Citações:

Sem o direito natural não há Estado de direito. Pois a submissão do Estado à ordem jurídica, com a garantia dos direitos humanos, só é verdadeiramente eficaz reconhecendo-se um critério objetivo de justiça, que transcende o direito positivo e do qual este depende. Ou a razão do direito e da justiça reside num princípio superior à votante dos legisladores e decorrente da própria natureza, ou a ordem jurídica é simplesmente expressão da força social dominante
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)

terça-feira, 30 de outubro de 2012

O Regresso de Eugénio

No Horas Extraordinárias, Rosário avisa-nos deste Regresso Feliz.
Como a decadência e a prostração tem sempre no horizonte o seu contrário, mesmo que ele esteja para além da linha do horizonte - e sejamos como viajantes no deserto sempre à beira da ilusão de um oásis que nos sacie a sede - vejamos como Eugénio de Andrade resolve o problema. 
«Quid pro quo» diria Eugénio - como já não ouviria desde Hannibal Lecter. 
A vida é definitivamente uma «corrente de escrita!»

Isto:   
  
«Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.» 


(Eugénio De Andrade)


Por aquilo: 

É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.


(Eugénio De Andrade)

No futuro, ao longe ou ao perto, haverá sempre um oásis!

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Visitar O Vale Formoso

A propósito do lançamento de um novo livro de poesia de Filipa Leal, Vale Formoso, publicado pela Deriva Editores, é extraordinário verificar como o Vale Hermoso em que se transformou Portugal, exige a visita aos diferentes Vales Formosos que vão desemperrando as engrenagens.
«Fazer o Luto» já quase não é necessário, porque há muito que vivemos no luto da complexidade de um país onde todos concorrem para o mau funcionamento da engrenagem. 
E quem não der um jeitinho ao toma lá, dá cá, morre à míngua como o carapau num charco. Bem precisávamos do Padre António Vieira para lhe encomendar mais sermões aos peixes e fazer deste Vale Formoso uma ria mais oxigenada.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

René Char In Chants De La Balandrane

ENTRAPERÇUE

Je sème de mes mains.
Je plante avec mes reins;
Muette est la pluie fine.

Dans un sentier étroit
J'écris ma confidence.
N'est pas minuit qui veut.

L'écho est mon voisin,
La brume est ma suivante.

René Char, in Chants de la Balandrane (1977)

René Char, Não É Meia Noite Quem Quer E O Maquis

Mais um excelente post que numa manhã de temporal , palavra motiva palavra, nos motiva rapidamente à reflexão. Primeiro o supremo título de escritaria que rimava com berraria, não fossem os livros para serem lidos em surdina. Depois a informação da Rosário sobre o «surripiar» títulos, acto muito feio e apenas condizente com o tempo cinzento, tristonho e despido do Outono. Mas, enfim, somos cada vez menos nós próprios e apenas pedaços de todos. 
«Não é meia - noite quem quer», do René Char, numa procura rápida das obras completas deste contemporâneo de André Breton, não é, aparentemente, título de obra: nome de poema, talvez, Rosário?
O Maquis do título do post? Ah, apenas porque adoro estórias de «resistência e bravura!»
«Poeta francés nacido en Isle-sur-Sorgue, en 1907.
Pertenece a lo que podría llamarse segunda generación surrealista iniciada en 1929, coincidiendo con la primera crisis señalada por el segundo manifiesto de Breton aparecido ese año. En 1934, debido a su afán de perfección formal,  se  alejó paulatinamente del movimiento surrealista.
Durante la ocupación de Francia por los alemanes, se destacó como capitán de maquís en la resistencia, y allí aprendió, según él mismo dice, "a amar ferozmente a sus semejantes". De esta experiencia en la lucha clandestina surgió su  gran obra poética "Páginas de Hypnos".
Es uno de los poetas cuya fama ha crecido rápidamente en los últimos años. Elogiado ampliamente por la crítica, es considerado como uno de los  máximos poetas de Francia.
Falleció en 1988.» 

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Eu E Gaspar!

