http://anarquistadepapel.blogspot.com (pela palavra seremos mais humanos) Este blogue serve como extensão da secretária do autor, assim uma espécie de oficina de escrita.
Portal da Literatura
Citações:
Sem o direito natural não há Estado de direito. Pois a submissão do Estado à ordem jurídica, com a garantia dos direitos humanos, só é verdadeiramente eficaz reconhecendo-se um critério objetivo de justiça, que transcende o direito positivo e do qual este depende. Ou a razão do direito e da justiça reside num princípio superior à votante dos legisladores e decorrente da própria natureza, ou a ordem jurídica é simplesmente expressão da força social dominante
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)
segunda-feira, 29 de dezembro de 2014
OS NOVOS EXTRAORDINÁRIOS
AS FLORES QUE REPOUSAM EM TI
As flores que repousam em ti
São como meninas e tempos agrestes:
A Lúcia lima que me ofereceste
Soa-me a um cheiro
Que me inverte o paladar.
Nada é mais belo
Que a flor lilás que me deste
Adoro-te o tempo
E faço-te menina.
Que repouso é este
Que sinto no meu coração
Esta espécie de sopro
De um tempo que sei
Há de retornar?
As flores que repousas em ti
Serão sempre viçosas!
(Viagem a Dali; as flores que repousam em ti; pag. 216; 17Jan13)
domingo, 21 de dezembro de 2014
DISCO RÍGIDO DE LICÍNIA QUITÉRIO
Um livro que temi à cabeça ser incapaz de ler, sabendo
Licínia, poeta (já que promovo um universalismo abstraccionista menos biográfico
e voluntariamente complexo), e um livro devotado a um país que muitas vezes sinto
dentro de mim como um corpo estranho (mesmo sabendo haver quem aponte para a simplicidade
como valor eterno e supremo, não perdoando a um quase autor desconhecido a
arrogância, arrogando-se chamar complexo ao que alguns poderão ver como
complicado... mas quem disse que há Deuses na Terra?!
E, talvez, por convergir num outro tipo de gosto e de
memórias do real, pois isto das lembranças não devemos ignorar poderem ser
brancas mas, também, vermelhas (ou rosas apesar dos cravos!), realistas ou românticas,
rurais ou urbanas, globais ou locais, rectangulares ou esféricas, podendo o gosto
ser mais recheado de cheiro a rosmaninho do que ao suor e à diversidade das minhas impressões ou
do "abstraccionismo realista?!" (contradição nos termos!), que gosto
de ceder a uma Vida Real Majestática, provocando-a, para a melhor conhecer
— o gosto diverge, é verdade, não se discute, absorve-se e observa-se!
O "Disco Rígido" da Licínia está, no entanto
e entretanto, recheado de "deliciosos" mini contos (CC bater-me-á,
com a força granjeada no teclado, com um maço, por me atrever a "deliciar",
literariamente), como distingo o "Trevo" e os "Os Anos".
Bem como pululam mais de seis dezenas de pequenas
pérolas da nossa condição simples familiar, quase como conversas em família, onde
se conjugam essas mãos cheias de apanhados de ficções e divagações familiares e
de vizinhança, tantas por certo como as memórias da Licínia, a sua aprendizagem,
ensinamentos, repousando num tempo histórico datado de personagens, construído na
unidade da sabedoria de quem vive e olha ao redor dos seus, com certeza, bem vividos
e recheados "enta".
O "Disco Rígido" da Licínia está, assim,
bem e recomenda-se, não apresentando sectores danificados e estando neste giro
literário, de posse de todos os seus bytes e ao abrigo de todos os bit(ate)s.
© PAS (Pedro A. Sande)
© PAS (Pedro A. Sande)
sexta-feira, 19 de dezembro de 2014
PRESENTE
Neste fim de 2014 dou a pensar como somos seres frágeis e sensíveis.
Dou
também a pensar como há Portugueses Extraordinários e como somos, como
diz amiúde o António Luiz Pacheco, um povo recheado de uma enorme
riqueza individual e cumulativa, mesmo que nos percamos tantas vezes na
conjugação do plural-colectivo ".
Escrever como ideia, como vontade,
como procura, ou entrega, é difícil. Sempre o foi, de resto, de uma
forma diferente, é certo, noutros tempos. Na vida muitas vezes basta um
mimo, um afago, uma oportunidade, um olhar do outro, para nos
reconfortarmos e sabermos que o caminho da harmonia e partilha da
felicidade, ou da dor do Outro, é o único caminho que devemos trilhar
como seres humanos.
Sou um pobre autor que só quer dar sentido à
Vida, partilhando o que considero serem os valores essenciais que dão
sentido à nossa existência.
Valores que encontro no gesto simpático,
amigo, de enorme "Largueza" do João Pinto-Coelho , como de todos os
Extraordinários e da nossa magnífica e querida Rosário.
Um muito
obrigado ao João, não tendo dúvidas, pela amostra deste simpático
trabalho figurativo, da qualidade da obra que teremos o prazer de
receber como prenda postcipada.
© PAS (Pedro A. Sande)
© PAS (Pedro A. Sande)
quarta-feira, 17 de dezembro de 2014
ELE HÁ O DEUS DAS MOSCAS, MAS TAMBÉM O DA ESCRITA
Que a língua portuguesa não é fácil nas suas regrazinhas miudinhas já todos sabemos, incluindo escreventes, escritores e putativos candidatos.
Ontem uma amiga que escreve, e bem, chamou-me a atenção para algumas minhas calinadas, do português (in)correcto, relativas a um poema que escrevi de chofre sem um olhar sequer correctivo (o que pode significar a distância entre o percepcionado na oralidade e as regras definidas na nossa língua para a escrita).
Aliás, é curioso, que esse é um dos motivos por que muitos autores evitam escrever e se expôr nas redes sociais, um conselho também usual de editores para autores, como se isto pudesse em absoluto ser um estigma de dimensões não bíblicas, mas literárias. «Escreves com erros ortográficos, logo não mereces o Olimpo da escrita!» (claro que isto só acontece antes dos leitores se tornarem autores e perceberem que mais do que atingir o Olimpo, a escrita está hoje mais virada para atingir o Inferno).
A primeira relacionava-se com o acento agudo do «tirar-me-ás» que considerava devia ter a forma de «tirar-me-às».
A segunda relativa a «mas vou-te esperar», que considerava dever tomar a forma de «mas vou esperar-te».
A terceira relacionava-se com a má colocação da pontuação que obrigava a uma alteração de uma palavra de singular para plural.
A ortografia portuguesa não é, de facto, fácil para um português, calculo então para um estrangeiro!
E já nem falo nas alterações preconizadas pelo NAO, que fez da ortografia um campo minado; ou, se para tanto existir o engenho e a liberdade, um campo para libertários e anarcas que, cada vez mais, consideram que tudo o que não altere demasiado a compreensão da leitura joga na riqueza da língua: afinal já não há mais gente a dizer «ir de encontro a» do que «ir ao encontro de»? sabendo nós que no meio dos encontrões vamo-nos entendendo (ou será vamos entendendo-nos)?
Livra, que quanto mais se escreve mais dúvidas se vão instalando, mesmo que pensássemos já estarem há muito superadas!
O Deus da Escrita condenou-nos a replicar erros, tantos como as moscas que assoberbaram o Orestes da peça Les Mouches de Sartre.
