Decantar - não
depurar que a tanto não me atreveria, não há depuração possível fora de nós - é
separar componentes imiscíveis. Ou seja, aqueles que não se dissolvem aparentemente uns nos
outros, por mais que se diga não misturarem mesmo na essência. Um
dos meus maiores divertimentos é, olhar um texto e decantá-lo «do outro» na
sua complexidade; como se os textos fossem seres vivos, animados, despertos, com braços,
pernas, narizes, ouvidos, sentidos: sim, porque todos os textos são complexos; trazem um bocado de nós dentro deles, uns seres microscópicos que teimam em
ocupar cada pedaço do nosso cérebro, das nossas mãos, dos nossos pés. Decantando-os,
assim, finjo, sabendo que é apenas uma ilusão, os tornar em dois. A
decadência falada, já não é apenas uma decadência civilizacional,
da pátria, da mátria, ou mesmo dos sentidos, como a decadência, isolada dos
outros sentidos e propalada por um autor aqui muito falado, o Caminha, o da
decadência de um importante sentido - a do olfacto. Implicar a leitura, das
nossas ruas, das nossas vielas, até das nossas mazelas do dia - a - dia, não
implica, no entanto, a cirurgia das palavras: essas, as deixamos para os corpos inanimados. O que me preocupa, mesmo, é a
decadência da lembrança; o regresso, por esquecimento, ou ignorância, a um lugar
devastado - o que implicará um novo regresso, um novo recomeço e a dor desse lugar esquecido. E é
por isso que, através da poesia, estamos aqui para o que der e vier!
http://anarquistadepapel.blogspot.com (pela palavra seremos mais humanos) Este blogue serve como extensão da secretária do autor, assim uma espécie de oficina de escrita.
Portal da Literatura
Citações:
Sem o direito natural não há Estado de direito. Pois a submissão do Estado à ordem jurídica, com a garantia dos direitos humanos, só é verdadeiramente eficaz reconhecendo-se um critério objetivo de justiça, que transcende o direito positivo e do qual este depende. Ou a razão do direito e da justiça reside num princípio superior à votante dos legisladores e decorrente da própria natureza, ou a ordem jurídica é simplesmente expressão da força social dominante
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)
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