Citações:

Sem o direito natural não há Estado de direito. Pois a submissão do Estado à ordem jurídica, com a garantia dos direitos humanos, só é verdadeiramente eficaz reconhecendo-se um critério objetivo de justiça, que transcende o direito positivo e do qual este depende. Ou a razão do direito e da justiça reside num princípio superior à votante dos legisladores e decorrente da própria natureza, ou a ordem jurídica é simplesmente expressão da força social dominante
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

A Gratidão É A Nossa Humildade A Prestar A Mais Bela Das Rasteiras À Nossa Vaidade

Não é fácil voltar ao mundo onde os afectos nos tomam como escravos; não é fácil voltar ao mundo onde se danam os abraços, os toques, os reportes das coisas boas, as fragrâncias e só se divisa vaidade, desumanidade, desrespeito, despeito e orgulho. Nesses locais gelados, frígidos, de grande bestialidade, onde os homens são números e materiais descartáveis, é a desprezível carteira que julga substituir-se à amizade - como um bom golpe nos curtumes dava um bom enxerto para preencher corações empedernidos!  
Não é fácil voltar ao mundo onde os afectos nos tomam como escravos, como não é fácil qualquer regresso depois de passar pelo graal, que alguns entendem como o sol num dia de inverno; outros, uma réstia de luz num dia de bruma; ainda outros, uma flor viçosa no deserto; este outro, uma nuvem fugidia num céu limpo; alguns, ainda, como o apetecido remanso familiar, depois de uma jornada.
A gratidão é a nossa humildade a prestar a mais bela das rasteiras à nossa vaidade; uma forma de nos agradecermos; uma mão a retornar tudo aquilo de que tiramos do espaço que nos rodeia; uma das mais belas formas de amar. A gratidão não é granizado, nem gratinado, nem um qualquer acepipe que nos abra o paladar; a gratidão é uma espécie de glacée cobertura de bolo mármore; e, sim, uma espécie de cozido de furnas que nos vai cozendo, apurando, a nós, devagarinho, ao barro. De todo esse desperdício, junto e juntos faremos umas bolas de pêlo que nunca afundarão nas poças; que nunca se arrastarão nos charcos; que nunca flutuarão nos lagos; que nunca se depositarão nos rios; que nunca empestarão os mares e, que nunca se perderão nos oceanos acicatados pelos ventos de oeste ou de leste, de norte ou de sul; e, que cá estarão dentro de mil anos, a espicaçar-nos, tomando conta de nós e separando verdadeiramente, devagarinho, o trigo do joio, à espera que do joio se faça trigo. 
PAS

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