© PAS (Pedro A. Sande)
Livra, que quanto mais se escreve mais dúvidas se vão instalando, mesmo que pensássemos já estarem há muito superadas!
O Deus da Escrita condenou-nos a replicar erros, tantos como as moscas que assoberbaram o Orestes da peça Les Mouches de Sartre.
terça-feira, 16 de dezembro de 2014
QUANDO EU MORRER
1. QUANDO EU MORRER (do livro Tempos, As Novíssimas Sombras)
14-06-2013
Quando eu morrer vais deixar-me ser escritor, que é isso que eu quero ser quando for novo;
quando eu morrer tirar-me-ás
as medidas à medida e encomendarás um caixão, feito de letras, chumbado a
caracteres nas lombadas;
quando eu morrer não sei se
ainda aqui estarás, mas vou esperar-te, para te desencaminhar ao teu amor
terreno e podermos,
sentados na nuvem mais
próxima, rir às gargalhadas daquele tempo curto que julgavam ser o mais fiel
passaporte para a eternidade;
quando eu morrer seremos os
amantes mais novos daquele céu e, empoleirados de mãos dadas,
dardejaremos como Afrodite e
Eros os transeuntes distraídos que se atravessarem aos nossos pés.
© PAS (Pedro A. Sande)
sábado, 6 de dezembro de 2014
CHAMA, ESCRITA, CONTACTO
O
mundo da escrita (e da edição) é, como sabem os que por ela andam, um mundo
muito difícil, recheado de múltiplos obstáculos na transposição da
"mensagem" do "autor ao leitor": a discricionariedade, a
aleatoriedade (a sorte ou o azar), a exigência, o tempo, o retorno, o interesse,
o amiguismo, o "tráfico" de influências, as consequências, a
incompreensão, a solidão imposta pela escrita, etc.
Difícil
não é o acto de escrever, para quem o faz com paixão, mas o acto de ser lido,
de partilhar, o acto de um livro encontrar e "casar felizmente" com o
seu leitor. Um acto voluntário, naturalmente em menor ou maior grau, uma janela
da necessidade do EU. Mas que é, também, empatização, sociabilização, uma
exigência de estímulo, motivação, para essa vontade de partilha ou para esse saciar
da maior ou menor "vaidade" do EU: estímulo, já que o Homem é um ser
de afectos; e, tal como o Homem, o Autor anda mesmo que involuntariamente sempre à procura de algum reconhecimento, de algum calor por parte dos seus
pares leitores, de alguma acha que o ajude, impulsione, a manter a chama da
escrita, nesse diálogo-partilha com O Outro, acesa.
E quando alguém que leu a obra nos dirige estas palavras, «Gostei muito de facto
.. é uma daquelas obras, que apetece ter sempre por perto, para de vez em quando
ler algumas páginas ... ajuda a refrescar a alma .. e aumentar a cultura,
naturalmente ...», há uma agradável sensação de plenitude, uma sensação de
bem-estar por podermos dar algum momento de alegria, satisfação, prazer,
acrescentando algum calor a um mundo gregário que precisa ser constantemente
alimentado...
Para que a chama desta enorme lareira, que é o nosso planeta terra, definitivamente, sem a nossa insignificante contribuição individual (que não tem de ter a dimensão de qualquer dos nossos Egos), não se apague.
Para que a chama desta enorme lareira, que é o nosso planeta terra, definitivamente, sem a nossa insignificante contribuição individual (que não tem de ter a dimensão de qualquer dos nossos Egos), não se apague.
© PAS
(pedro a. sande)
sexta-feira, 5 de dezembro de 2014
TRECHO DE MOOLB, O REVERSO
«Nas ruas e
avenidas abertas não havia nada de tão significante que o fizesse
lembrar haver um mundo diferente dos outros mundos.
O mesmo frenesim, a mesma urgência, a mesma distância, a mesma sensação de caminhar para, esquecendo o inevitável. Em pouco tempo embrenhava-se então em ruas cada vez mais estreitas, onde paulatinamente a sensação era de tempo parado, como aquelas brincadeiras de criança que à distância de um stop levavam a uma posição de estátua.
Os próprios transeuntes afiguravam mover-se em acção-reacção lenta. O seu movimento de pernas e braços parecia não se fazer em ciclos contínuos completos. Eram agora visíveis a olho nu, agonistas e antagonistas, actores e espectadores, Blooms e Inversos, captados ao pormenor por uma velocidade muito lenta de obturador (ou seria rápida?)... cada trajectória da vida como se o espaço tivesse perdido para sempre o segredo escondido entre dois momentos... a ingenuidade nem sempre é involuntária.
E, pela segunda vez, um estrondo intenso abalou os seus alicerces de homem prevenido, ou do estratega que evita e não afronta a sorte (e o azar) no lugar que sabe estrategicamente ser mais conveniente.
Quando dobrou a esquina, atraído pela explosão e pelo cheiro a enxofre, a casa de oração confundia-se com a praça rodeada de um espesso fumo branco, com um halo a misericórdia a encimar-lhe a fachada. Ainda se divisavam espíritos a abandonar indolentemente os corpos, chorosos e desgostosos por cá deixarem os seus entes queridos.
O mesmo frenesim, a mesma urgência, a mesma distância, a mesma sensação de caminhar para, esquecendo o inevitável. Em pouco tempo embrenhava-se então em ruas cada vez mais estreitas, onde paulatinamente a sensação era de tempo parado, como aquelas brincadeiras de criança que à distância de um stop levavam a uma posição de estátua.
Os próprios transeuntes afiguravam mover-se em acção-reacção lenta. O seu movimento de pernas e braços parecia não se fazer em ciclos contínuos completos. Eram agora visíveis a olho nu, agonistas e antagonistas, actores e espectadores, Blooms e Inversos, captados ao pormenor por uma velocidade muito lenta de obturador (ou seria rápida?)... cada trajectória da vida como se o espaço tivesse perdido para sempre o segredo escondido entre dois momentos... a ingenuidade nem sempre é involuntária.
E, pela segunda vez, um estrondo intenso abalou os seus alicerces de homem prevenido, ou do estratega que evita e não afronta a sorte (e o azar) no lugar que sabe estrategicamente ser mais conveniente.
Quando dobrou a esquina, atraído pela explosão e pelo cheiro a enxofre, a casa de oração confundia-se com a praça rodeada de um espesso fumo branco, com um halo a misericórdia a encimar-lhe a fachada. Ainda se divisavam espíritos a abandonar indolentemente os corpos, chorosos e desgostosos por cá deixarem os seus entes queridos.
(PEDRO A. SANDE, PAS, MOOLB, Pág. 65)
sábado, 29 de novembro de 2014
ESTAMOS TESOS QUE NEM... BIROTES! ORA "BIRA" E TORNA A "BIRAR"
E até os carapaus já parecem fugir de nós das águas e, logo, do prato, como diabo fugindo da cruz, fartos que os comparem a «Estamos tesos que nem carapaus», ou «Estamos tesos que nem barrotes», ou ainda, «Estamos tesos que nem virotes» que, para quem não sabe, são setas curtas, fortes e grossas que também pode ter uma formulação ou versão nortenha: «Estamos tesos que nem "birotes"».
© PAS (Pedro A. Sande)
GRAFORREIA
Estaremos nós, os que dedilham como se não houvesse
amanhã, submetidos a essa terrível peste chamada de graforreia?
Essa
necessidade permanente, imperiosa e irresistível de escrever... Fará ela
parte de um pesado quadro sintomatológico que nos aponte outros
distúrbios como a esquizofrenia?