Artur! Porque haveremos todos de querer ser Prousts, podendo ter apenas uma costela do senhor? Será o nosso espírito grandiloquente ou haverá em nós uma bipolaridade que nos remete singularmente do passado ao futuro, sem nunca passar pelo presente?
ALP, sem dúvida! O século das massas, não é só nas prateleiras dos supermercados. E o século das massas dá-nos novos direitos culturais que criam uma sociedade de nichos, matrioskas de gostos de dimensões variadas. O gosto deixou, assim, de ser espartilhado, mesmo que nos supermercados só se venda marca branca por questões financeiras. As editoras têm assim os seus espartilhos, mesmo que muitos de nós gostássemos de ter um TGV até à nossa porta e que fizesse entregas «à la minute».
Espiral diz: «As pessoas podem escrever e publicar livros, mas escrever e publicar livros não é ser escritor». Não sei se é ou não, porque para mim um escritor é quem escreve por gosto - mesmo que escreva no ar espalhando versos pela atmosfera e que à boa casa retornam como os boomerangs, depois de imensos ricochetes em inúmeros obstáculos. Tal como os poetas escritores orais como o Aleixo - e outros que tais. Os obstáculos sempre lá estarão e mudarão de forma, todo os dias. Como procuro não pensar em espiral - porque tudo o que é espiral faz-me tonturas e fazer perder o norte - diria que não existem escritores a sério, existem, sim, livros a sério - que tocam algumas dimensões, mas não todas. Acabei de ler a Dulce Maria Cardoso que me tocou e sugestionou a dimensão «dos meus sentimentos», mas não outras. Faltou (me) emoção e aventura; delírio, não! Estava lá todo! E, no entanto, a Dulce é uma senhora escritora, um prodígio, mas não um prodígio nem um dia de delírio para todos os meus dias. Talvez o dia fosse propício a outras dimensões e aventuras; talvez o meu dia estivesse mais para ler «A mão do diabo» do José Rodrigues dos Santos ou o «Pão que o Diabo amassou» - que o Gaspar escreve por entre as folhas do orçamento e que muitos confundem com as folhas de alface e as verduras de que gostariam de pôr na sopa. Repare que mesmo lendo «a mão…» já não era o seu pescoço alto e esticado que via, mas uma figura baixa e atarracada, olheirenta, uma dimensão mais genial e arrastada Gaspariana.
A melhor aprendizagem que me foi transmitida nos últimos tempos, porque se formos como as esponjas poderemos sempre mais absorver do que aspergir, foi: «um ponto de vista, é apenas a vista de um ponto!» Genial, pensei eu: é que o meu ponto nem sempre está calibrado. Calibrado, essa palavra, tão em voga, tão em moda, esse buraco da agulha que alguns julgam de dimensão única. E quando entreguei a minha última tese, defenestrei como um selvagem, todo o formalismo conservador da academia.
«Escreve, razoavelmente bem» dizia o orientador vindo do país de Hergé, como se o razoável pudesse adormecer à janela abraçado com o bem, «levanta questões pertinentes, inovadoras, mas é avesso ao formalismo e às regras da academia indígena». «Mas e a tese», perguntava-me eu.
Há sempre um mas num mundo de repetição, num mundo barato, presente - passado, até nos não indígenas - já influenciados por uma atmosfera tristonha e opressiva.
«Pois, essa!» respondi, sem me importar minimamente em «calibrar a mensagem, como é mister hoje em Portugal, com p pequeno», já que me senti um cow-boy (naquela altura não sei se mais um rapazinho que um boi!) 
E foi aí que, olhando para a janela, tive a certeza: vi um corvo velho, zangado, negro e cinzento, que voltava sempre e sempre para o mesmo ninho, como se vivesse em volteio, voando em voos baixinhos, curtinhos, enquanto ao alto uma gaivota fazia como a Fernão: voava à altura e liberdade dos grandes espaços; livre como um passarinho, como o Fernão Pinto.
E mesmo que lhe perguntassem: «Fernão! Mentes?»
«Minto!», respondia, «mas sinto-me livre como um escritor e um passarinho!»     

