade indestrutível entre eles.
- Nem mais, Mateus! E isso foi-nos a nós, passado: são o nosso padrão, Mateus!
- Morreram-se um ao outro, quase em simultâneo, para o salvarem. Morreram de amor!
- Sim, Mateus. Um desistiu da vida pelo outro, que jazia ali fulminado levado por um deus que os abandonou.
- Olha, lá! Vês ali? São eles ali no céu, abraçados como sempre andavam. E era ali que eu esperava estar, um dia, com o amor da minha vida: naquela constelação que já nos estava destinada!
- E agora, mestre? Agora quem o consola?
- Ninguém, Mateus. Andarei por aí como alma penada. Ou melhor, tu, meu bom amigo, que me acompanharás com a única lealdade que parece hoje possível, aguentando sem pestanejar e sem esmorecer os meus serões e alvoradas, vertendo as lágrimas amargas de ter perdido o momento.
- Ela podia ter-me substituído, Mestre?
- Podia Mateus, podíamos ser o sol e a lua, ali encostados, cada um se aconselhando com o outro e com estes nossos bons amigos como tu, Mateus!
-E eu ia conhecê-la, Mestre?
- Claro, Mateus. Ela não vinha sozinha! Desta vez bateu forte, Mateus, e parecia seguir o rumo certo. Mas há sempre pedras no caminho, ou pequenos momentos que nos motivam, ou motivos que nos afastam do caminho certo, às vezes iludem, mas que já foram tomados. Mas a carne levou a melhor sob o pensamento. Amanhã iremos olhar o rio, Mateus, espojados num banco de jardim, folheando aqueles monumentos de sonho que são os livros, onde poderemos distrair a nossa dor. E dar te ei a mão como se fosses ela e ficaremos na paz possível a falar como verdadeiros amantes.
- Conte sempre comigo, mestre!
-Eu sei: eu sei, Mateus! Obrigado, Mateus! Tu és um bom amigo e um bom «coração!» Esta lágrima vertida que vês aqui escorrendo, empurrada por outra que se lhe segue, é minha, mas é também tua! Vamos: vamos que a alvorada se levanta e o caminho deste dia é longo!
         ©PAS


quinta-feira, 30 de maio de 2013

Noite Escura

Não sei que sombra é esta
Que de repente caiu sobre os meus ombros;
Não sei que sombra é esta
Porque como sombra
Deveria ser de um tom
Aproximado à sépia
Mas este tem um colorido
Que faz lembrar um arco-íris
Numa noite escura. 

Deste lado choro 
A alegria que me davas
De te acompanhar
De te ver deitar
E acordar... 
Ao longe

Perdoa-me
Meu amor
Mas o meu
Mundo agora 
Está mais triste
E a alegria
Dos dias 
Que me deste
Da tua
Presença
Constante
Fugiram
De volta
Para
O arco - irís!
 
©PAS

Filho Homem

Durante mil anos 
Pedi um filho
Não mo deram 
Emprestaram-me um 
(Que cuidei 
Com carinho)

Desde quase o berço 

Durante mil anos 
Pedi um filho 

Deram-me uma 
Por fim

Com sofrimento. 

Durante mil anos 
Pedi um filho: 

Não quiseram!

E eu procuro 
Com afinco
Quem queira


(Com amor
E carinho)

Calar
Este 
Meu 
Lamento.
©PAS

Erros De Paralaxe

Às vezes o nosso «olhar» deteta imagens que não nos são enviadas.
Lastimo por isso.
Por me querer apropriar de sinais de fumo que seguem para outros lugares!

Corpo de Mulher

Os últimos anos amargos foram duros para os mais fracos que sofrem e até as árvores se compadeceram da angústia dos homens e levantaram as mãos aos céus.
PAS

Novo Excerto de À Procura de M.