Não me parece que esta última exista, mas a graforreia preocupa-me seriamente.
Mas também entre outras formas da família como a Gonorreia ou a Verborreia, que é mais sintomaticamente colectiva, esta parece-me bem mais simpática; embora se saiba por experiências anteriores possa atacar músculos como os glúteos ou nadegueiros.
E ninguém quer ser nesta sociedade de consumo imediato, um bunda mole, pois não?!
© PAS (PEDRO A. SANDE)
Não me parece que esta última exista, mas a graforreia preocupa-me seriamente.
Mas também entre outras formas da família como a Gonorreia ou a Verborreia, que é mais sintomaticamente colectiva, esta parece-me bem mais simpática; embora se saiba por experiências anteriores possa atacar músculos como os glúteos ou nadegueiros.
E ninguém quer ser nesta sociedade de consumo imediato, um bunda mole, pois não?!
© PAS (PEDRO A. SANDE)
A PARANÓIA CONSTITUCIONAL DE PESSOA
A todos aqueles que acham
que a escrita só é escrita quando não ofende os cânones, a liberdade da
escrita deve resistir a todas as comparações e alcandorar-se ao seu
lugar: escrevei pois então sem medo, o futuro vos julgará com o polegar
colocado no seu devido lugar!
E deu-nos o lugar o JAM. Leiam sobre os torcidos de Pessoa : http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/12533.pdf
E deu-nos o lugar o JAM. Leiam sobre os torcidos de Pessoa : http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/12533.pdf
Diz JAM, José Adelino Maltez, sobre citação de Mário Saraiva: Sofre (Pessoa) de "esquizofrenia mista de hebefrénica e paranóica ... um
definido psicopata, com fortes perturbações da razão e do discurso". O
pior é a "graforreia ... necessidade
permanente, imperiosa e irresistível de escrever...pesado quadro
sintomatológico da sua esquizofrenia" (Mário Saraiva)
Vasco
Graça Moura, que Deus o tenha, tinha esta coisa desagradável, de se
irritar mais com as pessoas do que com a escrita: «Mais tarde, Graça
Moura haveria de declarar numa entrevista: «Não sei se gostarei de dez
por cento daquilo que [Pessoa] escreveu,
embora eu seja muito marcado, na minha poesia, como quase todos nós.
(...) O Pessoa irrita-me em grande parte (...) Mas, mais do que isso,
irrita-me a liturgia, o exercício sacralizante em redor da sua figura. É
irritante e injusto (...) há muitos nomes que têm sido prejudicados por
essa corrida a Pessoa» O sentimento de injustiça tem esta coisa
irritante de se tornar em sentimento de inveja...
© PAS
© PAS
quinta-feira, 20 de novembro de 2014
O VELHO LOBO DO... LIVRO
Hoje apetece-me partilhar algo. Esta entrevista do Lobo no meio dos cordeiros. É estranho, li pouco do Lobo Antunes. Li-lhe os primórdios: o Cu de Judas e a Memória de Elefante e mais um ou dois mais recentes.
Mas sempre tive uma enorme admiração pelo Homem, aquele que diz «já não tem a desculpa da surdez para fingir que não ouve». O Homem com o devido H é genial. Mesmo se tresanda a sobranceiro. Uma falsa sobranceria, de laivo irónico. E este sentido de ser monge, num lugar tantas vezes abjecto e disforme é verdadeiramente genial. "Gabo-lhe" um sentido de vida que talvez não fosse tão certo, como desejado. Não o invejo porque também tenho este sentido de liberdade e esta falsa vontade de me flagelar: e é de liberdade que devemos falar deste velho lobo... do Livro.
Mas sempre tive uma enorme admiração pelo Homem, aquele que diz «já não tem a desculpa da surdez para fingir que não ouve». O Homem com o devido H é genial. Mesmo se tresanda a sobranceiro. Uma falsa sobranceria, de laivo irónico. E este sentido de ser monge, num lugar tantas vezes abjecto e disforme é verdadeiramente genial. "Gabo-lhe" um sentido de vida que talvez não fosse tão certo, como desejado. Não o invejo porque também tenho este sentido de liberdade e esta falsa vontade de me flagelar: e é de liberdade que devemos falar deste velho lobo... do Livro.
http://visao.sapo.pt/antonio-lobo-antunes-nao-tenho-muito-jeito-para-viver=f802105
© PAS
© PAS
terça-feira, 18 de novembro de 2014
GEORGE
«PAS FB comments are the avatar of Moolb in the "Reverse of Bloom".
If you liked Obsession Odete, you will like Reverso even more (George Meirelles)»
O meu amigo George Meirelles é, como eu, um antigo nadador. E uma vez nadador, sempre nadador. Para um nadador, os objectivos mínimos a atingir amanhã terão sempre de ser melhores do que os atingidos ontem. Só assim nadar num espaço fechado faz sentido. O mesmo se deve ter como objectivo na escrita. O próximo livro terá de ser necessariamente melhor do que o anterior. Com sentido de urgência: que cada dia que vivemos é um dia a mais que consumimos dos poucos com que somos agraciados.
© PAS (Pedro A. Sande)
segunda-feira, 17 de novembro de 2014
OBSESSÃO
«Mas parei, entretanto, numa loja forrada a película transparente. Daquelas que dão recato e privacidade ao seu interior, mas que não nos recatam das suas entranhas, como se a rua fosse agora um aquário cheio de peixinhos coloridos, daqueles vermelhos, redondos, gordinhos, ou daqueles esguios e com grandes plumas. Isto sem falar em todo o outro tipo de fauna piscícola que abundava pela baixa. Olhando do lado de fora, a vidraça transformara-se por instantes num pequeno aquário que reflectia vários pisces de cores diferentes e uma enorme pisciana com o rosto movido a piedade da minha sogra; que os afeiçoava nas mãos e lábios, roubando-lhes festinhas e ósculos que os desengorduravam, como fazem aquelas esponjas que nos removem as células mortas. Felizmente que um ruído e um estremecimento forte vindo das vísceras da terra fez desaparecer, como seixo ou fezes de pomba num plano de água, essa imagem tão desagradável.
Com os olhos colados à vidraça vi um balcão com um enorme cartaz que dizia: terapia Reiki. Esse nome não me era estranho. Intrigado, lá entrei para tentar perceber o seu significado.
Por detrás do balcão estava uma mulher magra, elegante, espampanantemente vestida, com umas unhas enormes avermelhadas e um batom que lhe dava um alto-relevo aos lábios:..»
© (PAS, Obsessão, pag. 88)
URBE-NEGRA
Diz o extraordinário Luís MONTENEGRO, ou CIDADANIA NEGRA, se o quisermos qualificar na sua realidade:
«O País está melhor, os Portugueses é que não!» Diz sem se rir, mas com um laivo de maldade e ironia no rosto, como dizia Himmler, até receber na face sangue e miolos de executados, na grande solução final e antes de se afundar no seu próprio vómito.
Entretanto o Grande Marcelo continua, semana após semana, maquiavélica, delirantemente, a atirar veneno e penas para o grande ecrã, manejando com destreza mas já sem eficiência, a sua escorreita língua bífida, viperina roubada, lábia liperina rasgada escondida, não se sabe se aos anjos se aos demónios.
