Citações:

Sem o direito natural não há Estado de direito. Pois a submissão do Estado à ordem jurídica, com a garantia dos direitos humanos, só é verdadeiramente eficaz reconhecendo-se um critério objetivo de justiça, que transcende o direito positivo e do qual este depende. Ou a razão do direito e da justiça reside num princípio superior à votante dos legisladores e decorrente da própria natureza, ou a ordem jurídica é simplesmente expressão da força social dominante
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

A CARTA



 «— Hoje, sonhei, marido. 
— Sonhaste com o quê, mulher?  
— Sonhei com uma criança que dizia para parares. 
— Para parar? Uma criança? Quem? O Zézinho?  
— Sim, o Zézinho, marido!
Maria Isabel... , moradora em Lisboa na Avenida 5 de Outubro nº 321 r/c., viúva do Capitão de Artilharia e Engenheiro Químico Ramiro..., vem apelar para os elevados sentimentos de V.Exª., expondo muito respeitosamente o seguinte: Meu marido, por virtude dos seus conhecimentos técnicos de engenheiro químico, prestou serviço na Fábrica de Pólvora de Barcarena desde 1925 até 1937, tendo falecido em Novembro desse ano. Como engenheiro da fábrica trabalhava na preparação e estudo de explosivos (tendo sido ele até quem procedeu ao exame dos restos da bomba utilizada no criminoso atentado contra V. Excª.) e, antes do seu falecimento, dedicava-se especialmente a um estudo sobre gazes (asfixiantes). No decorrer desse estudo teve várias intoxicações, sendo a última provocada pelo cloro, poucos dias antes de adoecer. A seguir a essa intoxicação sobreveio-lhe uma septicemia falecendo, depois de um sofrimento atroz, decorridos dez dias. Esses estudos e experiências eram realizados sem uma máscara ou outra qualquer defesa contra as intoxicações a que estava permanentemente exposto. Daí a ter acabado por sofrer a sepse que o vitimou, chegando a ter deitado, em convulsões, os pulmões aos bocados. Sofreu horrivelmente. Meu marido conservou até ao fim da vida uma perfeita lucidez e a consciência nítida das causas do seu mal. E, tanto assim que à hora de Deus o levar deste mundo, benzeu-se e disse: "Morro Cristão e morro pela minha Pátria"»
© (Pedro A. Sande; A Carta) 

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