Escrever Nunca Será Uma Perda De Tempo, Antes Um Ganho De Nós Próprios

Ao termos a noção de finitude que está sempre presente, mesmo que escondida, todos procuramos alargar o tempo e dominá-lo. 
A Rosário fala na poesia como o domínio do amor e da morte. 
A morte de que procuramos evitar; o amor, o qual, como seres gregários e sociais, procuramos possuir.
O tempo é, assim, o grande constritor do homem.
Escrever é muito mais do que um hobby, porque pode ser um trabalho, bem como uma terapia.
E quando escrevemos, sonhamos. 
E quando sonhamos, chega um tempo em que queremos partilhar o que escrevemos; talvez, porque queiramos ser amados. 
É essa a sina de todo o ser humano, possivelmente até de todo o ser animal. 
E é, assim, que se confirma que a escrita tem como corolário a partilha do amor e da morte, através da única forma possível: sermos publicados!

domingo, 21 de outubro de 2012

Livros & etc

Falar de livros deve também fazer falar de editoras e projectos: a Livros & Etc merece-o, bem como o ASuldeNenhumNorte. Pagam a renda e a bucha? 
Talvez não, Aliás, decididamente, não! Mas nem só de pão vive o homem.

sábado, 20 de outubro de 2012

A Mão Do Diabo

Ainda não li «A mão do Diabo», de José Rodrigues dos Santos.
A entrevista que deu aqui tem alguns pontos que ajudam a conhecer melhor o que pensa JRS. Há quem pense que JRS é um escritor menor, um daqueles oportunistas do momento.
Não penso isso, embora nunca tenha lido um único dos seus livros - pelo menos na íntegra - logo, não posso demonstrá-lo! Mas também é necessário vivermos em constante descrença nos outros?
Percebo, no entanto, o que quer dizer quando diz que «não faz um exercício narcísico do estilo»; e, que o sucesso tem a ver com um tipo de livro novo para o mercado. Esse tipo, o dele, situa-se entre a ficção e a não ficção, o que como estilo se poderia denominar de: «romance de investigação».
Será que temos sempre de desconfiar do virtuosismo do diabo?

O Retorno Da Pomba: Requiem pelo MAP

E aos 3 dias retornaste.
Como um pássaro engaiolado
Que voou para longe do lugar
Que lhe enfraquecia os músculos,
E enegrecia as penas.
Doravante
Construirei um lugar bonito
A que chamarei pombal,
Mesmo que a pomba branca
Que me deste
Esteja descolorida
E magra,
Incapaz da simplicidade
De um gesto tão banal
Como debicar
Um minúsculo
Gole de água.
E ao terceiro dia retornaste
Ainda batia eu
O último prego
Do beiral
Onde repousas.

(PAS)

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Odeio Dizer-te Isto...

«Odeio dizer-te isto, mas a minha vida não a quero condensada num sonho, quero vivê-la intensamente a cada momento, despida de mas e de ses, quero sentir que piso todos os dias caminho, que me engasgo de riso com a minha própria ironia,...»   
       
PAS (A Dupla Vida De Um Sonho)

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Afirmação

Apesar da minha idade «do meio», ainda adoro estudar.
Estudar é algo que nos vai acalentando e reformatando a alma e muda decisivamente a todo o momento o modo como olhamos o mundo.
Vem isto a propósito de uma agradável reunião de discussão sobre uma tese (felizmente com um orientador que foge a uma certa conservadorismo e aristocracia de academia - ou não tivesse ele uma costela não indígena).
A nossa academia ainda é um mundo fechado, onde a vida do dia - a - dia parece não ter muito lugar.
Os formalismos, quase sempre contrários ao pensamento «out of the box», ainda dominam o presente de muitas universidades sendo que, à reflexão ainda se contrapõe, a necessidade de afirmar não com base na realidade actualizada, principalmente no domínio das ciências sociais e humanas, mas no pensamento ungido pelo academismo que muitos confundem com ciência.
Assim, sem essa capacidade de espreitar por debaixo de todos os cantos e lugares e de criar cenários imaginários, que só a imaginação criativa, delirante e sem peias pode dar, estaremos sempre um passo de gigante atrás dos mais arejados e descomprometidos com o passado.

