Ontem
estive a ser voluntariamente sujeito de audição de uma comissão de avaliação do
ensino - superior.
Como
quase sempre em Portugal, a audição decorreu sob a fórmula de uma prática
formatada na sua abordagem e um formalismo de «antigo regime» - neste caso,
apenas, de regime pedagógico vigente – não inteiramente amigo da
«produtividade» das conclusões, que permitam implementar as melhores práticas
dos sectores.
Uma
audição colectiva que juntou 5 elementos da comissão nomeada pelo Ministério do
ensino superior, provindos de universidades diferentes - do ISEG à Universidade
Nova, da Universidade de Évora a uma Universidade Inglesa e outra de que não
fixei os nomes, a cinco elementos finalistas discentes de MBA em modo
presencial, mais 5 a distância via teleconferência.
A
Universidade em questão, a UAb, é uma das Universidades de vanguarda deste
país, pela modalidade na forma de relacionamento entre os seus actores, ou «shareholders»,
no sentido da partilha e na capacidade que este tipo de ensino demonstra de integração
dos diferentes actores, mais próxima da realidade do que é hoje a gestão do
conhecimento.
Universidade
muito «utilizada» por quem, já tendo experiências de formação anterior,
pretende não necessariamente enriquecer o curriculum ou propiciar-se um título
académico como forma de «se alavancar», mas pretende realmente enriquecer-se
através dos currículos e do conhecimento.
Como
quase sempre em portugal, a comissão parecia já trazer um guião de «uma tragédia»
previamente encomendada: a tragédia de um país que deixou de crescer querendo ajustar-se
através da mediocridade do status atual, como se o amanhã só renascesse depois
de todas as práticas já existentes serem «passadas a ferro grosseiro», sem
qualquer tipo de «olhar» mais fino que «salvasse» as boas práticas, separando o trigo do joio.
Uma
tragédia alicerçada na falta de financiamento público, com o risco inerente de
reversão de um modelo que tão bons resultados tem trazido a um país,
formativamente com um «gap» passado tão pronunciado de competências.
Um
país onde as propinas são já tão elevadas e impraticáveis face aos rendimentos
das famílias - pese embora comparações sempre possíveis com países onde as mesmas são
elevadíssimas, e totalmente impossíveis de pagar pela grande maioria da
população, esquecendo países onde o futuro constrói-se na sua quase inexistência
(algo, elevação das propinas, que indiciaria um retrocesso não só do regime democrático, como resultaria
na destruição desta tentativa da sociedade portuguesa de apanhar o comboio das
competências, num mundo cada vez mais faseado, baseado e diferenciado no
conhecimento.)
As
questões colocadas pela presidência da comissão focaram-se em duas ou três questões
sobrelevadas pela resposta unânime perceptiva dos envolvidos (experiência consensualmente
considerada como única, impossível de obter por outra forma e uma mais valia,
muito para além de qualquer experiência de modalidade exclusivamente presencial,
para todos os elementos sem exceção), mais em questões de não perceção do que
em questões de perceção - «A ênfase no porquê de um número razoável de
mestrandos terminarem as suas pós graduações e não avançarem para a defesa da
tese?»
Uma
resposta na altura não dada, que o modelo «pela rama» de audição – no sentido do
tempo inflexível e curto para uma reflexão verdadeiramente clarificadora das
experiências dos seus intervenientes, não permitiu.
A
nossa resposta seria, pela perceção que é de todos – até dada por um pequeno estudo
comparativo sobre diferentes tipos de modalidades de ensino que tive (mos)
oportunidade de efectuar em seminário de projeto. E a resposta seria: «Porque o
objetivo dos alunos desta universidade, pela sua tipologia - quase todos já inseridos
no mercado de trabalho - visa essencialmente o enriquecimento concreto pelo
conhecimento, mais do que a capacitação formal aos olhos societários: "o ser,
o aprender, apreendendo, muito mais do que o parecer, ou o querer ser"»
Neste
aspeto é curioso a similitude entre este tipo de audição presencial e os
regimes presencial e de e-learnig a distância, debate coletivo pós-audição, quase
como uma espécie de extensão nas duas horas seguintes dos debates in classe
virtual, informalmente, com troca de experiências diversas, pós 50 minutos de
audição.
No
primeiro, as participações resumem-se e dividem-se por um espaço temporal
diminuto, incapaz de agregar todas as participações, de acrescentar dúvidas,
réplicas e de tirar conclusões – o tempo, o formalismo e as idiossincrassias
são muitas vezes um inimigo da verdadeira abertura.
Por
outro lado, no tipo de ensino sujeito a audição, porque objecto desta
universidade, as matérias são dissecadas coletivamente com a participação de
todos; para além desses espaços físicos se alargarem à reflexão democrática e
coletiva, com total abertura e democraticamente, «just in time», de conteúdos actualizados
e validados pela vida (o tal centramento na vida real) não dependentes de manuais
pontos de chegada, mas exclusivamente pontos de partida, arregimentando pontos
de vista, convergindo no melhor do que deve ter o ensino superior (a
flexibilidade e a participação, tão pouco do agrado de um sociedade política fechada,
enquistada e de «nobreza de corte»); não um ensino expositivo, amordaçado,
unívoco (para que serve um ensino expositivo e de manual, num mundo a manuais actualizados just in time?), mas um
ensino participado, cumulativo, biunívoco, embora encaminhado; dirigido pela
perceção do mais relevante, traçado pelas orientações docentes, de orientação de
rota, colectivamente re - refletido, de tempo alargado, não capturado.
O
pior que o desconhecimento pode, é fazer involuir e reverter, tornando cada vez
mais Portugal uma sociedade decadente, de falta de mérito e de falta de capacidade empreendedora, atrasado
e de «antigo regime.»
É
que a capacidade de empreendedorismo, a tal ligação à prática de que hoje se fala, só pode existir numa faculdade do futuro, em rede, passando pela liberdade, flexibilidade do
espírito reflexivo e constante tomada de perspetiva filosófica: a todo o momento tenho de me actualizar e avaliar, porque o que eu sei em definitivo é que «sei que nada sei!»
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