Antes
do mais peço desculpa pelo monstro, mas é mesmo uma questão de popularidade
do...tema.
Há
um facto insofismável: os livros devem servir para ser lidos e não para
enfeitar as prateleiras. Mas no mundo dos factos mesmo esta ideia não passível
de ser diversa da real pode ser contrariada. Porque há quem faça dos livros
objecto de adorno, objecto de vaidade, objecto de opulência, objecto de
aparência, objecto de coleccionismo e por aí adiante. A sua qualidade como
objecto de literatura deve pois assim ser relativizada - como aliás tudo na
vida. A própria noção de qualidade é relativa - depende do observador. O que
não invalida que haja um standard médio para um público médio - e que se possa
dispensar o profissional que conhece o mercado. Profissional, ele próprio, que
está inconscientemente balizado pelo gosto pessoal, pelas metas que lhe são
fixadas, pela previsibilidade ou imprevisibilidade do mercado onde se
posiciona, pela disposição momentânea, pelo excesso de originais que lhe são
colocados à frente, pelo seu grau percepcionado do princípio de Peter, pelo seu
grau de saturação, pelo seu profissionalismo... Porque também há «públicos -
muitos», e cada vez mais variados, a noção de nicho é cada vez mais importante:
e essa não deve ser desprezada, sob pena de nos focalizarmos sempre num nicho
específico, limitando o nosso foco. A percepção que eu tenho da globalização
não vai, no entanto, exclusivamente no sentido uniformizador, quase compressor,
de que fala o texto. A globalização trouxe à luz da ribalta interesses cada vez
mais diversos, interesses que se descobrem a si próprios pela descoberta do
outro, como nichos colectivos no espaço. Há, por outro lado no (s) livro (s)
uma espécie de dialéctica entre o inovador e o clássico - os livros são cada
vez mais a reconfiguração do tempo e espaço - pelo que os gostos variam não só
entre nós, como dentro de nós; variam na razão do espaço e tempo, da nossa
maturação, do nosso caminho, do interesse pessoal, de um momento, da
mundividência, do nosso «carrego», de, de… E foi sabendo que tudo é relativo,
que ontem descobri um blogue que pretende ser um «think-thank» do livro - e que
tal como o H.E. da Rosário presta um serviço relevante de «serviço (ao)
público». O Edição - Exclusiva,
é esse o seu nome, faz-me lembrar aqueles jornaleiros americanos que cantavam,
«extra, extra,...» dando a conhecer, em tempo, as notícias, e fazendo descobrir
ao autor - e a todos os interessados na leitura, na escrita, no livro - os
meandros da edição e do livro.
Fá-lo
de forma desassombrada, como a modernidade exige (a informação já não é - o
poder - que era) colocando todas as cartas na mesa, mostrando a falta de pureza
que existe neste sector – como na vida - o que o não diferencia de outros
sectores com os seus bons e menos bons players...
Desde
os interesses, às práticas, à dissociação cada vez maior entre editoras e
autores, à importância do marketing, mas também aos seus erros de apreciação,
às formas mais ou menos transparentes ou opacas, ao rapto do autor, aos factos
do mercado… enfim, ao seu modus operandi pela sobrevivência num mercado mínimo
(um quase esquema de Ponzi, de rotatividade sobrevivente como o náufrago que se
quer manter à tona, mesmo se tendo de apoiar em outros sujeitos da cadeia -
quase necrófaga, canibalística, alimentar).
Está
lá tudo! Por mim, só posso agradecer; tenho aprendido muito, o que me faz estar
agradecido aos autores destes dois blogues.
Eu,
cuja noção de literatura é: «tudo o que é colocado perante os meus olhos e não
me distrai ou fere a vista».