sábado, 13 de outubro de 2012

Entremeada Literária

Entremear tipos de leitura foi sempre um exercício que me satisfez; desde a literatura pura e dura, à poesia, à história, à filosofia, à sociologia - de que recordo com prazer Bryan Turner e a sua Teoria Social - à economia, com Galbraith, Friedman e tantos outros. Sendo um amante de e da história, livros de história como os de Pierre Chanu, Antony Beevor... sempre conviveram com o romance histórico de Bernard Cornwell e o seu incansável Sharpe, bem como os magistrais romances de Patrick Rambaud, Patrick O'Brian, para além de quase todos os clássicos.
E é nesta mistura de tipos e autores sem discriminações e sem idolatrias que me posiciono.
Pergunto-me se haverá verdadeiramente essa distinção entre o que alguns designam por literatura, em contraponto com «A Outra escrita».  

Autor Em Construção

Ler os livros de um autor por ordem temporal, pode ser um exercício interessante.
Foi o que fiz com o João Tordo: li «o livro dos homens sem luz», o «hotel memória», «as 3 vidas» e «o bom inverno».
Nesta sequência ainda incompleta do publicado de um autor que conta histórias, com uma simplicidade de que se faz a escrita, noto, livro após livro, um autor em construção em crescendo. 

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Episódio Siamês

«Naquele quarto fechado repousava a senhora idosa. Não era melhor nem pior que as outras senhoras que deambulam quase às cegas pelas nossas cidades.
Do cimo do prédio avistava-se uma torre de igreja. Igreja suja, vetusta, inteirada de história, despida de estuque e de alvenaria.
«Vês?», perguntou a velha senhora a um pássaro que passava, «vês como é bela, como irradia uma aura de tranquilidade, tão longe da perfídia que invade aquelas ruas...» 
Ainda não publicado um livro de contos siameses, que foi um dos meus primeiros. 
Tem nome, mas não vai por enquanto aqui ser divulgado. 
Talvez nunca o seja, publicado, pelo menos na plataforma livro. 
Mas um dia verá a luz do dia, nem que seja no ano da minha morte lido como um testamento de grande vitalidade e esperança no mundo, espero ainda que distante, «Vá De Retro Satanás!»   


quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Os Meus Sentimentos

Aconteceu como ao prémio, mas aconteceu. 
Lá me chegou aquele livro cuja capa continha uma árvore de Outono, despida - e a um canto os seguintes dizeres: 
«Diz-me um segredo; Mantém-me acordada».

A dourado, «Os meus sentimentos», de Dulce Maria Cardoso, numa escrita miudinha, como a chuva e a neblina que não dá profundidade à capa, mas nos embrenha numa escrita intimista e sentimental.
 

Some Failure In Life Is Inevitable ou Os Benefícios Marginais Do Fracasso

J. K. Rowling dá-nos a resposta para todos os nossos medos: «algum falhanço na vida é inevitável!» e dá-nos a consciência da nossa força: 
«Temos o poder de imaginar o melhor».

É curioso como o discurso de Harvard de JK Rowling fala «nos benefícios marginais do fracasso», num momento em que alguns Portugueses estão em alta na visibilidade literária (e, esperemos, em algo mais!), sofrendo colectivamente os mesmos portugueses  os custos marginais de anos de «estadia em zonas de comodismo e conforto». 
Os nossos limites espantam-nos até a nós próprios e a vida é comprovadamente credora desse método de «partidas dobradas ou, no seu original, el modo de Vinegia».

Preciosa, Rowling!

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Philip Roth e «Todo - O - Mundo»

Hoje também retornei ao passado. Ao passado das leituras: não de Melville, mas de Roth. As chagas humanas e o terror das doenças junto com os sentimentos de perda, arrependimento e estoicismo, formam o conteúdo do «Todo - O - Mundo», 27 livro de Roth. «Roth, Philip Roth», diria James, como «James. James Bond!»
Ainda me faltam alguns «Roth's»...muitos...mas nada que não «despache» da 1 às 4, para quem «despacha» 10.000 caracteres por dia. A minha maior luta, afinal, tem-me esgotado é na escolha das fontes quando impressas: o Garamond, o Georgia, o Verdana...? 
A impressão com que fiquei deste «angustiante» livro, foi como um autor também se pode esgotar e ser esgotado na busca pelo Graal da originalidade e na exigência dos outputs, num mundo já coberto a várias camadas.
Contínuo, assim, com o sabor do Truman Capote e da sua «Tiffany's» nos lábios. 
Mais valia, como diria o outro, ter cavalgado o dorso de Dick, «Dick. Moby Dick!», à procura de mim mesmo, ou sentar-me no sofá do Nuno Amado. 
É que foi terrível saber esta novidade pelo BookOffice: 

«I know there are some freaks of nature whose normal output is 6,000-10,000 words a day».
Pausa!


