Citações:

Sem o direito natural não há Estado de direito. Pois a submissão do Estado à ordem jurídica, com a garantia dos direitos humanos, só é verdadeiramente eficaz reconhecendo-se um critério objetivo de justiça, que transcende o direito positivo e do qual este depende. Ou a razão do direito e da justiça reside num princípio superior à votante dos legisladores e decorrente da própria natureza, ou a ordem jurídica é simplesmente expressão da força social dominante
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

A Adição do Poder

O poder tem uma capacidade de adição que vai para além da compreensão do homem como cidadão desprovido dela. Um das características que a cidadania devia pesar na balança dos «checks and balances» reporta mais às características intrínsecas do ser humano no pré – exercício dos seus poderes do que à sua ideologia. A ideologia é nos tempos que correm - mesmo que alguns reportem resquícios de neo-liberalismo, totalitarismo de estado ou pequenos flashes de apropriação societária – mais um amontoado de consequências do que um fim. 
A sociedade, hoje na sua fase ideológica da adoração do bezerro de ouro, perdeu o sentido das proporções; perdeu o fio da meada do seu porvir mais nobre: a entrega de um mundo mais higienizado - e puro, no sentido de um «estado selvagem de natureza» ingénuo - aos seus «postcipados».
Em sociedades em que o poder de poucos molda as políticas públicas - mesmo que eivadas de pequenos poderes fácticos sempre à procura de abrigo e de santuário, da entreajuda dos interesses até ao parasitismo egoísta degradante «amebiano» - e em que a democracia parece apenas um momento de «saque» da legitimidade – e a participação, uma falácia - uma espécie de olhar perscrutador predador «de águia», no sentido de provedor de sobrevivência, é necessário. 
O eleitor devia olhar assim - para o «seu?» candidato a representante - mais numa perspectiva do ser humano holístico do que a qualquer outro indício. No olhar pré-eleitoral, ao candidato, o representado deve tentar elaborar sobre o mesmo uma espécie de análise psico - comportamental e sociológica: como se estivesse a estudar «o animal» num aquário com cavernas, e outras reentrâncias escusas, divisando hábitos visíveis mas acima de tudo as regularidades ocultas. 
Deve também cumulativamente tentar «isolar» a capacidade empática do mesmo em indicadores como a sua capacidade de entrega aos outros; a sua maior ou menor generosidade; os graus de bondade; o grau de tolerância; a sua coragem; o seu sentido das proporções; a sua capacidade analítica, totalista; a sua capacidade de ouvir, ver e de se «mixar» - aquilo que se denomina de sentido de serviço público; o seu desprendimento material; a sua maior ou menor espiritualidade; a sua percepção do relativo e do absoluto – a insustentável leveza não apenas do «ser», mas do «ser» no tempo limitado, as feridas e as cicatrizes que carrega – que todos carregam! - e a influência no seu comportamento.
Tudo isto dissecado - e somado - deve dar uma margem para todos os imponderáveis de carácter, devendo os crentes rezar muitos padres – nossos e umas tantas aves – marias, rogando que o «seu» candidato não seja tomado pelo «diabo».
Neste caso, grave, convém ter sempre à mão toda uma legião de técnicas e procedimentos que abram as portas de saída ao demónio: desde os pantáculos do Grimório mais conhecidos como «A Chave de Salomão», ao estudo do caso «Anneliese Michel», à utilização sistemática e apaziguadora «do nome de Jesus».     
Como se confundem normalmente espíritos narcísicos com auto estima – que os processos não são lineares, mas obviamente complexos - transtornos dissociativos de identidade - comuns a várias doenças mentais de quem se exime de viver num mundo mais ascético e simples como a histeria, a mania, a psicose, o «síndrome de Tourette», a epilepsia, a esquizofrenia, … - e toda uma panóplia de elementos podem estar associados, exigindo grande atenção e cuidado na avaliação.
Alguns casos revelam até formas denominadas de «demonopatia» - em que o sujeito acredita estar possuído por um ou mais demónios - ou mais grave ainda - já que revelador de inconsciência e de resultados gravosos inconscientes para o seu semelhante - formas de delírio de grandeza ou certezas absolutas – imutáveis?! - e grandiloquentes.
Menos grave é aquilo que se designa de idiotice ou estupidez (nas suas diferentes subespécies: da imbecilidade à inépcia); forma, no entanto, não necessariamente nas consequências - que não nos sintomas – menos devastadora para a sociedade.  
E é assim que à semelhança dos demónios com quem se tem de usar o poder geral baseado na fé na oração de libertação, “Aqueles que acreditarem em Meu nome expulsarão os demónios...” (Mc 16,17), o poder que Jesus concedeu a todos os que crêem, o de participação e não omissão ou não alienação no seu destino, ainda permanece válido.
E é assim que o simples cidadão, homem culto ou homem simples, mas de carácter e dignidade inquebrantável, deve ater a alguns factos (não fatos… que não se alimentam aqui imbecilidades!) indesmentíveis: os três sinais, indicados no Ritual de cidadania como sintomas da possessão – falar línguas desconhecidas (e julgar-se um génio por isso); possuir uma força sobre-humana (para o afastamento da realidade dos seus compatriotas, do ser humano em geral e que toma o nome mais comezinho de desumanidade); conhecer «coisas ocultas».
Estes possessos, estas perturbações maléficas, estas presenças demoníacas, são assim fruto de uma adição que toma, e torna, o homem simples, num caso de psiquiatria, exorcismo ou simples resultado da falta de participação cidadã.
A cada um cabe escolher o modo, o ponto de vista, como gostaria de se relacionar com este poder para o anular a cada instante.

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