«… pedro e cristina
- Ei, tu…
sim, tu! Estou-te a chamar. Não ouves? Não queres ouvir? Não levantes os
ombros! Não fujas!
- Eu sei! É
um problema de saúde pública.
- Desse tipo
de saúde? Infecciosos? Não, não estamos infectados, nem somos leprosos! É
preciso coragem? É, e muita! O que achas irmã? Não poderíamos ter usado esta
coragem para nos levantarmos?
-
Levantar-me, irmão? Mas eu levanto-me todos os dias, só não levanto a minha
dignidade que se mantêm em baixo, dobrada ao peso dos dias. Ficámos sem casa;
ficámos sem mãe; morreu o nosso anjo!
- E agora o que fazemos? Nunca trabalhámos, pelo menos desse trabalho,
do assalariado, do que vende o tempo a troco de quase nada, quantas vezes a
alma, que não retribui com um sorriso, uma palavra agradável, um afago, um
carinho, o esforço, quantas vezes a lealdade, a amizade, a entrega, pelo menos
eu, que tu eras um publicitário, um garboso publicitário, irmão lindo, cruzavas
as palavras umas com a outras, rimava-as, adocicava-as, vendias ilusões,
arrastavas donas de casa e consumidores, até que um dia, um homem petulante,
sem coração, um dito tecnocrata, te tirou do caminho, bem sei, com mil
desculpas, eu não tenho culpa, peço perdão, mas a culpa é de quem nos exige
mais cada dia, uma taxa, uma sobretaxa, um imposto, um sobreposto, um custo, um
sobrecusto, uma portagem, uma comissão, em nome da dívida, em nome do deficit,
em nome do utilizador - pagador, em nome do pagador - poluidor, em nome da
democracia, em nome da sustentabilidade, em nome da política, em nome de um
povo...»
PAS
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