Citações:

Sem o direito natural não há Estado de direito. Pois a submissão do Estado à ordem jurídica, com a garantia dos direitos humanos, só é verdadeiramente eficaz reconhecendo-se um critério objetivo de justiça, que transcende o direito positivo e do qual este depende. Ou a razão do direito e da justiça reside num princípio superior à votante dos legisladores e decorrente da própria natureza, ou a ordem jurídica é simplesmente expressão da força social dominante
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Conciliação Ou Desentendimento

O que dizer deste excelente texto de reflexão de José Nuno Martins? Nada, só o ouvir! a este investigador, com uma aura intrínseca de poeta!
A crise económico financeira que atravessamos trás-nos essa alegria de estar a destapar outras formas que pareciam esgotadas no materialismo de há pouco: os valores baseados nas palavras e na grandeza da alma, parecem estar a vir ao de cima; e florescem como rosas.
A minha formação (formal) económica e de gestão sempre foi pautada por valores muito mais humanistas e não tão do domínio da aparência, mas mais da essência. E sempre a cruzei com outros olhares muito mais de humanidades. Por isso sempre achei que a economia, a gestão, mesmo as ciências ditas exatas, tem de ter um olhar muito mais de relação social: não há economia sem o homem!
Como estou indeciso «no avanço» entre a investigação sobre sustentabilidade social e desenvolvimento ou investigação sobre globalização ou políticas públicas, ainda o fiquei mais com uma janela aberta sobre os estudos sobre a palavra, a sua dialética e a sua dialógica. 
Porque há, e tantas vezes nos esquecemos disso, duas lógicas encerradas nas palavras, dois mundos aparentemente inconciliáveis, mas que sempre se cruzam e se conciliam. 
As palavras tem esse dom, porque o ser social é intrinsecamente bom, de poder desfazer e poder fazer, essa dialógica universal sem fim à vista. 
E o mundo é belo quando não desistimos pelas palavras.  

«As palavras longe de serem conciliadoras servem, na maior parte das vezes, para nos desentendermos


Confiamos demasiado nas palavras. Acreditamos que com elas podemos descrever estados interiores, consideramos que os outros que as ouvem interpretarão de acordo com o sentido que lhe atribuímos... temos por certo que as palavras nos expressam bem. Que podemos até fazer milagres com elas...
As palavras são excelentes instrumentos de pensamento. Nomeamos e, partindo desses sinais, pensamos tudo, gerimos conceitos em busca de uma compreensão profunda do mundo e de nós mesmos. Para, no final, partilharmos tudo isso através de palavras.
Mas o Homem é bem mais que o conhecimento de que é capaz. E se nem sequer os nossos pensamentos podemos traduzir inteiramente por palavras, importa compreender que no teatro das vidas, há muitos cartazes que são o contrário das peças que apresentam!
Há um limite claro à bondade e eficácia das palavras: os sentimentos. De natureza diversa das ideias, são mais profundos e têm vida, são dinâmicos numa fluidez que não se deixa aprisionar nas gaiolas de pedra que são as palavras. Não se pode mentir sobre o que se sente, tal como a verdade não se pode também dizer. O sentir profundo é inexplicável e indizível.
As palavras longe de serem conciliadoras servem, na maior parte das vezes, para nos desentendermos. O mundo de quem diz imprime um valor às (suas) palavras que não será o mesmo que lhe dará quem as ouve, uma vez que o mundo deste é sempre outro... há que confiar mais no que se sente e menos nas palavras. Aprender a escutar não o que se diz, mas o porquê silencioso de ter sido dito.
São sempre demais as vezes em que se diz demais... palavras leva-as o vento, mas por vezes voltam em forma de feias tempestades...
Talvez porque haja muita gente que julga que é capaz de se colocar completamente em palavras... como se fosse possível uma vida humana caber num discurso, por maior e melhor que este fosse... existimos em solidão e apenas em raros casos partilhamos a vida de forma autêntica, mas sempre pelas nossas obras, nunca pelas palavras, por mais belas que sejam as suas promessas...
Quantas vezes falamos apenas para tentar minorar o medo de sermos sós?
As palavras ajudam-nos a compreender, mas podem estragar-nos o sentir. A verdade habita em mim, não se diz... O que acontece quando um coração cheio tenta expressar-se por palavras? um conjunto de disparates que vale apenas pela intenção poética de lançar aos ventos a alegria que lhe transborda do íntimo. Quando uma dor (não física) me faz sofrer... que posso eu dizer?
As palavras valem pouco. A sua dignidade radica na de quem as profere ou nos sentidos ou sentimentos que prometem transportar.
Os poetas refugiam-se muitas vezes na fantasia, talvez porque a realidade seja incomparavelmente mais rica e admirável... e menos credível! O real será sempre mais magnífico que os sonhos... mas as ilusões, porque se controlam, podem sempre ser podadas para caber dentro do dicionário.
As razões do mundo passam pelas palavras. Mas importa aceitar que, quando se trata das paixões mais profundas, é a presença que conta. A existência concreta fala por si só... pois tudo quanto se possa dizer é necessariamente mentira.
As palavras simples, das quais ninguém precisa de explicação, serão as únicas que importa dizer. Pois só estas sobrevivem nas montanhas de ruídos da nossa vida quotidiana. Um "sim" ou um "não" podem ecoar na eternidade dos silêncios da nossa intimidade.
O amor diz-se na originalidade da obra que é a vida de cada um de nós.» (José Nuno Martins; Investigador)

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