É
verdade que toda a crise gera a sua própria oportunidade e… a sua própria
redenção. O ponto é: à custa de quê e de que dimensão de dor?
Os
anos do cinzentismo Salazarista e Marcelista «criava as suas próprias tertúlias
nos cafés, os livros proibidos que passavam por baixo dos balcões, os programas
de TV inteligentes como o Zip Zip e as revistas pensantes como O Tempo e o
Modo.»
Apesar
disso, apesar desses cinzentos e queridos anos sessenta de contrários, era
indubitável que portugal queria ser outra coisa e queria o retorno ao
humanismo.
E
conseguiu - ou pensou que conseguiu - a espaços, durante os empolgantes anos
setenta. Bem como nos oitenta, nos noventa e no raiar do novo milénio. A
mudança foi radical, até meteu uma nova dimensão, a I&D, mas a doença sempre
esteve latente e emerge em ciclos, paulatina, sorrateira, batendo como quem
espera por nós, com quase todos a adorar os bezerros de ouro e os meninos de
oiro, individualistas, delirantes, franzinos na ambição colectiva. A claustrofobia
lusitana, a bipolaridade e uma mesquinhez individualista muito pequenina de
quem queria ser grande, uma espécie de sapo que quer à viva força ser boi foram,
novamente, sendo destapados e postos a olho nú - para quem os queria ver e não
vivia em negação. A ganância, a obliteração do essencial, do espartano e a
distorção de valores fizeram o resto.
Hoje,
resta-nos as saudades do futuro, as saudades dos queridos anos 80, 90 - e os
livros - e apesar da austeridade radical (há sempre outros caminhos!) que nos
reconduz à percepção da nossa própria dimensão de cigarras, os queridos anos
2000 serão no futuro vistos como anos terríveis de falta de crescimento, de
esperança, de desemprego, de matriz corrupta, do abaixamento bomba relógio natal,
do retorno à emigração, do desalinhamento europeu, mas também da tomada de
consciência de uma nova centralidade de prioridades, de afectos, de riqueza na
simplicidade e de afirmação de sustentabilidade social, pessoal e ambiental.
Redenção
e castigo. Queridos anos 2010! Que saudades iremos ter de ti!
(atingir a salvação pelo sofrimento, com religião, existencialismo, socialismo e niilismo pelo meio, é muito Dostoiévskiano)
(atingir a salvação pelo sofrimento, com religião, existencialismo, socialismo e niilismo pelo meio, é muito Dostoiévskiano)
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