Duas
horas dentro de uma banheira e, puf… o que restava do «Homicídio…» foi pelo ralo,
ficando o “onde está ela, a Leonor?” Num primeiro momento ainda procurei um
indício de continuidade, mas rapidamente penso ter percebido um trilho a desbravar
(e a optar) da responsabilidade do leitor. Li-o
devagar, devagarinho… uma semana. Ao contrário de outros, onde as tramas se esgotam
em duas noites e se misturam irremediavelmente com jorros de ideias irradiando
dos livros como lamparinas mágicas de Aladino - espécie de subtramas
interrompendo por breves momentos como interruptores, mudando de rumo, mesmo
que a leitura avance e deixe largos espaços em branco da sua memória. O
«Homicídio na Câmara Municipal» tem algumas bengalas provisórias que me fizeram sorrir, aquilo que
em ambiente de formação se sabe ser uma inevitabilidade, um recurso, em simultâneo
um «pain in the ass», mas também um apoio seguro: o terrível «escorreito», o simples
«escarninho» e o incansável… «músculo cardíaco». Este último como um tecido que
senti recorrente, privilegiada e posteriormente em José e no anjo do malvado
franciú.
Reparo
de um distraído abengalado na formação no, «portanto», «facto», «ok» - que não
passou despercebido. Algo entretanto completamente benigno, que menciono tão só
como curiosidade, porque as nossas bengalas são uma espécie de ADN da linguagem
escrita e verbal, que fazem um «switch» quando mais precisamos.
Gostei
também muito de uma frase colocada a páginas 60, «afinal o que sabe o
presidente da Câmara Municipal…?» porque confirma aquilo que penso sabermos:
sabem tão pouco os decisores dos seus eleitores e colaboradores, como muitas
vezes nós, personagens singulares, dos nossos outros semelhantes. O espaço do
conhecimento é pois assim um espaço de alinhamento da distorção. Achei ao longo
da trama também curiosa a observação do poder como um afrodisíaco.
Como
adoro sublinhar passagens, marquei também um termo que nos lembra que “a nossa
escrita somos nós”, mas, acima de tudo, as nossas circunstâncias: o «desvio
colossal», da página 132. Como devia a autora, como quase todos nós, estar nesse dia
enquanto elaborava a trama do seu «Homicídio…»? Calculo, aborrecida com os
falhanços das previsões de um eventual actual vizinho de uma outra Câmara, que se delicia por estes dias com
a leitura do «financial times».
Como
presumo quase todos os teus leitores, divido-me entre Leonor e a sua rival,
embora a ascensão de Maria das Dores à Procuradoria me tenha enchido as medidas…
Não havendo neste mundo anjos e demónios, que algumas das nossas dores sejam
por uma vez levadas a Maria ou seja, neste caso, à Procuradoria - Geral, daquilo
que ainda é uma república.
Em
conclusão, diria que confirmava em linha recta a minha primeira impressão em
diagonal e, a muita assertiva análise de Salvato, um dos apresentadores no dia do lançamento da obra em Lisboa.
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