«Não gosto da preocupação quase exclusiva com a história bem contadinha, como agora é a moda neste nosso país anglossaxónico. Para mim tem de haver trabalho de linguagem. E, nesse sentido, Mia Couto talvez seja o melhor escritor actual em língua portuguesa. Muito de perto, nunca o escondi, está para mim Luís Caminha, um autor completamente desconhecido e ausente das livrarias, apesar de ainda nem há um mês ter lançado um livro maravilhoso.» Nuno Serrano
Nuno Serrano tem esta preocupação com a edição da história bem contadinha, miúdinha, que não dá espaço ao sonho e à paixão. Gostos! E gostos não se discutem!
Porém, a
literatura Portuguesa contemporânea corre o risco da normalização do romance
asséptico, da linguagem do dia - a - dia, como se estivesse inscrita no desenrolar de um rolo de papel higiénico reciclado, de profissionais do teclado que atiram enfadados as tintas para a tela, como se estivessem a despejar as sobras do jantar, onde falta a criatividade da sua própria linguagem e as
palavras envoltas na poesia de vida.
O romance caótico,
explosivo, metamórfico, diferente, confunde-se com a mordomia branda que nos
caracteriza; como o carreirismo, que é uma espécie de entulho sedimentar que só dá silício quando podia dar diamantes.
A gestão do romance confunde-se assim com uma gestão de carreira inodora, traçada nos manuais de boas práticas, onde a chama está trancada e sufocada entre dois dedos.
Luís Caminha não é um desses autores,
como o não é Mia Couto, porventura o melhor escritor vivo de língua Portuguesa, ao contrário de outros que escrevem livros como se
estivessem a dar lustro ao umbigo e a discorrer sobre os seus amores
frustrados. Estaremos sob o reinado da telenovela que já desceu ao gramado do papel? Mas a vida vale muito mais que mil imagens!
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