Uma parte substancial da nossa vida
rege-se pelo princípio da relatividade, como se os próprios objectos fossem
apenas estática ou espessas cortinas que se desfazem imateriais por entre os
dedos. Nem sempre foi «quase» totalmente assim – e, o «quase», porque nunca se
é alguma vez qualquer coisa de definitivo; aproxima-se, sim, de o ser, quantas
vezes por tentativas sucessivas de questionar pela aprendizagem. Assim, não
acreditemos em heróis ou vilões, monstros ou anjos, ignaros ou génios,
prodígios ou desprovidos de vontade própria a que chamamos, tremenda,
impiedosamente, idiotas. Há sim, apenas seres que aprendem – apreendem? – a
arte de partilhar com outros seres, como os antigos aprendiam a arte de marear
por entre a espuma «angulando» as vagas.
Como não há escritores em si próprios, consagrados e outros (in) confirmados –
pelo menos os que vivem pelo fascínio da sua própria tradução, que é uma
espécie de tradição de se encenarem nas palavras. Há apenas escritos bons e
maus – mas há técnicas (treino da consciência? as palavras escondem segredos) que se apreendem e que vão fazendo caminho - reflexo do treino da
nossa própria consciência, desafios constantes de quem fez das palavras um modo
fácil e soberbo de «se percorrer» sem fadiga ao mundo?, que nos distinguem por
cartas de foral, por um juiz – juízo? - de foral, juiz e juízo em empatia com o
povo, com os seus gostos e desgostos,
receios e audácias, prazeres e desprazeres, disposições e indisposições,
oportunidades e inoportunidades, tudo no cadinho que é o tempo - o grande C: construtor
e constritor! Vivemos numa espécie de limbo de normalidade – e o que é a
normalidade senão uma espécie de norma com um enorme banda voltada aos pontos
cardeais? Ou um túnel, com uma luzinha que pisca mais ou menos intensamente a
espaços e que projecta o sonho tão comum de um quase chegar inopinadamente
quebrado. Há, assim, períodos de exacerbado absoluto - mesmo de profundo
realismo - como há períodos de euforia e de descrença se não se atinar no
conselho do(s) poeta(s) de que: «tudo vale a pena, se a alma não é – e nunca é,
necessariamente - pequena!» Foi-se entremeando o preto e o branco, o gosto e o
não gosto, a simplicidade e o complexo, mas no fim somos apenas tempo - tudo o
que fazemos percorre desse modo essa banda, umas vezes estreita, outras vezes
imensa, que é, umas vezes, exercício, outras, uma espécie de grito – tão só à
espera apenas do eco que corrija o tiro, daquilo que nos distingue pela
inteligência, das pedras: a nossa capacidade de apreendermos e aprendermos com
o que nos rodeia, seres anónimos, cadáveres adiados que replicamos e
reescrevemos. Não se «larga» a mão de quem nos ensina a bolinar por entre as
ondas...e o desafio está sempre presente, mesmo que imerso!
http://anarquistadepapel.blogspot.com (pela palavra seremos mais humanos) Este blogue serve como extensão da secretária do autor, assim uma espécie de oficina de escrita.
Portal da Literatura
Citações:
Sem o direito natural não há Estado de direito. Pois a submissão do Estado à ordem jurídica, com a garantia dos direitos humanos, só é verdadeiramente eficaz reconhecendo-se um critério objetivo de justiça, que transcende o direito positivo e do qual este depende. Ou a razão do direito e da justiça reside num princípio superior à votante dos legisladores e decorrente da própria natureza, ou a ordem jurídica é simplesmente expressão da força social dominante
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)
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