«Acabei de cometer o pecado de deixar cinco minutos depois da hora a viatura perto do Meu Palácio.
Um fiscal, daqueles da EMEL, já que na cidade branca são já mais os fiscais do que os fiscalizados, olhou para mim com ar displicente mas justicialista, a quem foi cometido autoridade e poder de discrição.
Fui lá buscar o prémio APE da filha de peixe sabe escrever, do Mário de Carvalho (desconhecia!), a Ana Margarida de Carvalho. As primeiras vinte páginas do seu "Que importa a fúria do mar", já cá cantam: decentes mas, por enquanto, não totalmente empolgantes. Um sabor de pastiche na forma, algo perfeitamente natural, já que mal seria que entre Pai e Filho não se transmitissem genes e orgulho.
Do Mário, este já cheio de patine, estou a ler o seu último. Uma única palavra: soberbo!
Entretanto, basta dar uma volta pela Avenida da República e Campo Pequeno para ver como Portugal definha. Cada vez menos Lisboetas na rua, olhares apáticos e infelizes, incapazes já de resistir à voragem dos anúncios de aumentos constantes e das baixas constantes de rendimento...
Já exangues por uma corte feita nos Jotas prometendo-lhes aumentos de combustíveis, sacos de plástico, não mais verdes mas mais caros, mais taxas de INEM, sobrecustos de água, electricidade... que irão sobrecarregar seguros, adormecer vidas, tornar as famílias ainda menos funcionais...
Uma loucura genocida, e suicida, sem fim à vista.
Numa polis e num burgo, onde a falta de accountability e o mérito e o demérito são como uma pandemia de ébola destrutivo, que se cola e transmite por todo o tipo de apertos, de abraços, de fluidos...
E na cidade branca, cada vez mais acinzentada, os cidadãos e a cidadania estiolam. Apenas se vendo a demérita EMEL na sua voragem "criadora, julgada criativa", numa cidade e polis cada vez mais doente, desertificada, a sofrer de anomia, de um tempo de passa culpas e «salve-se quem o puder», que é aquela forma de poder que se estendeu pela polis como uma mancha, como aquele nevoeiro do John, que podia ser de um werewolf, inicialmente de Carpenter».
© PAS
http://anarquistadepapel.blogspot.com (pela palavra seremos mais humanos) Este blogue serve como extensão da secretária do autor, assim uma espécie de oficina de escrita.
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Citações:
Sem o direito natural não há Estado de direito. Pois a submissão do Estado à ordem jurídica, com a garantia dos direitos humanos, só é verdadeiramente eficaz reconhecendo-se um critério objetivo de justiça, que transcende o direito positivo e do qual este depende. Ou a razão do direito e da justiça reside num princípio superior à votante dos legisladores e decorrente da própria natureza, ou a ordem jurídica é simplesmente expressão da força social dominante
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)
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