O poder tem uma capacidade de adição que vai para além
da compreensão do homem como cidadão desprovido dela. Um das características
que a cidadania devia pesar na balança dos «checks
and balances» reporta mais às características intrínsecas do ser humano no
pré – exercício dos seus poderes do que à sua ideologia. A ideologia é nos
tempos que correm - mesmo que alguns reportem resquícios de neo-liberalismo,
totalitarismo de estado ou pequenos flashes de apropriação societária – mais um
amontoado de consequências do que um fim.
A sociedade, hoje na sua fase ideológica da adoração
do bezerro de ouro, perdeu o sentido das proporções; perdeu o fio da meada do
seu porvir mais nobre: a entrega de um mundo mais higienizado - e puro, no
sentido de um «estado selvagem de natureza» ingénuo - aos seus «postcipados».
Em sociedades em que o poder de poucos molda as políticas
públicas - mesmo que eivadas de pequenos poderes fácticos sempre à procura de
abrigo e de santuário, da entreajuda dos interesses até ao parasitismo egoísta
degradante «amebiano» - e em que a democracia parece apenas um momento de
«saque» da legitimidade – e a participação, uma falácia - uma espécie de olhar
perscrutador predador «de águia», no sentido de provedor de sobrevivência, é
necessário.
O eleitor devia olhar assim - para o «seu?» candidato
a representante - mais numa perspectiva do ser humano holístico do que a
qualquer outro indício. No olhar pré-eleitoral, ao candidato, o representado
deve tentar elaborar sobre o mesmo uma espécie de análise psico -
comportamental e sociológica: como se estivesse a estudar «o animal» num
aquário com cavernas, e outras reentrâncias escusas, divisando hábitos visíveis
mas acima de tudo as regularidades ocultas.
Deve também cumulativamente tentar «isolar» a
capacidade empática do mesmo em indicadores como a sua capacidade de entrega
aos outros; a sua maior ou menor generosidade; os graus de bondade; o grau de
tolerância; a sua coragem; o seu sentido das proporções; a sua capacidade
analítica, totalista; a sua capacidade de ouvir, ver e de se «mixar» - aquilo
que se denomina de sentido de serviço público; o seu desprendimento material; a
sua maior ou menor espiritualidade; a sua percepção do relativo e do absoluto –
a insustentável leveza não apenas do «ser», mas do «ser» no tempo limitado, as
feridas e as cicatrizes que carrega – que todos carregam! - e a influência no
seu comportamento.
Tudo isto dissecado - e somado - deve dar uma margem
para todos os imponderáveis de carácter, devendo os crentes rezar muitos padres
– nossos e umas tantas aves – marias, rogando que o «seu» candidato não seja
tomado pelo «diabo».
Neste caso, grave, convém ter sempre à mão toda uma
legião de técnicas e procedimentos que abram as portas de saída ao demónio:
desde os pantáculos do Grimório mais conhecidos como «A Chave de Salomão», ao
estudo do caso «Anneliese Michel», à utilização sistemática e apaziguadora «do nome de Jesus».
Como se confundem normalmente espíritos narcísicos com auto estima – que os
processos não são lineares, mas obviamente complexos - transtornos
dissociativos de identidade - comuns a várias doenças mentais de quem se exime
de viver num mundo mais ascético e simples como a histeria, a mania, a psicose,
o «síndrome de Tourette», a epilepsia, a esquizofrenia, … - e toda uma panóplia
de elementos podem estar associados, exigindo grande atenção e cuidado na
avaliação.
Alguns casos revelam até formas denominadas de «demonopatia» - em que o
sujeito acredita estar possuído por um ou mais demónios - ou mais grave ainda -
já que revelador de inconsciência e de resultados gravosos inconscientes para o
seu semelhante - formas de delírio de grandeza ou certezas absolutas –
imutáveis?! - e grandiloquentes.
Menos grave é aquilo que se designa de idiotice ou estupidez (nas suas
diferentes subespécies: da imbecilidade à inépcia); forma, no entanto, não
necessariamente nas consequências - que não nos sintomas – menos devastadora
para a sociedade.
E é assim que à semelhança dos demónios com quem se tem de usar o poder
geral baseado na fé na oração de libertação, “Aqueles que acreditarem em Meu nome expulsarão os demónios...” (Mc 16,17),
o poder que Jesus concedeu a todos os que crêem, o de participação e não
omissão ou não alienação no seu destino, ainda permanece válido.
E é assim que o simples cidadão, homem culto ou homem simples, mas de
carácter e dignidade inquebrantável, deve ater a alguns factos (não fatos… que
não se alimentam aqui imbecilidades!) indesmentíveis: os três sinais, indicados no Ritual de
cidadania como sintomas da possessão – falar línguas desconhecidas (e
julgar-se um génio por isso); possuir uma força sobre-humana (para o
afastamento da realidade dos seus compatriotas, do ser humano em geral e que
toma o nome mais comezinho de desumanidade); conhecer «coisas ocultas».
Estes possessos, estas perturbações maléficas, estas presenças demoníacas,
são assim fruto de uma adição que toma, e torna, o homem simples, num caso de
psiquiatria, exorcismo ou simples resultado da falta de participação cidadã.
A cada um cabe escolher o modo, o ponto de vista, como gostaria de se
relacionar com este poder para o anular a cada instante.