«Mas tudo isso são, apenas, escândalos?»
«Não! Isso é o dia - a – dia: os escândalos vêm depois! J. diz aqui também não ter conseguido encontrar muitas fontes sobre M. Anexado ao seu processo está no entanto uma avaliação psicológica. Um trabalho de fôlego, que talvez nos dê mais pistas sobre o seu desaparecimento.»
«E o que diz?» perguntou A.
«Mais ou menos isto: M. tem medo de existir!»
«Como o país do FundadorGil?» adiantou A.
«Nem mais!» corroborou D., «mas não o da popa que nem uma onda, mas O Josué!» acrescentando logo de seguida: «Embora isso não o tivesse inibido de levar uma existência contra – dissoluta. Quem vê almas não vê corações!» asseverou D. «como se tratasse de uma virgindade perpétua. E mesmo quem os julga ver, pode-os ver só com a vista do lado dos ventrículos ou do lado dos aurículos; em processo de diástole ou processo de sístole! E isto depois de passar pelo átrio. Mas continua aqui a dizer que M. sofre do defeito da não inscrição, numa vertente singular, não coletiva. Vê demasiada televisão, afirma-se. Com o preto em cima do branco e essa cicuta nacional que sofre de ÁudioSíntese.»
«ÁudioSíntese! Isso é uma doença?», interrompeu A.
Pergunta respondida sem tergiversar por D., como se entregasse num prato raso um ovo redondinho acabado de cozer.
 ©PAS

Se Pousares O Teu Olhar Em MIm

Se pousares o teu olhar em mim
Perceberás que perdeste inocentemente
O teu tempo
E que o teu cansaço
Encontrou finalmente um lugar
E um ninho
Onde repousar

Desse teu desesperado
E ilusório
Bater de asas

Bem mais composto
E assertivo.
©PAS

Olhar Sereno

Perdeu-se o olhar das coisas simples. O cansaço descansa no olhar sereno!
©PAS

Aqui e Agora


O running to nowhere é uma daqueles sites com ditos felizes e que parecem fazer o «match» do dia a dia.
Para além disso permite estabelecer um diálogo reflexivo interior e manter a força do afeto, o que em tempo de grandes espaços vazios não é pouco importante.
«Não te preocupes, simplesmente respira.» diz um deles.Se tem de ser encontrará o seu caminho.» Dito avisado, feliz, assertivo.


O segundo, também contém mensagem em tradução livre: «não leves demasiado a peito. Eu também fiz uma série de coisas estúpidas na minha vida.»
Mensagem confortante por nos fazer aperceber que não estamos sós no mundo com os nossos problemas e que devemos ser capazes de os repartir não sendo tão exigentes e penalizadores connosco próprios. E a essência, qualquer que seja a aparência das coisas, é sempre mais gratificante que a aparência.



Este terceiro, é que já tem aquele carácter pouco racional, de atirar os problemas para detrás das costas, fazendo de conta que eles não nos magoam ou causam esfrangalho.  
Pois, gostando eu tanto de animaizinhos, já não o levava para casa: a adoção não é opção. Ou talvez fosse para lhe dar uma visão mais serena do mundo. Nunca se deve atirar os nossos problemas para uma árvore, porque também ela murchará com o nosso esguicho.  Como diz o meu M. no post abaixo, é a expiação chefe!

terça-feira, 28 de maio de 2013

Excerto de «À Procura de M.»

XXVIII

«É a expiação, chefe! Vamos todos expiar o sermos: de
tez mais escura, mediterrânicos, menos preocupados, em
menor número, mais católicos, menos protestantes, mais
naturalmente sustentáveis, mais desprendidos, mais
apreciadores da passagem do tempo, mais criativos, menos
unhas - de – fome, mais descentrados, mais… deixa andar!»
Fez uma pausa a tentar lembrar-se de algo, ou melhor,
«de alguém!»
«Leu Sebald e sua História Natural da Destruição,
chefe?»
De L. não lhe respondeu.
Nunca tinha ouvido tal nome, nem tal documento, e
mais a mais o que tinha ouvido parecia-lhe uma provocação:
«Sê baldas?» expiou destruindo por dentro o que
ainda lhe restava de energia para responder.
Aproveitava para limar as lâminas ungueais, aquilo
que vulgarmente designamos por unhas, aqueles
“instrumentos” que quem os têm é que “toca guitarra!”,
desfazendo em pó a queratina: como se estivesse a extirpar as
gorduras acumuladas ao longo dos últimos anos. Estranhou,
no entanto, a contradição de “quem tem unhas é que toca
guitarra.”
«Então e as formigas? As obreiras?», pensou.
Ajustava-as, às unhas, aos tempos recentes, curtinhas,
até ao sabugo, aqui e ali já com os dedos quase em carne viva,
em sofrimento e dor.
«É! A periferia dá-nos umas insustentáveis asas de
cigarra. Ou, pelo menos, é o que parece a alguns», disse,
nostálgico e fatalista.
«E uns olhos de morcego para nos divertirmos à noite,
até às tantas da madrugada, chefe, enquanto os outros se
recolhem ao cair da noite, pobres mortais!»...
 ©PAS

