Citações:

Sem o direito natural não há Estado de direito. Pois a submissão do Estado à ordem jurídica, com a garantia dos direitos humanos, só é verdadeiramente eficaz reconhecendo-se um critério objetivo de justiça, que transcende o direito positivo e do qual este depende. Ou a razão do direito e da justiça reside num princípio superior à votante dos legisladores e decorrente da própria natureza, ou a ordem jurídica é simplesmente expressão da força social dominante
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Redenção E Castigo

É verdade que toda a crise gera a sua própria oportunidade e… a sua própria redenção. O ponto é: à custa de quê e de que dimensão de dor?
Os anos do cinzentismo Salazarista e Marcelista «criava as suas próprias tertúlias nos cafés, os livros proibidos que passavam por baixo dos balcões, os programas de TV inteligentes como o Zip Zip e as revistas pensantes como O Tempo e o Modo.»
Apesar disso, apesar desses cinzentos e queridos anos sessenta de contrários, era indubitável que portugal queria ser outra coisa e queria o retorno ao humanismo.
E conseguiu - ou pensou que conseguiu - a espaços, durante os empolgantes anos setenta. Bem como nos oitenta, nos noventa e no raiar do novo milénio. A mudança foi radical, até meteu uma nova dimensão, a I&D, mas a doença sempre esteve latente e emerge em ciclos, paulatina, sorrateira, batendo como quem espera por nós, com quase todos a adorar os bezerros de ouro e os meninos de oiro, individualistas, delirantes, franzinos na ambição colectiva. A claustrofobia lusitana, a bipolaridade e uma mesquinhez individualista muito pequenina de quem queria ser grande, uma espécie de sapo que quer à viva força ser boi foram, novamente, sendo destapados e postos a olho nú - para quem os queria ver e não vivia em negação. A ganância, a obliteração do essencial, do espartano e a distorção de valores fizeram o resto.
Hoje, resta-nos as saudades do futuro, as saudades dos queridos anos 80, 90 - e os livros - e apesar da austeridade radical (há sempre outros caminhos!) que nos reconduz à percepção da nossa própria dimensão de cigarras, os queridos anos 2000 serão no futuro vistos como anos terríveis de falta de crescimento, de esperança, de desemprego, de matriz corrupta, do abaixamento bomba relógio natal, do retorno à emigração, do desalinhamento europeu, mas também da tomada de consciência de uma nova centralidade de prioridades, de afectos, de riqueza na simplicidade e de afirmação de sustentabilidade social, pessoal e ambiental.
Redenção e castigo. Queridos anos 2010! Que saudades iremos ter de ti!  

(atingir a salvação pelo sofrimento, com religião, existencialismo, socialismo e niilismo pelo meio, é muito Dostoiévskiano)

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