«Quem foi esse, perguntou-lhe um acólito
de Cristo que viajava quase ao seu colo, meio adormecido, embalado pelo ronronar
da carruagem que atravessa gingona a península itálica. A bota, pensa AB, que
já se sente a subir para o corpo todo europeu. O corpo, os braços e finalmente
em Vilar, a formosura da cabeça. Coragem, o senhor dá o fardo, mas também a
força para carregá-lo, diz Willebrands pela sua boca. O Papa sorriso, o
candidato de Deus. Ah, fez o outro, Io
dimenticato. Pois, pois, esqueceste, diz o nosso viajante que parece ao
longe, muito ao longe, só possível numa cabeça que se separa do corpo,
distinguir as luzes trémulas e sempre de luto de Lampedusa. Porque os homens
bons cedo se esquecem, repete para si. Lúcia, a vidente, sabia que Albino
Luciani um dia seria Papa. E que o seria por pouco tempo. A evidência é também
vidente. Io dimentico. Os homens bons
não suportam a pressão. Os homens bons são solitários a quem não é permitido o
seu lugar nas tribos dos poderosos. O Papa Breve sabia que se ia. Há lugares
que não estão fadados para os homens bons. A bondade remete para o remorso. E
não é uma protecção forçada como a da Máfia, mas uma missão construída no poder
da associação da vontade com a bondade.
O poder não é alimento do poder»
© PAS (MOOLB, 2014, Pedro A. Sande, pg. 109)
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