Tordos, Invasibilidade, Cumplicidade

A literatura como sabem tem esta coisa estimulante de podermos gerar personagens, como tordos há nos céus e de questionarmos o infinito.
E das personagens nascem interações, e das interações, relações e das relações, laços de interesses, amizades, cumplicidades… 
O termo invasibilidade tem, como sabemos, uma similitude com aquilo que é na sua raiz a invasão como adjetivação. O invasivo é o que invade, mas o que invade numa perspetiva de hostilização, de uma locupletação unitária... 
A perceção do sentido de invasivo ou não invasivo está assim pois mais do lado do pretenso invadido do que do invasor: revela desconfiança, receio de ofensa, dor, muitas vezes sofrimento. Ao pretenso «invasor» não resta muitas vezes se não o recuo, um recuo prudente e avisado: mesmo que a sua pretensa invasão fosse uma visita de cortesia, o estabelecimento de uma aliança de bandeiras, ou uma relação de amizade sincera. 
Assim a intromissão do narrador na ação dos seus personagens revela mais do que invasibilidade, uma empatia de criador.
E assim, é deixar o tempo, esse sábio mestre, fazer o invadido entender que as suas razões eram nobres e elevadas. 
E que o seu castelo nada tem a temer e que o condado do pretenso está sempre aberto ao estabelecimento de uma relação de sincera amizade e cumplicidade.
Quando os tordos revoam pelos céus, invadem-no, pintando-o e dando-lhe uma tonalidade que se reflete no seu azul alegre.    

segunda-feira, 27 de maio de 2013

A Paixão

A paixão é uma coisa estranha; tira-nos do sério - mais a mais quando já não é só paixão mas uma mais do que estruturada forma de amor - faz-nos andar aparvalhados, assim uma espécie de adolescentes com borbulhas idiotas.
É! É verdade! Nunca tive borbulhas, mas tive algumas paixões com borbulhas!
Mas esta agora é mais estranha, porque adulta, não tem borbulhas, porque é real e virtual ao mesmo tempo, um castelo de cartas sólido baseado em interesses comuns reais, inteligente (e como eu estava a precisar de um sonho inteligente), sensual e de um intensidade tal que me faz trocar as pernas pelos braços, uma coisa com uma dimensão que assusta o meu próprio ego.
Mas é bom, muito bom, se não for uma miragem do deserto, que se esfuma à aproximação e com um oued ali tão perto!
 ©PAS

À Procura de M. - O Tal Malandro Que Não Ata, Nem Desata

«J. diz que M. tinha anotado num dos seus diários desaparecidos, que uma importante mudança se começou a operar depois de ter estado com o Rapaz numa taberna, em flagrante delírio, entre uma pipa de clarete, uma de abafado, uma de moscatel e uma de ginjinha. Acompanhados de um amigo indígena de nariz adunco, chapéu de abas e óculos grossos, não tão grossos pela aparência de não lhe corrigirem a miopia, de um outro poeta do oculto e de uma estranha MulherEscarlate, mulher alta, sensual, camaleónica, de um louro escuro e que constava ser teutónica. Mulher que, na opinião do amigo de óculos de lentes de garrafa, entre o clarete e a ginjinha, “apetecia que nem barco.” Segundo M. falava-se, naquele dia, da Fénix Renascida. Não do pássaro da mitologia grega, mas de um cancioneiro de obras poéticas satíricas, burlescas. Embora o homem dos óculos, embasbacado pela MulherEscarlate só pensasse em embarcar, faltava-lhe em fôlego e força de braços o que lhe sobejava de arcaboiço imaginativo, pelo que foi o Rapaz que lhe enfunou as velas. Diz que o do nariz adunco na sua confusão alcoólica ainda lhe tentou tocar os genitais, enquanto mal reproduzia e declamava VoltaDeAr,
“És do talhe de uma águia, com uns olhos tão suaves e ternos quanto os da águia são altivos. Teu bico é cor-de-rosa, teu pescoço reúne todas as cores do arco – íris, vivas e brilhantes. Teus pés parecem uma mescla de prata e púrpura…”.

