«Armar ou não ao literário?»
Estando a acabar de ler a primeira obra de Ana Margarida Carvalho,
filha do escritor Mário de Carvalho, o «Que importa a fúria do mar»,
finalista de um dos anteriores prémios LeYa, não tenho dúvidas da sua
qualidade para uma primeira obra.
Independentemente da suspeição e
coincidência de um país grupal e de famílias, Ana Margarida Carvalho,
jornalista de profissão, fez um livro de qualidade dando garantias que um próximo livro não defraudará os leitores. Aliás, sou da opinião que a escolha de um autor premiado devia não
passar por uma obra, mas pela sua definição e ambição como escritor,
pela análise da sua obra publicada ou impublicada, pelo estado da sua
maturidade, algo que nunca se pode aferir instantaneamente ou numa
primeira obra.
Concordo também com a avaliação de José Riço de os prémios LeYa terem alguma falta de maturidade literária (aqui até incluo o José Ricardo Pedro), de serem vítimas de uma geometria muito recorrente e de uma matriz muito pouco inovadora, bebendo na sistemática exploração de um universo rosa, da estória de cada um da nossa vida, possivelmente pela opção clara da LeYA em premiar iniciados dentro de uma determinada faixa etária, tornando-os e integrando-os como putativos escritores do Grupo (não nos esqueçamos que em trezentas e tal obras a concurso só cinco chegam para leitura do júri, as outras passam pelo crivo de exclusiva responsabilidade do grupo).
Ouvi, através de um vídeo, partes da obra do novo premiado. Infelizmente, mas não com surpresa, o trecho que ouvi achei algo fraquinho. Fez-me lembrar a minha escrita dos vinte anos. Claramente um estilo iniciático a quem ainda falta mundo. Mas repito, aquilo que ouvi (que é uma tendência e um sinal), não gostando de tomar a parte pelo todo.
A literatura não pode ser
apenas cruzamento de leituras, ou colagem de mundos exteriores passados
ou futuros, tem de ser cruzamento de vidas próprias, já que na escrita
literária está necessariamente muito de camadas do autor: sangue, suor,
lágrimas e obviamente uma visão geral e não apenas periférica de um
mundo holístico e global. A nossa literatura menos escorada ainda
na experiência e no tempo, com as óbvias excepções obviamente, tem aliás
esse andar manco, coxo, ao apoiar-se demasiado no local e pouco no
global; o glocal, esse, sim, parece algo mais sólido.
Mas oiçamos agora a opinião do José Riço Direitinho, crítico literário e autor do «Breviário das más inclinações» que será a minha próxima leitura e a quem mundo parece não faltar.
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