Writeholic?

«I know there are some freaks of nature whose normal output is 6,000-10,000 words a day, but for most writers it’s anywhere between 1K-4K words per day. And so, it sounds impossible when you first hear or think about writing 10,000 words in one day. But it IS possible…I’ve done it (many times). In fact, on my debut 10K day I wrote 12,000 words!»
Ups! 
Das 9 às 5, já me incluo na categoria de freak! Workaholic ou Writeholic?

domingo, 7 de outubro de 2012

As Linhas De Wellington: Uma Opinião Ligeira E De Espectador

Cinema ligeiramente Português, com os vícios (mitigados) e virtudes que o caracterizam (a eterna apetência para o cinema autoral e cravado aqui com poesia demasiado explícita)  e os actores (alguns, bons; outros, fraquitos) que os distinguem.
Malkovitch, como sempre, entre os melhores; Catherine Deneuve, para Francês chamar às salas; muito bem para Soraia Chaves e para a jovem actriz de olhos azuis da sua personagem inglesa; algo mal para alguns (poucos) actores cuja dicção contrasta com a das cenas em língua Inglesa, Francesa ou Espanhola.
Fotografia e Imagem, magistral; acção com falta de uma última cena com recurso a meios mais robustos (em tempo de crise, percebe-se não ser fácil queimar pólvora; mas, possivelmente há pólvora que resolve crises!), figurinos e reconstituição popular, estupendos e de grande beleza estética; montagem razoável, embora o filme sofra do defeito da perda do corte e de dinâmica (há cenas despiciendas e arrastadas!)
Pedia-se melhor banda sonora e melhor captação de som nas falas e dicção de alguns actores portugueses! 
De resto, um resultado global, agradável, com alguma direcção de actores e repetição de cenas que poderia sempre ser mais «chata e picuinhas», como aconteceria se fosse realizador!

O Intermediário

«O escritor é um indivíduo que devido ao aceso de combinações do corpo e do espírito, dispõe de certas antenas que lhe permitem sentir e interpretar o que à sua volta se passa; ocupando assim uma posição de intermediário entre a vida e aqueles cujas antenas não captam as mesmas ondas».
(Com os Holandeses; Rentes de Carvalho; pg. 135)

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Rentes, «Com Os Holandeses»

O Transmontano Rentes de Carvalho é bom, é muito bom.
Através dos seus olhos apercebemo-nos de que já só é meio Transmontano, porque calça os patins de lâminas que o levam, mãos dadas atrás das costas, pelos rios congelados da sua Amsterdão de adopção.

Rentes, «Com os Holandeses», mostra-nos o retrato bom e mau de tante Mien e oom Bertus... e mostra-nos muito, muito mais. 

Ponto final, «Com Os Holandeses», espaço aberto para «La Coca».  

Investigações Novalis

O livro de poesia de 2002 com chancela Difel, Investigações Novalis, de Gonçalo M. Tavares, é considerado textualmente como um não género, um texto arrancado ao íntimo do homem. 
Nas suas 118 páginas encontrei um exercício ao mais puro estilo da investigação: filosofia poética ao jeito do «E o Mais Desaparecido é o que aparecerá com mais força».

Mas genial é esta afirmação: «A condição normal é Morto. O vivo é o Excepcional poético».