E entretanto nessa urbe-negra, cada vez mais cinzenta, cada vez mais inabitada, os homens e as mulheres abatidos e abatidas, mil vezes escravizados pela canalhocracia, arrastam-se no silêncio da amargura, desprovidos de pão, de locomoção, de ilusão, de esperança.
Arrastados para debaixo das pontes por essa máquina humana, certeira, por esse programa que retira aos seus o tecto, o pão, a esperança através dessa solução eficiente chamada penhora, um Zyklon B quase tão eficaz no genocídio como as valas varridas a invólucros de balas certeiras na nuca.
Vendem-se entretanto com ferocidade e olhinhos pequeninos de ganância, de ambição, de rapina, os últimos pãezinhos que ainda alimentavam algumas bocas.
Ali foi uma que se chamava CIMPOR, outra PT, outra EDP, ali outro acidente que se chamava TAP, enquanto os coringas e os palhaços desta Gotham City do outro lado do Oceano, assaltam crianças, jovens, mulheres e velhos, retirando-lhes o último pão da boca e rindo-se alarve e criminosamente nas suas faces.
PORTUGAL ESTÁ MELHOR, "tonitruam" eles aos sete ventos!
PORTUGAL ESTÁ MELHOR, dizem eles aos quinhentistas de uma única nota, escravizados em falsos estágios.
PORTUGAL ESTÁ MELHOR, dizem eles ao 1,1 milhão de Portugueses que, um tipo chegado de motorizada com um diploma nota doze e babete de menino-escola, seguindo como cão farejador em tudo o seu mestre, fazendo de conta que não vê, não por que seja cego, mas por ter como muitos cegado no caminho, amanuense de facto, assistencialista de lei, manipulador centesimal e profanador legal de borracha, apagando este dado aqui e ali, esta evidência aqui e ali, um despojado da leitura de Hannah Arendt, que viu a carnificina não só como resultado de um homem, de um louco, de um delirante ou de um psicopata qualquer, mas dos seus acríticos, rafeiros e fiéis seguidores.
Por que isto de ser PP, é mais do que se ser jurista, ou o paneleiro que faz entre outras coisas, peças, panelas, ou o ferreiro que ferra em aço mole ferragens e, entre coisas, ferra na cidadania, ferreiro espeto mau, ou espeto o pau, ou peixeiro de praça, ou jeitoso ardiloso de jornais, isto de ser PP é ser feirante e comerciante de ovelhas, levando-as bem encarreiradas para o matadouro, enquanto se canta a várias vozes, a do paneleiro, a do jurista, a do ferrador, a do ilusionista, O PAÍS ESTÁ MELHOR, O PAÍS ESTÁ MELHOR, dizendo a uma só voz perante as valas recheadas de cadáveres, de velhos enterrados vivos, de jovens atirados para outros quintais, de qualificados esmagados em casa fechados na vergonha de quatro paredes, pelo amiguismo, pela canalha DA LOCUPLETAÇÃO, de mulheres tantas vezes obrigadas a alçar as pernas à canalha, ESTOU NO TOPO DO MUNDO, dizem os anões em delírio, finalmente sentindo-se gigantes, as mulheres humilhadas para dar um trago de leite aos filhos.
FIZ TUDO POR AMOR AO REICH, NESTE CASO A PORTUGAL! dirão por fim quando forem cuspidos como indesejáveis, depois de vomitados como personnas não gratas a este corpo esvaído.
(...)
E, entretanto, diz o THE NEW YORK TIMES: PORTUGAL está desolador!
Não, não, rebatem eles do alto da sua ignomínia: PORTUGAL ESTÁ MELHOR, O POVO É QUE TEM FALTA DE SENSIBILIDADE!
© PAS (Pedro A. Sande)
«O País está melhor, os Portugueses é que não!» Diz sem se rir, mas com um laivo de maldade e ironia no rosto, como dizia Himmler, até receber na face sangue e miolos de executados, na grande solução final e antes de se afundar no seu próprio vómito.
Entretanto o Grande Marcelo continua, semana após semana, maquiavélica, delirantemente, a atirar veneno e penas para o grande ecrã, manejando com destreza mas já sem eficiência, a sua escorreita língua bífida, viperina roubada, lábia liperina rasgada escondida, não se sabe se aos anjos se aos demónios.
E entretanto nessa urbe-negra, cada vez mais cinzenta, cada vez mais inabitada, os homens e as mulheres abatidos e abatidas, mil vezes escravizados pela canalhocracia, arrastam-se no silêncio da amargura, desprovidos de pão, de locomoção, de ilusão, de esperança.
Arrastados para debaixo das pontes por essa máquina humana, certeira, por esse programa que retira aos seus o tecto, o pão, a esperança através dessa solução eficiente chamada penhora, um Zyklon B quase tão eficaz no genocídio como as valas varridas a invólucros de balas certeiras na nuca.
Vendem-se entretanto com ferocidade e olhinhos pequeninos de ganância, de ambição, de rapina, os últimos pãezinhos que ainda alimentavam algumas bocas.
Ali foi uma que se chamava CIMPOR, outra PT, outra EDP, ali outro acidente que se chamava TAP, enquanto os coringas e os palhaços desta Gotham City do outro lado do Oceano, assaltam crianças, jovens, mulheres e velhos, retirando-lhes o último pão da boca e rindo-se alarve e criminosamente nas suas faces.
PORTUGAL ESTÁ MELHOR, "tonitruam" eles aos sete ventos!
PORTUGAL ESTÁ MELHOR, dizem eles aos quinhentistas de uma única nota, escravizados em falsos estágios.
PORTUGAL ESTÁ MELHOR, dizem eles ao 1,1 milhão de Portugueses que, um tipo chegado de motorizada com um diploma nota doze e babete de menino-escola, seguindo como cão farejador em tudo o seu mestre, fazendo de conta que não vê, não por que seja cego, mas por ter como muitos cegado no caminho, amanuense de facto, assistencialista de lei, manipulador centesimal e profanador legal de borracha, apagando este dado aqui e ali, esta evidência aqui e ali, um despojado da leitura de Hannah Arendt, que viu a carnificina não só como resultado de um homem, de um louco, de um delirante ou de um psicopata qualquer, mas dos seus acríticos, rafeiros e fiéis seguidores.
Por que isto de ser PP, é mais do que se ser jurista, ou o paneleiro que faz entre outras coisas, peças, panelas, ou o ferreiro que ferra em aço mole ferragens e, entre coisas, ferra na cidadania, ferreiro espeto mau, ou espeto o pau, ou peixeiro de praça, ou jeitoso ardiloso de jornais, isto de ser PP é ser feirante e comerciante de ovelhas, levando-as bem encarreiradas para o matadouro, enquanto se canta a várias vozes, a do paneleiro, a do jurista, a do ferrador, a do ilusionista, O PAÍS ESTÁ MELHOR, O PAÍS ESTÁ MELHOR, dizendo a uma só voz perante as valas recheadas de cadáveres, de velhos enterrados vivos, de jovens atirados para outros quintais, de qualificados esmagados em casa fechados na vergonha de quatro paredes, pelo amiguismo, pela canalha DA LOCUPLETAÇÃO, de mulheres tantas vezes obrigadas a alçar as pernas à canalha, ESTOU NO TOPO DO MUNDO, dizem os anões em delírio, finalmente sentindo-se gigantes, as mulheres humilhadas para dar um trago de leite aos filhos.