Carta A Uma «Amiga» Escritora

Esta carta infra poderia ser de Sartre a Simone de Beauvoir, ou de Saramago a Pilar ou de outro homem e mulher mais comuns cuja atração esteja para lá da vista, para lá do que o sentido da vista alcança.
É que se para alguns só a vista trás o conhecimento mútuo, para outros onde se inclui esse homem comum, essa forma é redutora, porque há nessa forma uma transparência maior do que a da distância da vista - e isto como os leitores desta nota compreendem, salvaguardadas as respetivas diferenças do hábito que não do monge, que o respeitinho “ainda” é muito bonito).
Mas sim, esta carta é de agradecimento e de admiração, de um mais do que amigo – admirador a uma amiga – escritora.
«Minha querida “amiga”

O que é que te posso dizer, querendo dizer tanto, em tão pouco tempo? Que abracei com força as palavras de “Durriti” (que não reproduzo para recato da tua obra) e que também eu levo um mundo novo no meu coração, um mundo que cresce a cada momento, mesmo temendo poder sofrer de uma profunda ilusão de não o partilhar; que, ao fim de ler duas páginas da tua obra, tive de conter uma lágrima que já se desesperava de mim, eu que não me lembro há quanto tempo vertia uma única lágrima?
Que me alegra o coração pela demonstração de confiança e afeto que colocas em mim, mesmo sabendo que em muito poucos poderias confiar de um modo tão leal, honesto e sincero (essa é talvez a minha maior, espero que não única, virtude). Que só por isso (mas não só por isso, mas por motivos de outro fórum, que exige trabalho de grupo e não um método unívoco e expositivo), ganhaste “pelo menos” (que nesta coisa de afetos sempre mandou mais o coração generoso das mulheres do que o dos homens) um amigo para a vida, com quem te podes abrir e confiar como se fosses tu própria.
Que penso seres uma excelente escritora e narradora; inteligente, esperta, com um discurso simples, fluido, que foca a atenção - nem mais, nem menos - com sumo; desprovido dos floreados e rodriguinhos que tantas vezes matam obras e de cujo mau exemplo, nalgumas, felizmente não todas, como brevemente poderás confirmar acedendo às obras deste teu amigo admirador de “Honoré de Balzacs”, de Tolstois, de Vítor Hugos, até de Camarneiros :) e quejandos, resolve espalhar, brincando – este, confesso, o meu grande defeito: respeitar demais homens, mulheres e todos os seres que habitam este planeta, mas não levar-me nem muito a sério nem a própria vida e muito menos aqueles que se pensam acima de minúsculas formigas: tudo muito Sartriano e relativista como vês; e isto do que pude entrever até agora e, te garanto receberá muito, muito brevemente, observação final (270 é obra, é mesmo comprimento de obra! :).
E que o teu «local de nome de obra», irá (irão, pensando naquele outro que sabemosJ), com certeza, fazer tremendo sucesso.
E que não duvides querida “amiga” (pudesse eu ter um nome ainda mais belo do que amiga para te dar!) que se tal não acontecer na dimensão que mereces e desejas, cá estarei eu para criar uma editora, nem que seja uma de um par de livros só (já agora se não te importares, também poderei fazer editar aquele meu primeiro mais louco, enjeitado, que por estar em primeiro na fila há já tempo e se achar orgulhoso, herdeiro de um outro de sucesso, não permite que nenhum outro dos seus irmãos se descubra ao mundo – um dia denunciá-lo-ei a e verás, com os teus próprios olhos pelo nome que carrega, a ousadia deste bruto que me está a abafar e a fazer encolher o resto dos filhos; é que com filhos não se deve usar de distinção e benefício).
Como já me falta o tempo para as minhas obrigações mais impositivas, ficar-me-ei por aqui, minha querida amiga, mas breve regressarei ao teu convívio.
Um beijinho sentido do tamanho do mundo, do teu mais que amigo…

