Citações:

Sem o direito natural não há Estado de direito. Pois a submissão do Estado à ordem jurídica, com a garantia dos direitos humanos, só é verdadeiramente eficaz reconhecendo-se um critério objetivo de justiça, que transcende o direito positivo e do qual este depende. Ou a razão do direito e da justiça reside num princípio superior à votante dos legisladores e decorrente da própria natureza, ou a ordem jurídica é simplesmente expressão da força social dominante
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Contato de espíritos

Muito interessante a interpretação de Barnes, mas um tanto elitista. Algo que não encontrei n’ "O prazer da leitura", de Proust, que confesso não conseguir largar da cabeceira. Para Proust não há ignorância de livros porque isso é mesmo, para um homem de génio, uma marca de grosseria intelectual e quiçá redutor do todo.
Para Proust toda a leitura e o saber conferem “as boas maneiras” do espírito.
E a distinção de Barnes, entre leitores preguiçosos e maus leitores, faz-me pensar no modo como abordo cada livro, tantas vezes de aparente forma preguiçosa, com uma atenção tão desprendida como se as palavras ficassem a vogar no espaço, distraído; outras, sorvendo devagar cada palavra e cada sinalética como se estivesse a decorar um lugar onde queira voltar… E já nem muitas vezes me preocupando em decorar o próprio título, já que os livros deixaram de ser caravelas, naus ou brigues… Interessa-me mais o mar onde elas vogam.
Ler torna-se, assim, um exercício de condução até uma estrada interrompida, onde mudo de condutor sentando-me agora ao volante, abrindo novos-atalhos, novas-veredas, novos-caminhos, sempre sem os olhos em qualquer auto-estrada que me dê o título de leitor não desprendido ou de cidadão respeitado da polis.
No respeito, até da leitura, perde-se tanto “as boas maneiras do espírito” e o paradoxo é que continuamos a precisar da preguiça do bom selvagem. Sem igual é tudo tão sem gosto como, aquilo que me confessava há pouco uma revisora-amiga, o sabor de um copo-de-água.

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