Citações:

Sem o direito natural não há Estado de direito. Pois a submissão do Estado à ordem jurídica, com a garantia dos direitos humanos, só é verdadeiramente eficaz reconhecendo-se um critério objetivo de justiça, que transcende o direito positivo e do qual este depende. Ou a razão do direito e da justiça reside num princípio superior à votante dos legisladores e decorrente da própria natureza, ou a ordem jurídica é simplesmente expressão da força social dominante
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Paris E A Autonomia Imaginária

Em, «Paris Após A Libertação: 1944-1949», Antony Beevor e Artemis Cooper, desvendam as teias de aparência quase ficcional de uma época de ouro para o olhar da ficção, quase se confundindo com a pior realidade imaginada de tempos cinzentos.
Em 1940, já o bispo de Arras, monsenhor Henri - Édouard Dutoit, na sua mensagem de ano novo, a cheirar a velho, se dirigia a «Messieurs et très chers collaborateurs» com esta fórmula pseudo-cartesiana: «Eu colaboro: por isso, já não sou o escravo a quem é proibido falar e agir e que só serve para obedecer às ordens. Eu colaboro: por isso, tenho o direito de contribuir com o meu pensamento pessoal e o meu esforço individual para a causa comum.» 
Autonomia imaginária, digna de um cartesiano manco, servindo que nem luva aos traidores de Vichy. Autonomia imaginária servindo que nem luva - como servidão e serva? - a todos os corpos estranhos, violadores e violados, por medo, sobrevivência, interesse individual,  das sua próprias consciências.
Beevor e Cooper relembram em (Paris Após A Libertação; 35), um episódio passado no departamento de Eure-et-Loire, em 1940, com um mártir da resistência, de seu nome, Jean Moulin.
Este patriota, resistente, é selvaticamente espancado, preferindo tentar opor voluntariamente a sua vida a assinar uma declaração falsa imputando à infantaria Senegalesa Francesa um massacre de mulheres e crianças. Isto na sequência de um seu pedido de explicações ao quartel - general alemão, pelo assassínio gratuito de  uma velha autóctone; patriota da sua própria dignidade, a velha senhora fora abatida e amarrada como aviso a uma árvore, pelas tropas nazis, pela resistência pacífica e indignada oposta à violação brutal da sua privacidade: «A minha casa é a minha fortaleza!», diria ela, como muito de nós que preservamos a liberdade e a autonomia.
Nem sempre a ficção ultrapassa a realidade, como nem sempre a autonomia reflecte a realidade, tornando-se uma Autonomia Imaginária.


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