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Os Dez Mandamentos Do Publicável

«Este texto tem já alguns anos e foi publicado originalmente no blogue Oceanos, dinamizado pelo atual editor da Porto Editora. Relembramos aqui essa publicação, desafiando o Manuel Alberto Valente a ressuscitar o defunto Oceanos.
«1. Nunca mande o seu original pelo correio. Entre os 36.427 originais que chegam todos os meses às editoras, o seu vai certamente ficar perdido dentro de um armário e merecerá apenas, alguns meses depois, uma simpática carta de três linhas a explicar que “por imperiosas razões de equilíbrio editorial”…
2. Não mande nunca o seu original por e-mail. Você acha que um editor vai gastar várias dezenas de folhas de papel A4 para imprimir cada um dos originais que recebe?
3. Não diga nunca que o seu original vai modificar (ou revolucionar) a literatura portuguesa. As feiras de saldos estão cheias de livros que se apresentaram com esse propósito – e os editores não esquecem.
4. Saiba procurar uma editora adequada àquilo que escreveu e suficientemente pequena para reparar em si – a maior parte das outras tem à porta, como nos hotéis, um letreiro que diz “completo”. Não é fácil arranjar um quarto livre…
5. Procure, se possível, a ajuda de um “notável”. Se o seu original vier “recomendado”, é evidente que as hipóteses aumentam.
6. Nunca diga que está disposto a partilhar os custos da edição. Isso é quase sempre sinónimo de que o seu original é mau…
7. Apresente um currículo escrito em português decente. Se logo no currículo diz que escreve “à vários anos”, nenhum editor o vai levar a sério.
8. Nunca diga que é discípulo do Lobo Antunes ou do Saramago. Bastam os originais.
9. Não mande poemas em que “amor” rima com “dor” e “saudade” com “idade”. Candidate-se antes aos Jogos Florais da câmara mais próxima.
10. E sobretudo não diga que quer ser publicado amanhã, nem fale em rebuscados planos de promoção. Espere humildemente pela sua vez.»
Estes quase «dez mandamentos irónicos» em estilo de conselho do actual responsável da Porto Editora, são muito úteis a quem gostaria de ver a sua «literatura» publicada por uma editora.

É óbvio que hoje há muitas outras opções de um autor ver publicado o seu trabalho (e no próximo futuro muito mais, com as novas maquinetas low - cost, e na hora de impressão gráfica) mas todas elas esbarram na necessidade de os originais serem analisados previamente por alguém com experiência e sensibilidade editorial: e a esse alguém chama-se «editor».

Claro que para os putativos autores é difícil perceber como fazer, se não se pode mandar o original por e-mail e muito menos por correio.

Estando a ler por ordem de publicação os livros de João Tordo, facilmente me apercebo do caminho que tem trilhado desde «O Livro dos homens sem luz».

Se no «Livro dos homens sem luz» se detectam enormes influências de um tipo de romance «geo-datado», é verdade que assiste-se a uma melhoria acentuada com «Hotel Memória», sendo que «O Bom Inverno» já começa a demonstrar uma fluidez assinalável e o despertar do enorme potencial narrativo do João.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Feira Popular E Outras Alarvidades

Já até aquele espaço
Nos impediram de possuir.
Transformaram-no por arrasto
Uma dessa mentes esquecidas
Da memória dos seus pais
Na maior das impunidades
Que é um mal larvar
Que impende sob as nossas espinhas.

Já até aquele espaço
Nos proibiram de desfrutar.
Era tão belo e lindo
Com os seus comboios da selva,
E os fantasminhas
Que nos arrepiavam
Por entre os trilhos,
Afagando os cabelos,
E beliscando
Nos seus trilhos,
A espinha.

Já até aquele espaço
Nos sonegaram,
Sem nada em troca nos darem,
Por entre os negócios mesquinhos
Como numa feira de vaidades,
De que tão cobarde
E impopularmente
Se apropriaram,
Sem uma palavra,
Uma desculpa,
Um gesto,
Uma beliscadura,
Um afago,
Um carinho.

(Ago.2012) 

PAS

terça-feira, 2 de outubro de 2012

O Que Ando A Escrever

Estiquei a mão para mudar o canal do rádio.
Não que me apetecesse ouvir outro programa, mas para fugir àquela conversa.
- Estamos a ser honestos. Não há lugar para todos. Só para os eleitos!
- Ah, pois – desculpou-se o Zé, enquanto fazia sinal para mudar de faixa – Tem razão, minha querida, estava só a questionar-nos. Não vê que vamos na mesma direcção? Na direcção eleita? Olhe, lá! – exclamou, apontando a placa com a direcção «Sul» gravada.