Citações:

Sem o direito natural não há Estado de direito. Pois a submissão do Estado à ordem jurídica, com a garantia dos direitos humanos, só é verdadeiramente eficaz reconhecendo-se um critério objetivo de justiça, que transcende o direito positivo e do qual este depende. Ou a razão do direito e da justiça reside num princípio superior à votante dos legisladores e decorrente da própria natureza, ou a ordem jurídica é simplesmente expressão da força social dominante
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Conselhos

O primeiro conselho básico para um escritor devia lapalacianamente ser só um: «que escreva!»; e, «que escreva muito!»; e, «que goste daquilo que faz!» 
Posteriormente podia esse consagrado - já escritor como se comprova pela resposta - como quem não quer a coisa, perguntar: «mas escreves porquê ou para quê?» A pior resposta com que se podia confrontar seria, com certeza, uma do tipo: «porque quero ser famoso e conhecido»; ou, mesmo, «faz-me bem ao ego»; ou, ainda, «porque quero ser eterno!»
A este conjunto de respostas, o consagrado torceria o nariz porque, na sua experiência solitária, quase ascética e conventual de escrever feito, (nem todos podem coleccionar revoluções, liderar milícias ou mesmo coleccionar e liderar... mulheres, como Hemingway e... porque os conselhos já há muito deixaram de ser apenas no masculino), para se ser famoso e conhecido nada melhor do que uma carreira política: ora no governo, ora numa empresa de regime, à vez, porque carreira política é extensa, pouco atreita a falta de inspiração, bloqueios e suicídios e só acaba... na reforma... dourada! Para quem gosta de fazer amigos é líquido ser (quase) tão aborrecido uma ou outra carreira. A primeira, pela simples razão dos teus amigos serem tão só, quase sempre, personagens das tramas dos teus livros; a segunda por - dizem alguns personagens de estórias diárias - não ser um lugar onde se faça ou, mesmo, se queira fazer amigos. Dizem! ... porque quando se reformam… - palavra que o escritor usa apenas como sinónimo durante o processo de criação dos seus livros - … ninguém percebe, acredita!?, como não fizeram amigos. Conhecidos… é coisa bem diferente! Porque, aqui chegados, quase todos se fazem conhecidos; quase nunca pelas melhores, mas pelas piores razões. 
Claro que o jovem, ou o menos jovem, também podia responder: «porque gosto muito de estar à secretária!»; ou, «porque sou dotado de uma inata inventiva!», como se se quisesse substituir ao criador na criação - que não no simples processo, no trabalho; ou, mesmo a mais honesta das respostas a que falta, só e aparentemente, brilho: «porque tenho contas por pagar!» E acrescentaria, meio envergonhado por não ter sido dotado dos mesmos instrumentos moleculares ou musculares de um Stallone: 
«E isso evita-me um desgaste físico que não ia suportar, estivesse eu, agarrado diariamente, ao selim de um daqueles camiões que recolhem o nosso lixo».

Esta última resposta, antes de um enorme manancial delas que se podiam (des)construir, também não seria a mais avisada; já que se o visado tivesse alguma consciência ambiental saberia que correria o risco de se tornar ele próprio, rapidamente, um criador de lixo. Ou, talvez, não ele!, mas, no seu lugar, a sua casa editora. Casas das letras que já há muito, pelo seu realismo de experiência feito, o via como um burro de carga: já que os livros, como os cavalos – pelo que «enfardam» – também se abatem!

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