FIZ TUDO POR AMOR AO REICH, NESTE CASO A PORTUGAL! dirão por fim quando forem cuspidos como indesejáveis, depois de vomitados como personnas não gratas a este corpo esvaído.
(...)
E, entretanto, diz o THE NEW YORK TIMES: PORTUGAL está desolador!
Não, não, rebatem eles do alto da sua ignomínia: PORTUGAL ESTÁ MELHOR, O POVO É QUE TEM FALTA DE SENSIBILIDADE!
© PAS (Pedro A. Sande)
domingo, 16 de novembro de 2014
OS DESCRENTES
Há quem não goste do discurso da decência.
Há quem ache que a defesa da ética e da decência não tem lugar no mundo e que é sempre suspeita.
Pois eu digo que precisamos de quem seja capaz de resistir aos lobbies e de não nos deixarmos corromper por mais que se diga todos terem um preço!
É verdade: todos temos um preço!
Mas talvez nem todos sejam iguais.
Talvez o melhor preço seja o de podermos morrer com a consciência tranquila de querermos deixar um mundo mais decente aos vindouros!
E esse preço vale muito mais do que qualquer outro que nos diga que o inferno na terra não se pode aproximar mais do paraíso do céu!
Quem afinal tem medo da decência?
© PAS
Há quem ache que a defesa da ética e da decência não tem lugar no mundo e que é sempre suspeita.
Pois eu digo que precisamos de quem seja capaz de resistir aos lobbies e de não nos deixarmos corromper por mais que se diga todos terem um preço!
É verdade: todos temos um preço!
Mas talvez nem todos sejam iguais.
Talvez o melhor preço seja o de podermos morrer com a consciência tranquila de querermos deixar um mundo mais decente aos vindouros!
E esse preço vale muito mais do que qualquer outro que nos diga que o inferno na terra não se pode aproximar mais do paraíso do céu!
Quem afinal tem medo da decência?
© PAS
CONSCIÊNCIA DO PASSADO
A cobra que aqui vemos (SE CARREGARMOS EM WATCH ON VIMEO) a cobra que aqui vejo, eu que sou Lisboeta, filho, neto e tetraneto desta terra, é a consciência do nosso passado e acima de tudo a consciência dessa praça da Inquisição que foi nos consumindo até à Tempestade Perfeita.
Será que temos consciência de que é necessário apagar de vez o fogo que nos foi consumindo, como uma serpente maldosa que lança fogo?
E que esta Praça onde se corporiza o nosso passado passe de vez a ser apenas um lugar onde nos confrontamos com a necessidade de sermos diferentes, mais intensamente solidários e construtivos?
© PAS
A MINHA GRAMÁTICA SOU EU E O OUTRO
Diz Steiner que «por gramática (dos tempos) deve-se entender a organização articulada da percepção, da reflexão e da experiência, a estrutura nervosa da consciência quando esta comunica consigo própria e com os outros».
Fernando Pessoa podia assim dizer que «a minha gramática é a língua do EU no OUTRO».
Bem como uma obra sou EU escrito e reescrito numa plataforma, a minha percepção, a minha experiência, a minha reflexão, sobre essa experiência e percepção, dos seres e das coisas, venham esses instrumentos de "uso" de uma árvore ou da transformação meticulosa das coisas.
Nada substitui a gramática dos tempos.
Nada substitui a gramática dos tempos.
© PAS
sábado, 15 de novembro de 2014
DIMENSÕES DA GEOGRAFIA DA CRIAÇÃO
DO PRÉMIO LEYA: OPINIÕES; A OPINIÃO DE RIÇO DIREITINHO
«Armar ou não ao literário?»
Estando a acabar de ler a primeira obra de Ana Margarida Carvalho,
filha do escritor Mário de Carvalho, o «Que importa a fúria do mar»,
finalista de um dos anteriores prémios LeYa, não tenho dúvidas da sua
qualidade para uma primeira obra.
Independentemente da suspeição e
coincidência de um país grupal e de famílias, Ana Margarida Carvalho,
jornalista de profissão, fez um livro de qualidade dando garantias que um próximo livro não defraudará os leitores. Aliás, sou da opinião que a escolha de um autor premiado devia não
passar por uma obra, mas pela sua definição e ambição como escritor,
pela análise da sua obra publicada ou impublicada, pelo estado da sua
maturidade, algo que nunca se pode aferir instantaneamente ou numa
primeira obra.
Concordo também com a avaliação de José Riço de os prémios LeYa terem alguma falta de maturidade literária (aqui até incluo o José Ricardo Pedro), de serem vítimas de uma geometria muito recorrente e de uma matriz muito pouco inovadora, bebendo na sistemática exploração de um universo rosa, da estória de cada um da nossa vida, possivelmente pela opção clara da LeYA em premiar iniciados dentro de uma determinada faixa etária, tornando-os e integrando-os como putativos escritores do Grupo (não nos esqueçamos que em trezentas e tal obras a concurso só cinco chegam para leitura do júri, as outras passam pelo crivo de exclusiva responsabilidade do grupo).
Ouvi, através de um vídeo, partes da obra do novo premiado. Infelizmente, mas não com surpresa, o trecho que ouvi achei algo fraquinho. Fez-me lembrar a minha escrita dos vinte anos. Claramente um estilo iniciático a quem ainda falta mundo. Mas repito, aquilo que ouvi (que é uma tendência e um sinal), não gostando de tomar a parte pelo todo.
A literatura não pode ser
apenas cruzamento de leituras, ou colagem de mundos exteriores passados
ou futuros, tem de ser cruzamento de vidas próprias, já que na escrita
literária está necessariamente muito de camadas do autor: sangue, suor,
lágrimas e obviamente uma visão geral e não apenas periférica de um
mundo holístico e global. A nossa literatura menos escorada ainda
na experiência e no tempo, com as óbvias excepções obviamente, tem aliás
esse andar manco, coxo, ao apoiar-se demasiado no local e pouco no
global; o glocal, esse, sim, parece algo mais sólido.
Mas oiçamos agora a opinião do José Riço Direitinho, crítico literário e autor do «Breviário das más inclinações» que será a minha próxima leitura e a quem mundo parece não faltar.
sexta-feira, 7 de novembro de 2014
O FOG E OS FILHOS DA POLIS
«Acabei de cometer o pecado de deixar cinco minutos depois da hora a viatura perto do Meu Palácio.
Um fiscal, daqueles da EMEL, já que na cidade branca são já mais os fiscais do que os fiscalizados, olhou para mim com ar displicente mas justicialista, a quem foi cometido autoridade e poder de discrição.
Fui lá buscar o prémio APE da filha de peixe sabe escrever, do Mário de Carvalho (desconhecia!), a Ana Margarida de Carvalho. As primeiras vinte páginas do seu "Que importa a fúria do mar", já cá cantam: decentes mas, por enquanto, não totalmente empolgantes. Um sabor de pastiche na forma, algo perfeitamente natural, já que mal seria que entre Pai e Filho não se transmitissem genes e orgulho.
Do Mário, este já cheio de patine, estou a ler o seu último. Uma única palavra: soberbo!
Entretanto, basta dar uma volta pela Avenida da República e Campo Pequeno para ver como Portugal definha. Cada vez menos Lisboetas na rua, olhares apáticos e infelizes, incapazes já de resistir à voragem dos anúncios de aumentos constantes e das baixas constantes de rendimento...
