Citações:

Sem o direito natural não há Estado de direito. Pois a submissão do Estado à ordem jurídica, com a garantia dos direitos humanos, só é verdadeiramente eficaz reconhecendo-se um critério objetivo de justiça, que transcende o direito positivo e do qual este depende. Ou a razão do direito e da justiça reside num princípio superior à votante dos legisladores e decorrente da própria natureza, ou a ordem jurídica é simplesmente expressão da força social dominante
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

ELE HÁ O DEUS DAS MOSCAS, MAS TAMBÉM O DA ESCRITA

Que a língua portuguesa não é fácil nas suas regrazinhas miudinhas já todos sabemos, incluindo escreventes, escritores e putativos candidatos.
Ontem uma amiga que escreve, e bem, chamou-me a atenção para algumas minhas calinadas, do português (in)correcto, relativas a um poema que escrevi de chofre sem um olhar sequer correctivo (o que pode significar a distância entre o percepcionado na oralidade e as regras definidas na nossa língua para a escrita).
Aliás, é curioso, que esse é um dos motivos por que muitos autores evitam escrever e se expôr nas redes sociais, um conselho também usual de editores para autores, como se isto pudesse em absoluto ser um estigma de dimensões não bíblicas, mas literárias. «Escreves com erros ortográficos, logo não mereces o Olimpo da escrita!» (claro que isto só acontece antes dos leitores se tornarem autores e perceberem que mais do que atingir o Olimpo, a escrita está hoje mais virada para atingir o Inferno).
A primeira relacionava-se com o acento agudo do «tirar-me-ás» que considerava devia ter a forma de «tirar-me-às».
A segunda relativa a «mas vou-te esperar», que considerava dever tomar a forma de «mas vou esperar-te».
A terceira relacionava-se com a má colocação da pontuação que obrigava a uma alteração de uma palavra de singular para plural.
A ortografia portuguesa não é, de facto, fácil para um português, calculo então para um estrangeiro!
E já nem falo nas alterações preconizadas pelo NAO, que fez da ortografia um campo minado; ou, se para tanto existir o engenho e a liberdade, um campo para libertários e anarcas que, cada vez mais, consideram que tudo o que não altere demasiado a compreensão da leitura joga na riqueza da língua: afinal já não há mais gente a dizer «ir de encontro a» do que «ir ao encontro de»? sabendo nós que no meio dos encontrões vamo-nos entendendo (ou será vamos entendendo-nos)? 
Livra, que quanto mais se escreve mais dúvidas se vão instalando, mesmo que pensássemos já estarem há muito superadas!
O Deus da Escrita condenou-nos a replicar erros, tantos como as moscas que assoberbaram o Orestes da peça Les Mouches de Sartre.
© PAS (Pedro A. Sande)  

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