Já sabíamos ser o homem animal curioso, que
interage com os outros animais e com a natureza; já sabíamos, pela imprensa e
pela experiência, não necessariamente pela mesma ordem, que o cansaço e o
stress profissional podiam ser motivo de falta de interesse; já sabíamos, pelos
tempos que nos vão dando essa notícia, que adoramos ser sátrapas do espaço e da
dimensão do nosso semelhante; já sabíamos que acontecimentos fora da norma
prendem a atenção deste animal cheio de hábitos, maus e bons, sempre à procura
de se desabituar: já dizia Sócrates, o do S grande, que quanto mais curiosos,
mais desenvolvidos e sábios os homens se tornam. Esta avaliação de Sócrates não
terá nada, aparentemente, de finalista: já que a história não a confirmará
cheia que está de processos bárbaros, a que chamaram «desenvolvimento».
O que é pena, em definitivo, é serem, a harmonia,
a bondade, a reflexão própria - centrada na relação harmónica - e o equilíbrio,
variáveis consideradas entediantes e desinteressantes pela voz mediana animal:
o que vende no mundo animal são as emoções fora da norma, que nos avaliam como
ser «ainda» vivo.
Este desfrutar ao longe do sofrimento alheio
fará, talvez, parte do mesmo mecanismo que nos faz meter, por boas e más
razões, em vida alheia; querendo impor as nossas verdades, as nossas
vontades, as nossas certezas, as nossas espertezas, as nossas
mensagens.
Será talvez um mecanismo de exorcismo, ou de
comparação e de avaliação de nós próprios, em contexto diferente do nosso, já
que vivemos nos outros e pelos outros: sem isso, poderíamos sentir-nos como
inertes pedras da calçada. O sofrimento, esse é como um ignitor da vida!
Sem comentários:
Enviar um comentário