Já exangues por uma corte feita nos Jotas prometendo-lhes aumentos de combustíveis, sacos de plástico, não mais verdes mas mais caros, mais taxas de INEM, sobrecustos de água, electricidade... que irão sobrecarregar seguros, adormecer vidas, tornar as famílias ainda menos funcionais...
Uma loucura genocida, e suicida, sem fim à vista.
Numa polis e num burgo, onde a falta de accountability e o mérito e o demérito são como uma pandemia de ébola destrutivo, que se cola e transmite por todo o tipo de apertos, de abraços, de fluidos...
E na cidade branca, cada vez mais acinzentada, os cidadãos e a cidadania estiolam. Apenas se vendo a demérita EMEL na sua voragem "criadora, julgada criativa", numa cidade e polis cada vez mais doente, desertificada, a sofrer de anomia, de um tempo de passa culpas e «salve-se quem o puder», que é aquela forma de poder que se estendeu pela polis como uma mancha, como aquele nevoeiro do John, que podia ser de um werewolf, inicialmente de Carpenter».
© PAS
O QUE LI RECENTEMENTE
A RAINHA GINGA de Eduardo
Agualusa é um livro decente, onde se sente investigação numa história decente,
recheado daquilo que me pareceu ser a sua maior virtude: a escrita escorreita e
a nomenclatura Africana.
Não sendo um livro soberbo
é, no entanto, um livro que revela uma escrita q.b. de um escritor certinho.
O Estrangeiro de Camus é um livro sentido muito na linha do existencialismo Sartriano, mau grado Camus ter
rejeitado essa classificação.
Um livro que pode
definir-se nas últimas palavras do personagem Meursault, palavras de
reconhecimento da indiferença do universo em relação à humanidade.
Como se essa grande cólera tivesse lavado de mim o mal, esvaziado de esperança, diante dessa noite carregada de signos e estrelas, eu me abria pela primeira vez à terna indiferença do mundo. Ao percebê-la tão parecida a mim mesmo, tão fraternal, enfim, eu senti que havia sido feliz e que eu era feliz mais uma vez. Para que tudo fosse consumado, para que eu me sentisse menos só, restava-me apenas desejar que houvesse muitos espectadores no dia de minha execução e que eles me recebessem com gritos de ódio.
©PAS
quarta-feira, 5 de novembro de 2014
LETRAS SEM TETRAS (O NOVISSÍMO DE MÁRIO DE CARVALHO)
Sentado
no sofá circular de uma grande superfície tive oportunidade de ler as
primeiras setenta páginas deste livro de Mário de Carvalho.
Um "manual" completíssimo para todos os putativos candidatos à escrita.
Mário de Carvalho como um dos decanos da escrita ficcional cumpre assim o papel de deslindador dos diferentes estágios dessa coisa de ser escritor.
O modo como percepcionar cada um dos seus capítulos deste «Quem disser o contrário é porque tem razão - Letras sem tretas, guia prático da escrita de ficção», poderá ser um indicador mais ou menos fiável perante a sua capacidade de compreensão de alguns dos dilemas, enigmas e perplexidades do ofício descritos. Um livro muito útil que, não sendo um elucidário de escrita criativa, exigirá do putativo candidato sempre mais do que uma leitura.
© PAS
Um "manual" completíssimo para todos os putativos candidatos à escrita.
Mário de Carvalho como um dos decanos da escrita ficcional cumpre assim o papel de deslindador dos diferentes estágios dessa coisa de ser escritor.
O modo como percepcionar cada um dos seus capítulos deste «Quem disser o contrário é porque tem razão - Letras sem tretas, guia prático da escrita de ficção», poderá ser um indicador mais ou menos fiável perante a sua capacidade de compreensão de alguns dos dilemas, enigmas e perplexidades do ofício descritos. Um livro muito útil que, não sendo um elucidário de escrita criativa, exigirá do putativo candidato sempre mais do que uma leitura.
© PAS
MOOLB NUMA GARRAFA (MESSAGE IN A BOX)
É bom ouvir impressões positivas das obras que se escrevem com gosto.
MOOLB, O REVERSO, é um livro do tempo escrito para o tempo.
Uma necessidade de uma escrita por vezes dura, descritiva mas reflexiva, fugindo ao estereótipo do tempo romântico, abarcando os nossos maiores horizontes: o EU!
Não é um livro fácil, mas também quem quer um livro fácil se sabemos que só podemos conhecer e conhecermo-nos para além da linha do horizonte?
O EU que está sempre connosco, e o novo EU do novo retorno ao nosso espaço geográfico.
Por mais que digam e se façam desentendidos é sempre bom pensar que uma mensagem dentro de uma garrafa chegou a um qualquer porto de destino.
© PAS (Pedro A. Sande)
segunda-feira, 13 de outubro de 2014
ALABARDAS, A POLÉMICA, OS NOVOS VENCIDOS DA VIDA!
Grassou aqui pelas redes a polémica do novo livro de Saramago.
O Saramago quase fantasma para alguns, totalmente inacabado para outros, o género inovador para outros, o romance que antes de o ser já o era, Deus para outros, uma polémica que envolve consciências, dinheiros, proficiências e o diabo a sete...
O actual Editor de Saramago, o Manuel Valente, falou até dos "Vencidos da Vida", aqueles tipos que renunciaram cândida, patrioticamente, à aspiração da juventude.
Ainda não li Alabardas na íntegra. E tenho consciência de que é apenas e quase (na sua essência, não no seu objectivo e resultado ou estaríamos a negar a ensaística e o pós análise de um escritor que se afirmou pela qualidade), um rascunho de romance.
Saramago era um escritor planificador, embora há quem o diga mais aritmético do que geométrico quando a escrita "despencava" (na norma Brasileira, afinal, p..., a lingua é a mesma... e por que não hei-de eu usar esta norma que enriquece a língua de Camões e que se tornou a língua dos indígenas de Guanabara?)
Folheei-o apenas. E quase o li de um trago.
Saramago é para mim um escritor de dimensão universal, independentemente do modo inteligente como se fez promover ou não... bom-grado a sua melhor promoção tivesse sido, indubitavelmente, a qualidade da sua escrita.
Mas oiçamos primeiro o "Vencido da Vida"... Alberto Gonçalves? Que usa a estratégia que se atreve a denunciar (estratégica de cronista... somos todos tão contraditórios, não somos?!)... denunciando uma polémica aparentemente inexistente para os amantes de Saramago, os que já lhe beberam o suor e agora querem continuar a perceber-lhe o sangue.
E chama-lhe Escritor Fantasma, que são aqueles tipos já sem dinheiro para comprar torradas e com a barriga a dar horas. E que têm de assumir Marx, mesmo sendo mencheviques, ao vender a sua força de trabalho intelectual a troco do "quase nada" da escrita... vais ganhar o quê, pequeno? ... tostões... perdão... cêntimos!
Vamos lá continuar então a polemizar, ouvindo o Alberto, que dá espessura!
O Saramago quase fantasma para alguns, totalmente inacabado para outros, o género inovador para outros, o romance que antes de o ser já o era, Deus para outros, uma polémica que envolve consciências, dinheiros, proficiências e o diabo a sete...
O actual Editor de Saramago, o Manuel Valente, falou até dos "Vencidos da Vida", aqueles tipos que renunciaram cândida, patrioticamente, à aspiração da juventude.
Ainda não li Alabardas na íntegra. E tenho consciência de que é apenas e quase (na sua essência, não no seu objectivo e resultado ou estaríamos a negar a ensaística e o pós análise de um escritor que se afirmou pela qualidade), um rascunho de romance.
