Desperto para o dia sem
ilusões nem esperança.
Nada é tão triste como a
liberdade enclausurada,
Nem nada tão frágil como a
liberdade à solta.
«Quem eu sou?
Quem és tu?
Que vontade conténs em ti?
Que saudade andas a
arrastar?
Que futuro encontras em
mim?»
Sentado à beira de uma
pedra,
Num tufo de relva,
desgastado o verde,
Transporto-me para a
montanha
Que um duende parece ter
colocado à minha frente.
«Serei capaz?
Serei suficientemente
audaz para atravessar esta montanha?
Que perigos me espreitam
por detrás?
Que homem sairei dos seus
trilhos?
Que caminho tomar?»
À beira de um caminho
Recolho com a mão uma
avezinha caída,
Que treme assustada.
Perguntei-lhe:
«Quem és tu?
O que aqui fazes?
Que voo seguiste?
Que amparo não tiveste?
Que corrente de vento te
lançou ao chão?
Que dor é a tua?»
Aninhou-se na minha mão,
Enrolou-se e soltou um
último suspiro.
Abri uma cova e
enterrei-a,
Com algumas mãozadas de
terra.
Quando voltei ao meu
caminho,
Lancei um último olhar
E vi uma mão cheia de aves
a esvoaçar
Em volta do local onde a
tinha enterrado.
Quando me aprestava a
subir uma pedra
Em forma de corcovado,
Ouvi um chilrear nas
minhas costas.
Centenas de pássaros
esvoaçavam em grupo,
Fazendo um longo rasto em
formato de cauda.
Na sua frente ia um
pássaro
Que brilhava como mais nenhum
E a cauda transformou-se
num repente numa estrela
Que brilhava com enorme
intensidade.
Esgotado, segui o meu
caminho,
Momentaneamente amparado
por esta visão grotesca, mas bela.
A montanha inclinava-se
para mim cada vez mais
E era como uma escada para
as nuvens,
Que se fantasiavam agora
de formas de fadas, de animais, de deuses.
O ar começava a rarear
naquelas camadas,
Ouvia a minha respiração
ofegante,
As minhas veias a latejar,
O meu coração a palpitar;
O esforço em me encontrar
com as pedras,
E os paus da natureza,
porque a natureza não é só flores e folhas,
Era cada vez maior.
A vegetação rareava;
Rareava, também, onde me
agarrar
Para contrariar o declive.
A cada passo,
pretensamente ganho,
As pedras soltavam-se e faziam-me
recuar.
Os meus joelhos
Começaram a arrastar-se
por aquele deserto - pedregoso,
A sofreguidão esgotou o
cantil.
Um último pingo adiou-me o
cansaço
E a exaustão para o
próximo movimento.
Aves de rapina de enormes
dimensões e aspecto aterrador,
Espreitavam ao perto, cada
uma a ocupar,
Como por ordem de
Antiguidade,
As cristas das enormes
protuberâncias rochosas.
Quando cai pela última vez
por efeito da gravidade,
Que me queria levar outra
vez de volta ao início do caminho,
Ouvi novamente um silvo de
aves a esvoaçar,
A aproximar-se, centenas
em bando.
Perto de mim, desenharam
em círculos
Cada vez mais pequenos uma
mão enorme,
Uma enorme mão que, pouco
antes de desfalecer,
Senti puxar e elevar-me.
Quando acordei,
Parecia ter sido
depositado num jardim imenso.
Abria-se à minha frente um
enorme vale,
Onde milhares de pequenas
aves esvoaçavam
Escrevendo no céu azul,
Como folhas ao vento,
Um flash com as seguintes
palavras:
«A, VIDA, NUM, SONHO!»
Muito bonito. Parabéns. :-)
ResponderEliminarObrigado pela simpatia, Sandra!
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