Hoje, o Bookoffice publica a resposta do João Ricardo Pedro ao
questionário
de Proust, revisitado por Joel Neto. Ouvi uma vez o João ao vivo, e não me
passou nem despercebido o seu humor, nem um certo desconforto por alguma falta
de independência e de enfado pelas tarefas, exigência, do - pós atribuição do
prémio LeYa; afinal, não há almoços grátis como esconjura o
racional «homo - economicus». Tudo, condimentado com alguma ansiedade e até
alguma dúvida assumida, honesta, pela sua continuidade na escrita publicada
pois, como se sabe, «uma andorinha não faz a primavera».
E os três anos que assumiu com hombridade ter
demorado a escrever o seu premiado livro, revelam um talento evidente, mas
igualmente um sofrimento de trabalho artesanal feito com risco de não
replicação, apesar da motivação «simpática» e acrescida. Concordo, também, como
ele afirmou numa «mesa pouco redonda», de que ao autor nada mais devia ser
exigido senão o acto de escrever. Mas compreendo que isso seria linguagem de
marketing da oferta, não linguagem do posicionamento pela procura e quando as
oficinas de escrita eram oficinas e não cadeias de montagem.
Como compreendo igualmente o
posicionamento das editoras num mercado de excesso de oferta, procura por
defeito, défice de rendimento e/ou défice de leitura, num mundo «a deitar fora,
livros, pelas costuras» bem, assim, com a cada vez maior dependência da
imagem/comunicação como forma de «vida».
Assim se compreende, também, como a
aposta que economicamente é o risco da editora, num novo escritor, tem de
apontar para previsão de número de vendas que equilibre o actual esquema de Ponzi desta
actividade. Assim se percebe «a fuga para a frente» das editoras, no futuro
próximo ou neste presente «agora», para a venda de serviços editoriais, de
«editing», de revisão, de comunicação,...
Ser escritor publicado trás, assim,
hoje, exigências muito para além da escrita. Obrigando a uma exposição que não
é do inteiro agrado do escritor que se não se mova por pedantismo ou excesso de
vaidade, já que a vaidade sem demasia é um factual «fillet» humano.
Comum ao afirmado pelo João é a minha
cada vez maior dificuldade em reter e memorizar conteúdos de leituras. Talvez
por ter um caldeirão já demasiado cheio, e sentir a necessidade de o ir
aliviando e «soltando» como as panelas de pressão. O que torna a leitura diária
um quase descartável,
sendo a influência cada vez mais submergida num edifício, sempre incompleto,
mas com ideias cada vez mais definidas que barram, pelos menos aparentemente,
muito do «aspirado» e pouco deixam passar de inspirado.
Achei também graça, no questionário
de Proust, à coincidência
da sua resposta a esta pergunta:
«E qual o parágrafo que mais lamenta não
ter sido você a escrever ou, pelo menos, a frase?»
O Que Diz Molero, de Dinis Machado. «"Acho que
todas as pessoas são mais ou menos infelizes", disse subitamente Mister DeLuxe, “mas
os artistas são infelizes de uma maneira dramaticamente infeliz”. “Isso é muito
agudo, Mister DeLuxe”, disse Austin com um olhar brilhante, “a isso apetece-me mesmo
chamar uma definição”.»
Achei graça pela coincidência.
Há cerca de seis meses entreguei uma cópia para submissão à edição de romance
meu, escrito numa linguagem próxima de «O Que Diz Molero».
Escrito num mês e finalizado em Abril
deste ano, o romance despretensioso, ainda quase em bruto, pretende ser uma
homenagem a Dinis Machado, um escritor considerado menor até à publicação desta
sua obra, um homem que é, para mim, um símbolo da grandeza e miséria do
escritor, e da volatilidade
da escrita. Dinis e Molero
que li depois da sua morte e cuja obra cintilou na minha vida, a espaços, na
minha memória.
Não tendo ficado no quadro de honra da
rentabilidade, num país onde os livros se acumulam em catadupa nas livrarias
antes de serem condenados à guilhotina, irei possivelmente o dar a conhecer
como e - book.
Em memória de Diniz Machado
e como um atestado de um exercício simplificado de escrita despretensiosa
e humorada, esperando fazer que os mais novos revisitem DINIZ MOLERO.