Saramago era um escritor planificador, embora há quem o diga mais aritmético do que geométrico quando a escrita "despencava" (na norma Brasileira, afinal, p..., a lingua é a mesma... e por que não hei-de eu usar esta norma que enriquece a língua de Camões e que se tornou a língua dos indígenas de Guanabara?)
Folheei-o apenas. E quase o li de um trago.
Saramago é para mim um escritor de dimensão universal, independentemente do modo inteligente como se fez promover ou não... bom-grado a sua melhor promoção tivesse sido, indubitavelmente, a qualidade da sua escrita.
Mas oiçamos primeiro o "Vencido da Vida"... Alberto Gonçalves? Que usa a estratégia que se atreve a denunciar (estratégica de cronista... somos todos tão contraditórios, não somos?!)... denunciando uma polémica aparentemente inexistente para os amantes de Saramago, os que já lhe beberam o suor e agora querem continuar a perceber-lhe o sangue.
E chama-lhe Escritor Fantasma, que são aqueles tipos já sem dinheiro para comprar torradas e com a barriga a dar horas. E que têm de assumir Marx, mesmo sendo mencheviques, ao vender a sua força de trabalho intelectual a troco do "quase nada" da escrita... vais ganhar o quê, pequeno? ... tostões... perdão... cêntimos!
Vamos lá continuar então a polemizar, ouvindo o Alberto, que dá espessura!
©PAS (Pedro A. Sande)
«O escritor fantasma
por Alberto Gonçalves
Uma última viagem na sua permanente vocação para agitar consciências, diz o anúncio da Porto Editora. Um acto revolucionário, diz o juiz espanhol Baltasar Garzón. Saramago vintage, diz o editor brasileiro do falecido escritor. Saramago no seu melhor, diz o editor português. Uma obra divertida, diz Eduardo Lourenço.
Tudo isto a propósito de "Alabardas, Alabardas, Espingardas, Espingardas", o dito romance inacabado de José Saramago. Na verdade, de romances inacabados está o mundo cheio. Alabardas inaugura um género novo, o dos romances praticamente por começar.
Não é que não haja um livro: há, aliás com 135 páginas. Seis são notas do autor. Cinquenta são textos de outros autores sobre o autor e o produto em causa. Dez são índices, ficha técnica e diversos. Doze são desenhos de um antigo membro das Waffen-SS. Sobram 57 folhinhas, impressas em fonte crescida e a dois (ou três) espaços. Ninguém se deve admirar se, no mês que vem, publicarem os últimos post-it que Saramago colou no frigorífico, em cinco volumes repletos de ensaios alheios, bonecos para colorir e a oferta de uma echarpe em tons marrom. Meia dúzia de críticos hão-de considerar estarmos perante um momento de ruptura na cultura universal.
Num certo sentido, Alabardas consagra de facto o estilo do Nobel caseiro, que em vida fazia questão de anunciar, ele próprio, o carácter polémico de cada livro antes mesmo de o livro chegar ao público. Um boa estratégia, até porque quando o livro chegava ao público não acontecia nada de especial - excepto se o público se chamava Sousa Lara. Devido a condicionantes óbvias, agora o anúncio da polémica ficou a cargo de terceiros, mas o processo é idêntico e com uma vantagem: se o hábito consiste em privilegiar a algazarra em detrimento do conteúdo, desta vez o conteúdo quase não existe e a algazarra abunda. Saramago vintage, de facto. E, desde que ignoremos os pechisbeques anexos, a minha obra preferida dele. As outras não se liam em horas. Conto não ler esta em vinte minutos.»
«O escritor fantasma
por Alberto Gonçalves
Uma última viagem na sua permanente vocação para agitar consciências, diz o anúncio da Porto Editora. Um acto revolucionário, diz o juiz espanhol Baltasar Garzón. Saramago vintage, diz o editor brasileiro do falecido escritor. Saramago no seu melhor, diz o editor português. Uma obra divertida, diz Eduardo Lourenço.
Tudo isto a propósito de "Alabardas, Alabardas, Espingardas, Espingardas", o dito romance inacabado de José Saramago. Na verdade, de romances inacabados está o mundo cheio. Alabardas inaugura um género novo, o dos romances praticamente por começar.
Não é que não haja um livro: há, aliás com 135 páginas. Seis são notas do autor. Cinquenta são textos de outros autores sobre o autor e o produto em causa. Dez são índices, ficha técnica e diversos. Doze são desenhos de um antigo membro das Waffen-SS. Sobram 57 folhinhas, impressas em fonte crescida e a dois (ou três) espaços. Ninguém se deve admirar se, no mês que vem, publicarem os últimos post-it que Saramago colou no frigorífico, em cinco volumes repletos de ensaios alheios, bonecos para colorir e a oferta de uma echarpe em tons marrom. Meia dúzia de críticos hão-de considerar estarmos perante um momento de ruptura na cultura universal.
Num certo sentido, Alabardas consagra de facto o estilo do Nobel caseiro, que em vida fazia questão de anunciar, ele próprio, o carácter polémico de cada livro antes mesmo de o livro chegar ao público. Um boa estratégia, até porque quando o livro chegava ao público não acontecia nada de especial - excepto se o público se chamava Sousa Lara. Devido a condicionantes óbvias, agora o anúncio da polémica ficou a cargo de terceiros, mas o processo é idêntico e com uma vantagem: se o hábito consiste em privilegiar a algazarra em detrimento do conteúdo, desta vez o conteúdo quase não existe e a algazarra abunda. Saramago vintage, de facto. E, desde que ignoremos os pechisbeques anexos, a minha obra preferida dele. As outras não se liam em horas. Conto não ler esta em vinte minutos.»
domingo, 12 de outubro de 2014
BARRADAS
A minha amiga Cristina, que é um apreciadora das boas
coisas da vida, por maioria de razão, das bolachas, afirma aos sete
ventos a supremacia das bolachas Marias quando barradas a manteiga.
Presume até que estas arrepiem corpos e sensibilidades frágeis. A mim
não me arrepia. Um poste para mim de digestão fácil, o da Cristina.
Mas peço desculpa da cagança, da vaidade afarinhada, nada condizente com
o tipo de bolachas que como actualmente. Mas, bolachas bolachas, eram as
da minha avó, uma Castafiori na aparência e no trato para todos, mulher
coquete do pó de arroz e laca de drogaria no cabelo, tão vaidosa como
popular ao Zé da esquina, como ao Manuel Padeiro ou à Licínia
costureira, que despia o chapéu, fazia vénia, tornava-se um cordeirinho
deste mundo, mesmo se admoestado pela sua linguagem grosseira, mas
sempre à espera do último beijinho da diva, nariz empinado pelo salitre
abaixo, língua ao pé da boca castigadora para os populares que
escarravam no chão, ou fungavam no ar, ou limpavam sem discrição as
salas, ou não cediam o interior da berma da rua às senhoras e às
meninas, tão burguesa como popular, carregando com ela todas as
guloseimas deste mundo, ceias carregadas daquelas bolachas "aperuadas"
com uma amêndoa no topo, e que hoje assumiram uma nobreza que não lhes
conhecia, «almendroadas! dizem elas», como se tivessem agora casadas com
o senhor Duque ou o senhor Conde do bairro, ou o Galego que se
fazia passar por Franciú, um Alain Delon de pacotilha, com aquelas redondas
areias, que pareciam pequenas dunas da nossa gula, com aquelas finíssimas
e estreitas, mais condizentes com uma hóstia do vigário do Rato, com
aquelas roscas acabadas de sair, com extrema devoção e amor dos fornos da
padaria e do padeiro, que chegava àquele quarto andar com altura de
Torre Eifel, logo pela manhã, de bofes de fora e joanetes inchados,
maldizendo entredentes aquela coquete do quarto andar do Salitre, que
lhe levava as bolachas e o vigor diariamente, mas com uma reverência canina que salivava perante a infinita diva.
