Muito interessante a interpretação de Barnes, mas um
tanto elitista. Algo que não encontrei n’ "O prazer da leitura", de
Proust, que confesso não conseguir largar da cabeceira. Para Proust não há
ignorância de livros porque isso é mesmo, para um homem de génio, uma marca de
grosseria intelectual e quiçá redutor do todo.
Para Proust toda a leitura e o saber conferem “as
boas maneiras” do espírito.
E a distinção de Barnes, entre leitores preguiçosos
e maus leitores, faz-me pensar no modo como abordo cada livro, tantas vezes de
aparente forma preguiçosa, com uma atenção tão desprendida como se as palavras
ficassem a vogar no espaço, distraído; outras, sorvendo devagar cada palavra e
cada sinalética como se estivesse a decorar um lugar onde queira voltar… E já
nem muitas vezes me preocupando em decorar o próprio título, já que os livros
deixaram de ser caravelas, naus ou brigues… Interessa-me mais o mar onde elas
vogam.
Ler torna-se, assim, um exercício de condução até
uma estrada interrompida, onde mudo de condutor sentando-me agora ao volante,
abrindo novos-atalhos, novas-veredas, novos-caminhos, sempre sem os olhos em
qualquer auto-estrada que me dê o título de leitor não desprendido ou de cidadão
respeitado da polis.
No respeito, até da leitura, perde-se tanto “as boas
maneiras do espírito” e o paradoxo é que continuamos a precisar da preguiça do
bom selvagem. Sem igual é tudo tão sem gosto como, aquilo que me confessava há
pouco uma revisora-amiga, o sabor de um copo-de-água.
Sem comentários:
Enviar um comentário