Citações:

Sem o direito natural não há Estado de direito. Pois a submissão do Estado à ordem jurídica, com a garantia dos direitos humanos, só é verdadeiramente eficaz reconhecendo-se um critério objetivo de justiça, que transcende o direito positivo e do qual este depende. Ou a razão do direito e da justiça reside num princípio superior à votante dos legisladores e decorrente da própria natureza, ou a ordem jurídica é simplesmente expressão da força social dominante
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)

sábado, 13 de julho de 2013

Homicídio na Câmara Municipal

Duas horas dentro de uma banheira e, puf… o que restava do «Homicídio…» foi pelo ralo, ficando o “onde está ela, a Leonor?” Num primeiro momento ainda procurei um indício de continuidade, mas rapidamente penso ter percebido um trilho a desbravar (e a optar) da responsabilidade do leitor.  Li-o devagar, devagarinho… uma semana. Ao contrário de outros, onde as tramas se esgotam em duas noites e se misturam irremediavelmente com jorros de ideias irradiando dos livros como lamparinas mágicas de Aladino - espécie de subtramas interrompendo por breves momentos como interruptores, mudando de rumo, mesmo que a leitura avance e deixe largos espaços em branco da sua memória. O «Homicídio na Câmara Municipal» tem algumas bengalas provisórias que me fizeram sorrir, aquilo que em ambiente de formação se sabe ser uma inevitabilidade, um recurso, em simultâneo um «pain in the ass», mas também um apoio seguro: o terrível «escorreito», o simples «escarninho» e o incansável… «músculo cardíaco». Este último como um tecido que senti recorrente, privilegiada e posteriormente em José e no anjo do malvado franciú.
Reparo de um distraído abengalado na formação no, «portanto», «facto», «ok» - que não passou despercebido. Algo entretanto completamente benigno, que menciono tão só como curiosidade, porque as nossas bengalas são uma espécie de ADN da linguagem escrita e verbal, que fazem um «switch» quando mais precisamos.
Gostei também muito de uma frase colocada a páginas 60, «afinal o que sabe o presidente da Câmara Municipal…?» porque confirma aquilo que penso sabermos: sabem tão pouco os decisores dos seus eleitores e colaboradores, como muitas vezes nós, personagens singulares, dos nossos outros semelhantes. O espaço do conhecimento é pois assim um espaço de alinhamento da distorção. Achei ao longo da trama também curiosa a observação do poder como um afrodisíaco.
Como adoro sublinhar passagens, marquei também um termo que nos lembra que “a nossa escrita somos nós”, mas, acima de tudo, as nossas circunstâncias: o «desvio colossal», da página 132. Como devia a autora, como quase todos nós, estar nesse dia enquanto elaborava a trama do seu «Homicídio…»? Calculo, aborrecida com os falhanços das previsões de um eventual actual vizinho de uma outra Câmara, que se delicia por estes dias com a leitura do «financial times».
Como presumo quase todos os teus leitores, divido-me entre Leonor e a sua rival, embora a ascensão de Maria das Dores à Procuradoria me tenha enchido as medidas… Não havendo neste mundo anjos e demónios, que algumas das nossas dores sejam por uma vez levadas a Maria ou seja, neste caso, à Procuradoria - Geral, daquilo que ainda é uma república.
Em conclusão, diria que confirmava em linha recta a minha primeira impressão em diagonal e, a muita assertiva análise de Salvato, um dos apresentadores no dia do lançamento da obra em Lisboa.
  

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