O uso corrente do palavrão ou palavra de baixo calão é muito
interessante e revela a genial evolução do Homem e o polimento actual da
humanidade. Na literatura infantil e juvenil com o argumento de não
chocar as crianças e adolescentes, substituiu-se o baixo calão por
grafismo: ossos, raios, crânios e o diabo a sete ficam à imaginação do
autor.
Por um qualquer estranho motivo nos primeiros anos das nossas
existências evitam-se os palavrões. «Muito bem!» pensei eu sempre. À
medida, no entanto, que se entra num mundo mais evoluído e complexo os
autores refinam-se. Tornam-se amigos de todos os diabos a sete, até aqui
reprimidos, censurados.
É verdade que a vida é feita daquela
espécie de esparregado (a que aqui chamaremos por causa das horas, de
trampa), de filhos da mãe, de filhos de outros bastardos e de todos os
parentes. Mas não existirão Eles e Nós, já desde que soltamos o primeiro
arroto no berço, umas vezes sendo Nós, os infantes, outras vezes Vós ou
Eles? Mas, se assim é, então porque desenhar ossos, crânios e raios, se
os pudemos substituir já à nascença por falos, pequenas cabras e tudo o
que a imaginação nos permitir.
E que estranha evolução é esta que
nos faz sermos menos meigos à medida que nos crescem os ossos dos pés,
os músculos do meio e as genitálias não diferenciadas? Dores de
crescimento? Injustiças tamanhas? Caminhos a terminar em precipícios?
Da
leitura das palavras feias da Rosário nem foi “gajo” (com mil raios e
coriscos diria Haddock), o que mais me impressionou. Porque “gajo” pouco
mais é do que alguém cujo nome se desconhece ou quer omitir.
Foi
sim, “maltosa”, que é uma espécie de caterva ou súcia pouco
recomendável, uma espécie de fungo ou bactéria que rapidamente pode
alastrar às nossas doces, santas, angelicais crianças, cujo futuro não é
tão risonho assim já que se antevê passarem em poucos anos a filhos de
todas as mães e todos os pais.
Como ainda sou uma criança ingénua que
ainda acredita que verga não significa mais do que isso, deixo-vos aqui
um excerto dos meus "Pensamentos de Benjamin":
«Do nome dado à nave sabia que Catrina podia ter várias asserções: um diminutivo de Catarina — do francês Catherine —, um seio de mulher e ainda mais adaptado à circunstância náutica, uma espécie de roldana… ou aquilo que uma grande enciclopédia do futuro definiria de forma pouco clara mas sugestiva como «moitão de ferro manilhado ao chicote duma ostaga singela, onde labora pelo seio um amante de corrente a cujos chicotes manilham os cadernais das betas da ostaga, podendo assim içar-se a vêrga por um ou outro bordo a-pesar-de a ostaga ser singela».
Palavras feias?!
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