O trabalho da Rosário não é mesmo nada fácil.
Este «postal» faz-me pensar na virtude maior destes posts, a de nos ouvirmos interiormente, para além da intenção secundária de arrasto de promover leituras como quem LeYa.
Quando leio a Rosário vejo quase sempre só a divulgadora, a pedagoga, a poeta, não a editora ousada que gostaria eventualmente de o poder ser mais - a que o sol em cima das nuvens lhe permite.
Poeta maior que é, e assalariada que «somos», perdoo assim este redireccionamento, e haverá alguma coisa a perdoar para além de «editar-se» pouco? Isto leva-me a pensar, como tantos, que se tem de replicar «Rosários» a outros nichos de interesses e tipos de leitura: nem sempre a poética interior nos convoca, ou a beleza estética de uma escrita mais hermética, burilada, vestida de saias com rendas, nos apela.
O acordar para o real, também necessita de espaço, mau grado nos alienarmos mais facilmente num ficcional poético interior. Só mesmo nesse confronto poderemos valorizar a beleza.
A massificação da escrita, a explosão de nichos, as novas formas de publicação, e-books incluídos, a sombra devastadora «Amazónica», para as editoras, pode rapidamente triturar grupos editoriais. Paradoxalmente, ou talvez não, nascem quase como cogumelos - hoje mais lentamente, que os ambientes estão mais secos.
A escrita hoje tornou-se cada vez mais um produto descartável, um quase colectivo despido de autoria que absorve tudo e todos por osmose – a escrita hoje parece cada vez menos uma expressão do individual e cada vez mais um síntese do colectivo. Nessa perspectiva o olhar do editor já não descortina grande virtude numa escrita, que não seja quase um novo abrir de caminho. A percepção tida é a de que um autor para ser hoje considerado autor fora de si, necessita de ser um escalador de degraus, uma espécie de «cortador» epistemológico de 1º grau.
O problema para os autores, hoje, já não é (só) assim tanto a divulgação - que é, quer se queira, quer não, a suprema motivação da necessidade de afecto e reconhecimento humano, mas a atenção pela diferenciação, seja esta consequência de uma precocidade de género, de genialidade, de uma estrelinha, ou de uma máquina orientada bem oleada.
No limite, os autores podem aspirar a um reconhecimento tardio como Rentes de Carvalho, ou à ressurreição em morte.
E essa, é outra forma, de habitar uma zona de enorme conforto.
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