Citações:

Sem o direito natural não há Estado de direito. Pois a submissão do Estado à ordem jurídica, com a garantia dos direitos humanos, só é verdadeiramente eficaz reconhecendo-se um critério objetivo de justiça, que transcende o direito positivo e do qual este depende. Ou a razão do direito e da justiça reside num princípio superior à votante dos legisladores e decorrente da própria natureza, ou a ordem jurídica é simplesmente expressão da força social dominante
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

SERÁ A SIMPLICIDADE O SUPERLATIVO DA ESCRITA?

Diz a Licínia Quitério «Eu acho que a escrita chamada "simples" é a mais difícil do mundo. Bem me esforço, bem me esforço, mas não chego lá.» Esta é uma opinião muito enraizada no mundo da escrita, boa na percepção de que a escrita complicada não deve disfarçar uma capacidade de explanar ideias. Mas a escrita deve ser sempre simples? Se a simples lhe apusermos o significado escorreita, perceptível, talvez possamos tomar esta frase como um absoluto... relativo! Se a simples lhe apusermos o carimbo de o mais rasteira de lugares comuns, melhor. E isto porque a simplicidade pode ser também sinónimo de facilitismo, de alguma vacuidade no sentido da abrangência, dos públicos, da incapacidade de tocar mar-terra e céu. O mundo é cada vez mais um mundo diferenciado, diferente nos interesses, formulações, gostos, impedâncias eléctricas, onde os interesses se repartem, as tensões divergem. Afinal nem todos viveram vidas idênticas, tempos sugestivos idênticos, tiveram experiências idênticas, tiveram formações ou viveram em espaços idênticos. Facilitismo no mundo vivido, facilitismo na incapacidade para perceber o diferente?! Ousar realidades que nos são estranhas. Vidas e perspectivas quase alienígenas. Escrever um livro não é a mesma coisa que escrever dois, ou cinco, ou dez, ou quinze. A escrita do meu primeiro foi diferente da do segundo; como a do segundo do terceiro; como a do décimo ou do décimo segundo diferente das anteriores. Escrevendo, o autor vai-se apercebendo de novos territórios, desbravando caminhos repletos de inexperiências, comandando cada vez mais a montada por lugares cada vez menos estranhos, sabendo entretanto pela matemática que se tende para mas nunca se chega. Quando se chega é porque se morreu e aí, sim, haverá lugar à consagração de um caminho trilhado. Nem a escrita de um livro tem o mesmo propósito. Posso escrever para colorir a vida, para perceber a vida, para reflectir sobre ela. Quando escrevo sobre economia (apesar de um povo que tem feito um sobre esforço real sentido na pele), não espero que todos me percebam, se não fizer um esforço para escrever de modo a evitar o jargão subjacente a todas as ciências (ou pseudo ciências). A riqueza do mundo é a diversidade. Do gosto, raças, ideologias. Da falta de diversidade só nos deve tomar o tempo a bondade, a solidariedade, a igualdade que nos faz seres semelhantes.

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