Citações:

Sem o direito natural não há Estado de direito. Pois a submissão do Estado à ordem jurídica, com a garantia dos direitos humanos, só é verdadeiramente eficaz reconhecendo-se um critério objetivo de justiça, que transcende o direito positivo e do qual este depende. Ou a razão do direito e da justiça reside num princípio superior à votante dos legisladores e decorrente da própria natureza, ou a ordem jurídica é simplesmente expressão da força social dominante
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)

terça-feira, 2 de abril de 2013

O Padre E Os Pincenês

Ontem a Rosário «chamou-nos» a atenção – obrigado, Rosário! – para, «O Padre». Não conheço do «padre» (o Nosso papi) todas as obras, mas há pouco tempo tive a vontade de me documentar e ler parte da sua obra: e isto antes de Francisco, o Franciscano pobre, amigo dos animais e dos pobres, a única igreja despojada que reconheço e com quem me quero dar.
Obra extraordinária de um século que a história não dá como extraordinária – mas o que sabe a história se não atravessou mares como António a bordo de frágeis «naus», nem viveu a epopeia humana de quase um século de António Vieira?
Desse interesse de um padre que foi homem, diplomata, escritor, ator, que foi amado, tentado, idolatrado, odiado, perseguido, invejado, saiu um romance já há algum tempo terminado (a marinar, como até o alimento do espírito necessita para ganhar algum sabor) que talvez um dia veja a luz do dia - mais não seja em fascículos de/na rua, quando o autor bater de porta em porta num Portugal desmaterializado (empobrecido nunca, que só é pobre o doente, o inválido – quantos pobres plenos de material, como diria a Rosário, «caminham contra nós, na nossa direção», acrescentando eu, «não colocando no entanto os seus olhos em nós, muitas vezes pelo fumado dos vidros, atropelando-nos de encontro às nossas esquinas?!») de um século até agora esvaziado e que os historiadores recordarão no futuro como um século não extraordinário.
Do meu capítulo anteprimeiro fica um extrato - como eu gostei à imagem do padre de ter um capítulo anteprimeiro – consta, assim, não servindo de sermão a este século onde só os peixes parecem ter inteiro o siso:  
«Se eu falei há pouco do pincenês de Benjamin Franklin foi porque tenho de me confessar sobre o que penso ser o meu maior pecado. O meu maior pecado não foi nem ser Sebastianista, nem putativo Bandarrista, nem ter oficiado sermões ou sido profeta na minha terra ou em qualquer outra, nem ter negado e escondido as visões que me atormentaram por mais de trinta mil noites (nota de autor: isto obrigou-me a uma matemática simples, mas mesmo assim uma aritmética que até meteu prova dos nove), nem entornar um copito a mais na taberna, nem por gostar de uma vida sossegada e contemplativa, nem por gostar e respeitar a natureza, nem por ajudar a proteger os gentios do Brasil com actos (n.a.: na revisão imposta deste século leia-se atos, escreva-se, por enquanto, como se quiser), nem contra a barbárie de alguns colonos e senhores dos engenhos do açúcar, nem por usar o pensamento contra outras injustiças perpetradas em África e Ásia, (…)»

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