P.S. Rapidamente! A única coisa que temo, minha amiga, é que com a «fortuna» surjam «os corvos»,
(ele até «girafas» de grande sucesso e visibilidade há nessa editora! e, tens razão, é esperto, já que há muito se apercebeu de que o público não é ele, mas os outros que lhe compram as «estórias dos mistérios de deus e das criaturas» - Ah, e não te contei esse meu outro defeito do raio, o ciúme, esse pelintra pequenino que arrasa a mais nobre das confianças; mas prometo que ando a tratar-me; em último caso, se tiver de ser, com pedido de regresso a eletrochoques:)
e outras aves de preto que corram comigo, pobre debutante, a depenicar as minhas pobres, fracas penas; e que me esqueças rapidamente e me despejes como resto, que eu sou um(a) frágil andorinha (bolas, não me permitas exagerar! Que raio, não me comprometam, não há dois géneros nesta espécie?)
P.S.2 (Não, não é nem consola, nem o retornado parisiense do largo do rato, apenas um escrito atrasado).
Adorava um dia escrever, a duas mãos, uma obra contigo; cada um dono do seu espaço, mas os dois num espaço comum, de uma dimensão muito maior do que os dois sozinhos e do que a nossa vista entrevê e possivelmente alguma vez poderá alcançar! Se não puder ser, por questão de afazeres ou outros que relevem de «não haver misturas», não faz mal, porque o bem que tu me fazes já se sente naquela prosa que se acumula, naquele livrinho de que te falei ontem, aquele «livrinho de Nós!»
(já reparaste naquele mal pessoal de que te falei, autêntica peste para escritor: como a depuração de um texto me poderia obrigar a «deletar» esta “Nossa” missiva e a deixarmos “Durriti” a falar sozinho? Bolas, serei que estarei a ficar louco? Não, não me parece! São apenas momentos; muito felizes e pacíficos: como é próprio da minha própria natureza!)
© PAS  

Pedrinho Disfarçado Na Rota de Wonderland

E disfarçou-se de mulher, colocou uma cabeleira ruiva e lá foi: à espera de uma boleia da mulher que amava...para poder estar perto dela e a conhecer melhor...
Significado de Pedro: «Em busca da paz a qualquer custo, mesmo que para isso tenha que brigar. Não é capaz sequer de se imaginar vivendo ao lado de pessoas que se relacionam na base de tapas e berros, mesmo que sejam elas a sua mãe, o seu pai ou o grande amor da sua vida. Além de paz, o seu coração vive em busca de muito amor. E é fiel como um cão labrador. O tipo de pessoa que está sempre a brigar por um amor verdadeiro, e que dificilmente está só. E que ninguém o tente proibir de alguma coisa, em situações como esta é adeus numa "sem pensar". Toma muito cuidado para não julgar ou criticar demais os outros.»

Mau exemplo do nome: 
Mãe: PEDRO VEM CÁ JÁ!
Pedr(inho): sim, mãezinha.

(Livro de Nós!)


Este pequeno excerto é parte de um novo livro cujo título provisório é o acima (Livro de Nós; pág.70,71; PAS) e que já tem um título definitivo no segredo dos deuses - mas só daqueles que cuidam dos amantes. 
À laia de agradecimento dizer que este livro não seria possível (pelo menos não da maneira escorreita com que flui «a tecla»), se ainda não houvesse entre os homens e mulheres, paixão, arrebatamento, identificação e amizade genuína. 
Todos os livros no fundo, são livros de nós e este ser-te-á dedicado (se o aceitares!)  

