Lapalisse diria que só se é escritor, escrevendo. No
meu mundo de escalas, não há lugar para o absoluto. Tudo é demasiado relativo,
o absoluto mora num lugar improvável que possivelmente só conheceremos em
morte. Dificilmente digo que «não gosto», facilmente extraio alguma beleza da
fealdade de que dizem existir e de tudo o resto que nos rodeia. Li quase todos
os livros do João por ordem temporal: a sua maturação não passou despercebida.
Noto, de obra em obra publicada, uma ligeireza e harmonia cada vez maior. É
essa harmonia que faz o escritor. Uma harmonia conquistada, aprendida e
apreendida todos os dias. Só se é escritor, escrevendo; e escrevendo muito, seja-se
publicado ou não publicado, animal de raça ou rafeiro. O nosso olhar vai-se
tornando cada vez mais arguto, as palavras jorram cada vez mais escorreitas, a
trama é um lugar cada vez mais sólido e coeso. Na nossa cabeça a consolidação do
processo vai-se harmonizando, o objectivo final, totalmente não alcançável, infinito,
funciona por incremento, por aproximação infinitesimal – nada de muito
original, aliás, como em toda a aprendizagem. João Tordo, na minha relativa
avaliação, é mais enredo e menos poesia; é mais «estória» e menos espontâneo; é
mais escrita de ardil, ardilosa no sentido de um escritor de arrumação de
conteúdos, com um padrão visível de escola. João é um profissional, um operário
em construção, que constrói a casa não pelo topo, mas pela base. E seja pelo
topo, ou pela base, a construção de uma «estória bela» só tem de resistir como
na história das três casas, «como poderia ter sido nas três vidas», ao sopro do
«lobo»: seja ela de palha, de adube ou de tijolo, o que interessa é a sua
beleza harmónica interior e exterior.
http://anarquistadepapel.blogspot.com (pela palavra seremos mais humanos) Este blogue serve como extensão da secretária do autor, assim uma espécie de oficina de escrita.
Portal da Literatura
Citações:
Sem o direito natural não há Estado de direito. Pois a submissão do Estado à ordem jurídica, com a garantia dos direitos humanos, só é verdadeiramente eficaz reconhecendo-se um critério objetivo de justiça, que transcende o direito positivo e do qual este depende. Ou a razão do direito e da justiça reside num princípio superior à votante dos legisladores e decorrente da própria natureza, ou a ordem jurídica é simplesmente expressão da força social dominante
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)
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