Saudades dos lanches e
ceias abolachados da minha avó, num tempo em que as avós eram avós,
matronas escarrapachadas e pesadas nos abonos dos maridos, embora leves nos encontros diários de amigas nas inúmeras pastelarias do bairro, ou no cabeleireiro ou no calista, ou na modista, ou nas sessões trissemanais dos cinemas das avenidas, sanduíches de
bolachas carregadas não só de manteiga, mas daqueles quadrados divinais
de marmelada enrolados como vestidos de anjos e que tinha um nome
engraçado que Jesus não desdenhava pela extrema devoção a este mundo:
Germina!
© PAS (Pedro A. Sande)
sábado, 11 de outubro de 2014
TRECHO DE MOOLB, O REVERSO
«Quem foi esse, perguntou-lhe um acólito
de Cristo que viajava quase ao seu colo, meio adormecido, embalado pelo ronronar
da carruagem que atravessa gingona a península itálica. A bota, pensa AB, que
já se sente a subir para o corpo todo europeu. O corpo, os braços e finalmente
em Vilar, a formosura da cabeça. Coragem, o senhor dá o fardo, mas também a
força para carregá-lo, diz Willebrands pela sua boca. O Papa sorriso, o
candidato de Deus. Ah, fez o outro, Io
dimenticato. Pois, pois, esqueceste, diz o nosso viajante que parece ao
longe, muito ao longe, só possível numa cabeça que se separa do corpo,
distinguir as luzes trémulas e sempre de luto de Lampedusa. Porque os homens
bons cedo se esquecem, repete para si. Lúcia, a vidente, sabia que Albino
Luciani um dia seria Papa. E que o seria por pouco tempo. A evidência é também
vidente. Io dimentico. Os homens bons
não suportam a pressão. Os homens bons são solitários a quem não é permitido o
seu lugar nas tribos dos poderosos. O Papa Breve sabia que se ia. Há lugares
que não estão fadados para os homens bons. A bondade remete para o remorso. E
não é uma protecção forçada como a da Máfia, mas uma missão construída no poder
da associação da vontade com a bondade.
O poder não é alimento do poder»
© PAS (MOOLB, 2014, Pedro A. Sande, pg. 109)
MISCELÂNIA
Ó Soares?! Injustiçado? O Isaltas? Não se pode voluntária ou
involuntariamente mudar a história! Isto, independentemente da simpatia
pessoal (por Soares, não por Isaltino).
Mas deixem-me vos contar uma
história verídica sobre esta figura polémica da nossa vida das últimas
décadas, que sempre me pareceu simpático, cortês e educado. Só "não gostei" certo dia no Galeto (passe a publicidade, ou talvez não, que para a próxima peço um inteiramente de graça), era ele PR e eu ao balcão a deliciar-me com uma maravilhosa miscelânia (um gelado soberbo desta velha casa Lisboeta), senta-se Soares a meu lado.
Esfomeado como devia estar a essas horas tardias, possivelmente cansado das tricas, trocas e baldrocas da política, mesmo se um especialista das sestas nos momentos mais oportunos, e de algum mau "olhado" que lhe tenha lançado a Maria de Jesus (nem sempre Jesus está pelos ajustes com as nossas acções, como é sabido), pôs-se a olhar descaradamente para a minha Miscelânia.
Felizmente não se voltou para o funcionário indicando para o meu prato e dizendo: ó senhor funcionário, desapareça com isto, desapareça com isto! - como ao pobre do polícia, tão satisfeito e cheio de pundonor na sua lustrosa motoca!, a exercer a bruta função de afastar o povo da soberania.
Foi antes: «Senhor funcionário, faça aparecer aqui uma coisinha destas!»
Simpático e de esperteza de grande alcance!
© PAS (Pedro A. Sande)
sábado, 13 de setembro de 2014
Regresso ao blog
Hoje o dia do regresso ao blog. Com esta frase:
A mente humana é muito estranha... felizmente. Basta-lhe uma janela de esperança para respirar!
© PAS (Pedro A. Sande)
© PAS (Pedro A. Sande)
domingo, 4 de maio de 2014
TODOS TEMOS MÃE
Se
eu ainda tivesse mãe hoje estaria impedido de colocar aqui estas
palavras, feliz dia da mãe, Mãe!, por que estaria agora a sair para lhe
dar um enorme beijo... e um abraço ainda maior.
Mas por outro lado isto não é verdade, porque ainda tenho mãe. Todos temos ainda mãe.
E nem falo na mãe natureza, na mãe verdade, na mãe solidária, na mãe negra ou branca, em nenhuma dessas mães que se levanta agora, neste momento, para amamentar os seus filhos, os lavar, calçar ou vestir, os chamar à razão, os levar à escola, ao circo ou à catequese.
Não a consigo é ver, é certo, embora a sinta todos os dias a meu lado, como se a transportasse em cada passo que trilho desde que deixou de me amamentar, lavar, calçar ou vestir... Tudo isso, menos o chamar-me ainda à razão, seja por sinais, bocejos, pelo céu azul ou nublado do dia.
Feliz dia da mãe, Mãe.
Qualquer dia passo por aí, Mãe, para ir visitar-te à tua nova casa.
PAS
Mas por outro lado isto não é verdade, porque ainda tenho mãe. Todos temos ainda mãe.
E nem falo na mãe natureza, na mãe verdade, na mãe solidária, na mãe negra ou branca, em nenhuma dessas mães que se levanta agora, neste momento, para amamentar os seus filhos, os lavar, calçar ou vestir, os chamar à razão, os levar à escola, ao circo ou à catequese.
Não a consigo é ver, é certo, embora a sinta todos os dias a meu lado, como se a transportasse em cada passo que trilho desde que deixou de me amamentar, lavar, calçar ou vestir... Tudo isso, menos o chamar-me ainda à razão, seja por sinais, bocejos, pelo céu azul ou nublado do dia.
Feliz dia da mãe, Mãe.
Qualquer dia passo por aí, Mãe, para ir visitar-te à tua nova casa.
PAS
terça-feira, 11 de fevereiro de 2014
A Despedida - Até Já! - de José Alemparte
Se há algo que me toca é a luta de um Homem pela sua própria existência.
Não conhecia a escrita do Paulo Bandeira Vieira - por mais que queiramos vivemos sempre confinados a uma finitude incompleta. Mas fiz o meu trabalho de casa... e o agendamento possível.
Antes da «A Despedida de José Alemparte» que tem o "som" de uma despedida para um lugar melhor, PBV deixou-nos «As estradinhas de Catete», editado pela Quidnovi em 2007, livro que tem o som dos ritmos Africanos de mais um expatriado, de um outro tempo, na sua própria terra.
Poesia e Antologia fecham o círculo de mais outro Português que continuará a sua vida "alemparte" através dos testemunhos nos deixados em papel.
Afinal, escrever vai bem "da lei da morte nos libertando."
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