Citações:

Sem o direito natural não há Estado de direito. Pois a submissão do Estado à ordem jurídica, com a garantia dos direitos humanos, só é verdadeiramente eficaz reconhecendo-se um critério objetivo de justiça, que transcende o direito positivo e do qual este depende. Ou a razão do direito e da justiça reside num princípio superior à votante dos legisladores e decorrente da própria natureza, ou a ordem jurídica é simplesmente expressão da força social dominante
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A Obra pela Vida

Nunca me entrou na cabeça gente má, mesmo correndo o risco de ser apelidado de moralista e mesmo sabendo que as bordoadas da vida - e principalmente as bordoadas da infância, a desestruturação familiar - cultivam, em maior ou menor dose, os maus fígados e rancores muito pouco humanos. Só por isso dificilmente construiria uma carreira política, já que distribuiria pelos meus concidadãos sempre muito mais flores, do que levantaria o cajado para distribuir umas pauladas a quem se esquece da sua condição humana de passagem, a quem se esquece que a vida dos outros não é por si determinada. Para contrariar esse mau pensamento quase sempre me rodeei de animais ditos irracionais - para além dos outros obviamente, que uns são uns e outros, outros, como se diria há poucos dias - para alguns e do mais racional e fiel amigo para outros – o cão – principalmente para aqueles que pensam o estômago como mais importante do que a humanidade. E não falo do bacalhau, mas daqueles que alguns dizem não ser capazes de grande complexidade, de respeito pelo outro, de afectos, de simplicidade e nobreza de carácter. Para contrariar tudo isto sempre adoptei no contacto com os outros um sorriso, melhor porta de entrada do que uma «cara emburrada» embora possa estar com regularidade «açoitada» – e mesmo que haja também quem confunda a afabilidade com a idiotice de um mr. bean e o ridículo – como se houvesse algo mais ridículo do que repousarmos num caixão a alguns palmos do chão para a eternidade! E nunca me preocupei muito em blindar as minhas opiniões e os meus sentimentos, mesmo que alguns pensem devermos manter alguma contenção na transmissão da imagem: aquilo a que outros teimam em chamar de «aparências!» Quem não deve, e só concebe o ser humano na equidade, não tem de temer a comparação com o outro... ser. Felizmente que vivemos rodeados, também, de bons exemplos e boas acções. Por isso faço «desporto pessoal» daqueles que se consideram muito importantes, muito cheios de vento e de quase nada de relevante, senão muitas vezes omissos de afecto - e de palmadas higiénicas e pedagógicas. Um dos meus maiores medos foi sempre o de ser sujeito a tais injustiças, como do personagem Valjean de Hugo, que me mudassem - transitoriamente, como Valjean provou - para uma índole, azeda, amarga, desumana. Dito isto, um dos livros que deveria estar sempre à nossa cabeceira não sendo ficção, tem tanto de ficção como a de autores como Tennessee Williams e a sua «Cat On a hot Tin Roof» ou «Gata em telhado de zinco». Falo da Teoria Social, de Bryan S. Turner, de que há um livro que não é mais do que uma excelente introdução aos grandes desenvolvimentos da teoria social contemporânea. Com as suas teorias da acção e da praxis, as acções, os actores, os sistemas, a teoria social e a psicanálise, os interaccionismos simbólicos, as teorias como a da escolha racional, a da cultura, a do tempo e espaço, a teoria da esfera pública, seria possível uma dessas figurinhas ter recentemente querido matar, em plena assembleia, em plena casa do povo, os seus pais? Não me parece, porque o sentido da irrelevância humana e das proporções face ao espaço, ao tempo e à natureza, não lhe permitiria. 
E é talvez por isso que a obra e a vida são simultaneamente verdugos e anjos de uma complexidade humana que nos faz predadores e guardadores de rebanho no mesmo espaço e em tempos tão pouco diferidos.  

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