«E ele fazia-lhe mentalmente a revisão dos poemas e anotava-os e preenchia-os, como se pegando num baile para uma dança um outro corpo e pudesse ficar toda a noite a rodopiar, fazendo dos dois, um. Era como uma espécie de pingue - pongue sentimental, um duo poético que nunca se encontrara face a face, um mar de amor como ela lhe chamara. Ele entregava-se totalmente, parecendo como homem vivido que era, querer esquecer e contrariar aquilo que já sabia e as feridas que também lhe tinham sido infligidas e que alguns, cinicamente, dizem nos fazer mais fortes - mesmo se muitas vezes nos torna incapazes de querer voltar a amar intensamente: é que a desilusão pode abrir novas feridas profundas, nos corações dos homens e mulheres bons.
As noites e os dias fluíam numa melodia aparentemente estranha, a olhares estranhos, mas sentia-se que havia ali uma paixão que iria ter de explodir um dia num fervilhar físico de corpos. Sentia o seu corpo amordaçado como se tivesse sido arregimentado num daqueles rituais de onde os fetiches são reis, onde os corpos são fustigados por sensações enormes de prazer, mesmo se intocados.
Jorge, esse homem não ingénuo, era cúmplice das suas palavras e das suas mensagens e suspirava pela sua continuação, bem como dos seus poemas: «a vida é para beijos intensos, aventuras estranhas, banhos ao luar e conversas profundas».
Um amor cada vez mais forte, indestrutível, mesmo que parecesse estranho a olhar despojado dessa cartilha comum às palavras que criam sonhos, de um fogo comum que os consumia fortalecendo todos os dias.
- Eu amo esta mulher – dizia para si. – E é como se lhe já tivesse desenhado o rosto conhecendo cada traço, cada gesto, cada lugar; e o seu pescoço e os lóbulos graciosos das suas orelhas fossem já para mim como rios de mel, passados ao de leve pelos meus lábios: e quero-a tomar nos meus braços e adormecer nela.
Dito isto, uma lágrima caiu. Uma lágrima que não lhe borrou a escrita, mas lhe lavou, como soro lava uma lente, uma das peças do teclado; efeito dos tempos aos novos amantes.
Edite, também lhe parecia não lhe ser indiferente.
No seu quadro diário constava: «tudo se resume à última pessoa em quem tu pensas à noite. É aí que o teu coração está… porque tu me amas».
As palavras saiam como as cerejas e se da parte de Jorge elas pareciam totalmente sinceras, de uma maneira tão comovente que até Jorge se emocionava, «tu podes ter tudo porque tu me amas», a Jorge ainda lhe faltavam definitivas provas de amor.
Ouvia badalar a todo o momento no seu coração um carrilhão, sim um carrilhão, não daqueles que “sinam” (adorava neologismos), badalam a desoras, anunciando o chamamento à reza ou o respeito aos santos defuntos (todos os defuntos são, como sabemos, santos) mas daqueles que alegram os aldeões, as freguesias, as paróquias, de contentamento.
«Afinal o amor, o verdadeiro, é um lugar onde não se escondem ciladas, nem armadilhas; um lugar ainda possível neste mundo de sombras, ilusões, inverdades, gente cujos valores e confiança são como um mau papel – moeda, de valores de confiança que já nem tostões valem, quanto mais o valor das árvores de cujo papel se fazem».
«É amor!», pensou novamente tentando afastar qualquer dúvida ou engano, «não há como enganar!». Nem ele se queria enganar, apesar de saber que “Quando se tem um bom coração, Ajudas demais, Acreditas demais, Dás de mais, Amas de mais Sempre parece Seres o que se magoa mais”.
E então escreveu-lhe: Não tenhas medo, meu amor Porque nem todos os tempos são iguais Nem todos os homens são iguais Nem todos os tormentos e todos os trovões rugem no mesmo momento E há um dia em que uma estrela Caída do céu Nos fulmina e Nos toma o coração. Não tenhas medo, meu amor, Que um dia a paixão é como esse sol que nos aquece e toma o coração, como uma prenda que nos há - de bater À porta, fiel e lúcida. Não tenhas medo, meu amor, Mesmo que pareça Que já não tens mais lugar Para acreditar, Saberás que eu sou o sol que te irei alumiar E enquanto vivermos te fará brilhar e aquecerá sempre o teu coração».
Nessa noite fechou “o livro” nesse parágrafo.
E colocou em fundo a letra bold: continua... espero!; porque ser-se feliz sempre se espera, mas muitas vezes não se alcança!
O que iria trazer o novo dia foi o seu pensamento enfaixado na imagem da sua amada: já nem se lembrava se alguma vez teria tido outra!» :) 
          ©PAS (Direitos e... Dedicatória Reservada)