«Mais que o poder das armas é o poder da escrita que contém o moral. O
que me agradava naquela comunidade era o poder de acção comunitário
sustentável, num tempo em que nem se evidenciava ainda qualquer questão
ambiental. O fruto era só colectado na exacta medida das necessidades,
mais não fosse na da troca. A propósito de necessidades, a coceira no
meu baixo-ventre lembrava como a mesma
tinha sido preenchida no dia anterior. Não isenta de risco, mas cumprida
plenamente. A troco de nada, para além de afecto e educação requintada,
que não era nem avaro, nem hipócrita, nem um velho porco corrupto. Não
com a minha velha, exilada do novo mundo, mas com uma protegida da
Missão. Mulher nova, bonita e carinhosa faz o homem gemer sem sentir
dor, lá dizia o sertanejo. Como alguns que se açoitavam, depois de
sovarem ou fustigarem sem cerimónias, tomados os frutos à bruta, ou com
estratagemas que não lembravam ao demónio. O clérigo era mais astuto e
menos rapace. Deixa colocar o meu diabo no teu inferno, exorcizavam,
tomando de Boccacio o dixit. Mas também quem era eu para julgar?»
(© PAS; O Mordomo de ... - livro em revisão)
(© PAS; O Mordomo de ... - livro em revisão)