Parece-me neste momento em que a procura suspendeu a respiração, nem a
auto-edição, nem a própria edição totalmente assumida por editora, darem
lucros ao autor. Perpassa nos desabafos aqui e ali de nomes consagrados,
uma desilusão pelo seu trabalho de escrita como trabalho remunerado,
muitas vezes não pago ou insuficientemente pago.
Assim, o risco estará
cada vez mais do lado dos escritores, que têm de perceber o motivo por
que escrevem.
Ainda esta manhã zurzia contra o finlandês Olli
Rehn, o holandês Jeroen Dijsselbloem, os alemães Wolfgang Schauble e
Jorg Asmussen .
Zurzia pela sua postura de senhores da mittleuropa,
de formiguinhas egoístas perante as sulistas cigarras. Schauble, o
alemão, tem até esta expressão engraçada de afirmar a «pressão incrível»
a que sujeitaram o pobre cipriota.
Pergunto-me: e a pressão incrível a
que devem estas sujeitas a grande maioria das editoras, senão a
totalidade, cada vez mais migrando para espaços de serviços, da revisão
ao editing», à própria intermediação com as gráficas, perante a
avalanche de custos, de obras – primas e da rarefacção de receitas por
venda dos seus produtos iniciais? A pressão pela sustentabilidade e pela
sobrevivência do seu modelo de negócio é simples de perceber num mundo
em que disseminou teclados ao pé dos dedos de cada uma das
individualidades - que somos nós - e da oferta de preenchimento dos
tempos de lazer ao infinito – ao contrário dos tempos de qualidade.
Quem
não está distraído, apreendeu e percebeu o grito desesperado dos
editores perante a resma de «obras – primas» colocadas diariamente
perante os seus olhos, sentindo a angústia pela cooptação por menos de
uma mão cheia (e que risco correm podendo deixar escapar algo que o
gosto e o aleatório resolva consagrar?)
A realidade é que
estamos em mudança acelerada.
Quem quiser ser lido no futuro terá de
passar por blogues, cooperativas de escritores, nichos de leitores e
novas formas de publicação mais baratas aos poucos leitores que restarão
(seremos todos muito mais escritores da nossa própria realidade!) e aos
muitos escritores que se adivinham; e a um tempo de aprendizagem cada
vez mais demorado que permita uma perfeição anterior sufragada pelo
tempo - e em grande medida pela sua edição de autor ou notoriedade pelo
concurso literário.
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