Citações:

Sem o direito natural não há Estado de direito. Pois a submissão do Estado à ordem jurídica, com a garantia dos direitos humanos, só é verdadeiramente eficaz reconhecendo-se um critério objetivo de justiça, que transcende o direito positivo e do qual este depende. Ou a razão do direito e da justiça reside num princípio superior à votante dos legisladores e decorrente da própria natureza, ou a ordem jurídica é simplesmente expressão da força social dominante
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)

domingo, 9 de junho de 2013

Carta a... (1)


Porque será que estas palavras da Ana Cristina Silva me caíram tão fortes como se um meteorito me apanha-se em cheio e me obrigaram a réplica, a tréplica, se necessário for...
«Morreste-me. Queria poder dizer que esta é uma resposta às tuas cartas, mas ambos sabemos que nunca antes tive intenção de te escrever. Escrevo-te agora porque o homem que neguei alguma vez ter amado está dentro de mim e tenta fazer-se ouvir, o cadáver que trago comigo ainda está por enterrar. Antes de vir para a esta secretária sentei-me no vão da janela a ver o dia a declinar. Tinha acabado de ler a notícia do teu obituário no jornal. As árvores frondosas do outro lado da rua recortavam-se negras contra os últimos raios de sol e um bando ruidoso de pássaros descrevia círculos disputando um poiso para a noite. Pensei em ti, mas as lágrimas não caíram como se os meus olhos fossem duas fendas compridas, estreitas e vazias.» Ana Cristina Silva
«Reclinado na minha secretária preparava-me para fechar esse capítulo.
Mas não, foi-me impossível. Tal como Vergílio F. à sua «mulher», esta primeira carta que te vou endereçar, seguida de muitas outras, não servem de desculpa mas de gratidão: por teres, mesmo que apenas num momento, partilhado comigo o mesmo espaço; por me teres permitido sorver esse espaço denso onde vives e me teres dado o privilégio de me abrires um pouco a «porta da tua casa»
Mas esse momento tão à distância, mas simultaneamente tão perto, foi tão especial, que é como se o tivesse partilhado contigo até à infinidade.
Quem ama partilha e confia, é certo! E a confiança certa que eu tinha no meu amor por ti, como se tivesse encontrado finalmente uma alma gémea com as mesmas angústias, os mesmos desejos, os mesmos prazeres, a mesma paixão, a mesma revolta, deitei-a a perder com um ato irrefletido, adolescente, só explicável por uma paixão em forma de nuvem, capaz de chegar ao sol e à lua.
Quem ama de uma forma tão aparentemente estranha, de uma forma destas tão apaixonada e desprendida, merecia outra sorte, talvez, ou talvez até mereça punição e castigo.
Mas, meu amor, que seja breve, tu sabes que eu te queria elevar ao céu como minha rainha e este tempo de espera é como uma dor e um castigo indizível. Tu sabes que eu queria que fossemos elevados à fasquia de uma paixão como Miguel e Maria, como Simone e João Paulo, como muito outro amantes no seu amor e na sua paixão à escrita... 

aceito o veredicto, é certo minha amiga, mesmo que não me conforme, mas dá-me ao menos o privilégio de poder partilhar do teu castelo e da tua mão amiga» PAS


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