«Na manhã seguinte levantou-se
tarde. Havia que tentar esquecer as últimas tormentas, uma vida despojada de
alegrias e sentido, a reversão de um tão longo período de felicidade. Habituado
ao reboliço da cidade saiu à rua que lhe pareceu deserta. As casas baixas
muitas das quais descascadas da cor branca, lembravam-lhe um cemitério. Na janela
de uma casa vislumbrou uma velha senhora. Lembrava-lhe um quadro, enquadrada que
estava por uma portada de janela azulada. Uma Veermer de trazer por vila. Emitiu
um olá sonoro. A velha senhora apontou ao nariz com esse mesmo apontador a exigir
silêncio. Calou-se! Todos os silêncios devem ser respeitados, relembrou.
Como todo o som não merece o silêncio. Esperou uma justificação para tal acto, mas
esperou em vão. Ela não veio, por que haveria de vir se era o silêncio aquilo que
propunha, embora a mulher parecesse inclinar o ouvido para o quarteirão seguinte.
Filosofou, por que a filosofia, como já ficámos a saber, lhe era inerente. Estava-lhe
colada à pele. «Os nossos silêncios devem ser sempre acompanhados por uma
justificação ou podem ser mal interpretados». E o dano que isso dá, essa causalidade,
não é virtual, mas de efeito real desastroso tantas vezes.
Perdem-se num repente tantos
amigos na vida como estrelas no céu. Resgatar é preciso por que todo o retorno
é possível. Chama-se rotação e translação dos corpos e das almas. Até as estrelas
se tornam de repente cadentes ou será candentes?!
© Pedro A. Sande (livro em andamento com título quase provisório)
© Pedro A. Sande (livro em andamento com título quase provisório)
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